Como fizemos com o especial de filmes e ovas de Dragon Ball, retomamos as análises dos filmes e afins de Dragon Ball Z, falando de forma cronológica, levando em consideração quando foram lançados. Lembrando que a maior parte desses filmes, com exceção de A Batalha dos Deuses e O Renascimento de Freeza, não são canônicos e tem pouca participação de Akira Toriyama na trama, sendo roteiro pensado pela Toei, fato que faz com que a maioria não tenha muito viés cronológico dentro do seriado.
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Devolva-me Gohan ou Zona Mortal
Daisuke Nishio conduz o filme que começa com um gemido de Piccolo, se preparando para mais tarde tentar enfrentar Goku. Se passam cinco anos após os eventos finais de Dragon Ball (Dragon Ball – Parte 3: O Rei Demônio Piccolo Daimaoh), após a vitória de Goku no Torneio de Artes Marciais. O nome original do filme lançado em 1989 é Ora no Gohan o Kaese!!, e possui 41 minutos de duração.
Gohan é mostrado com sua mãe, Chichi, estudando como ela gostava de fazer. Ele aparentemente não sabia lutar ainda, o que põe este especial cronologicamente antes da chegada de Raditz a Terra, apesar de algumas contradições. Logo, o vilão Garlick Jr aparece próximo de Gohan, golpeando o Rei Cutelo e a mãe do garoto para pegar a esfera de quatro estrelas. A contradição maior aí é que Goku encontra seus amigos e fala de Gohan, que só foi apresentado no piloto do anime.
O filme perde um tempo precioso mostrando Gohan brincando no castelo do inimigo, dando trabalho aos capangas de Garlick, ao provar uma maçã mágica que o faz ficar embriagado, passando então a brincar com fantasias de criaturas coloridas, semelhantes a aves, dinossauros e outras viagens de ácido. O vilão não demora a conseguir fazer seu pedido de vida eterna, basicamente para desafiar Kami-Sama, uma vez que o Garlick Senior competiu com o alienígena pelo posto de deus da Terra anos atrás.
Kuririn sofre uma mijada (literalmente) do bêbado Gohan, seria impossível não lembrar que isso aconteceu, fato que ironicamente comprova o não pertencimento do filme a cronologia, já que ser urinado pelo filho de seu amigo certamente seria lembrado pelo lutador budista. De positivo, há o discurso malévolo de Garlick Jr convocando os demônios a saírem de suas tumbas para provocar o mal em quer que se opusesse a eles, em uma postura parecida demais com a de Piccolo Daimaoh.
Garlick não é um personagem forte, apesar de imortal e as lutas não são muito emocionantes. A carga dramática é maior pela destruição do local da luta e pelo vácuo do vórtice da tal Zona da Morte que aparece do nada. O deus ex machina mora na catástrofe e isso por si só já demonstra o quão desimportante é o filme no final das contas.
O Homem Mais Forte do Mundo
Kono Yo de Ichiban Tsuyoi Yatsu foi lançado em 1990, e começa nas planícies geladas de Tsurumai, onde Piccolo é mostrado, para logo depois passar a Gohan e Oolong procurando as esferas do dragão, que estavam se reunindo em quatro, de maneira misteriosa. O menino usa roupas iguais as de Piccolo o que faz pensar que isso se passa pelo menos na época em que eles já se encontraram e viraram pupilo e discípulos.
Shenlong é convocado para ressuscitar o Doutor Willow, que está com o corpo preso naquelas geleiras há muito tempo. Nishio também conduz esse produto, que começa promissor, mostrando umas criaturas estranhas surgindo e enfrentando o alien verde, e que faziam lembrar os saibaimans, sendo na verdade robôs. O começo aparenta mostrar eventos depois da morte de Goku contra Raditz, mas o pai do rapaz é mostrado logo depois, fato que demonstra que não há qualquer necessidade de incluir esta produção na cronologia do anime. Inclusive há cenas de Piccolo se sacrificando com o golpe de Nappa que acertaria Gohan.
Os malfeitores, liderados pelo assistente de Wilow, chamado de Dr Kochin, procuram o sujeito mais poderoso da Terra e acharam que ele era Kame. O plano de transferir a mente do cientista para um corpo forte é mirabolante e muito bobo, feito por homens que só desejam a destruição e nada mais, em uma tentativa besta de dominação mundial. Há uma cena musical, em que Gohan comemora a presença de Piccolo e isso destoa totalmente do restante do filme.
Goku usa o Kaioken para vencer um dos robôs assassinos, o que não faz muito sentido, outra coisa que não faz sentido é o dublador Wendel Bezerra ter chamado o Bastão Mágico de Varinha Sagrada. Goku termina tentando dar uma genki dama em seu adversário, mas em uma versão pequena e fraca. Não há nenhuma luta interessante ou trama digna de nota, o que é uma pena, pois o filme apesar de não conseguir ser encaixado de qualquer forma na cronologia da série, ainda assim parecia ter potencial para ser algo realmente primoroso.
Dragon Ball Z: O Filme ou A Árvore do Poder A Maior Batalha de Todos os Tempos Está Para Começar
Quando estreou nos cinemas brasileiros em 14 de julho de 2000, tinha o nome de Dragon Ball Z: O Filme – o que faz sentido, pois ele tem 60 minutos de duração, maior que os outros, e depois ganhou o nome de batismo para o lançamento em VHS. Na trama, Oolong, Kuririn, Bulma e Gohan estão acampando, em um clima despreocupado.
O filme de nome original Chikyū Marugoto Chō-kessen foi lançado em 1990 no Japão, e seu chamado a aventura começa quando um estranho cometa corta o céu. Nele, esta um grupo de piratas espaciais, liderados por um sujeito misterioso, chamado Tullece, que tencionam achar um planeta onde plantar uma árvore estranha, a Árvore Sagrada. Eles comemoram as condições do planeta e o fato de Kakaroto não ter destruído o mundo, assim a planta que sugaria toda a vida do planeta pode ser implantada.
Esse filme não poderia acontecer na cronologia, porque a essa altura Goku também deveria estar em Namekusei, por isso ele inteiro soa como um filler contraditório. Todos os guerreiros Z, incluindo Kame vão até a casa de Goku, em uma rara reunião no lugar onde o principal herói reside. Lá eles são avisados por Kaioh Sama do perigo da árvore, e tentam destruí-la.
Logo, Tullece aparece, e ele é quase idêntico a Goku, com exceção de dois fatos, sendo o primeiro que ele é na verdade um conquistador de mundos independente de Freeza, e segundo que ele come os frutos da árvore, que faz com que ele fique muito mais forte que seu adversário. A Toei fez uma contra-parte malvada do herói para mostrar como poderia ter sido se Kakaroto conquistasse a Terra como mandava o protocolo Sayajin, o problema sério é que fora Tullece, todos os outros capangas são genéricos e muito fracos. De novo há uma tentativa de solução final via genki dama, e a completa ausência de carisma nos personagens novos faz com que tudo aqui pareça extremamente genérico.
Bardock, o Pai de Goku ou A Batalha de Freeza Contra o Pai de Goku
O primeiro OVA de DBZ chamava-se Doragon Bōru Zetto: Tatta Hitori no Saishū Kessen e foi lançado em outubro de 1990. O pequeno Goku nasce, e Bardock não faz menção de voltar ao seu planeta natal para ver seu caçula, uma vez que ele nasceu com um nível de poder baixo. O saiyajin está acompanhado de seus asseclas, e recebe o golpe de um dos habitantes de Kanasa, onde o morto que tinha uma capacidade de premonição, o amaldiçoa.
A dublagem desse especial é bizarra, uma das mulheres claramente tem voz masculina, assim como Nappa tem uma voz diferente daquela do anime, sai Guilherme Lopes e entra Alfredo Rollo que faz a voz de Vegeta no desenho seriado. Como o príncipe dos SJs aqui é uma criança, ele não foi exigido, mas ainda assim é bizarro notar isso.
Bardock é mostrado como um sujeito impetuoso e cruel, diferente do retcon que faria depois, no especial de Bardock e no mangá de Toriyama Dragon Ball Minos. Sua elite é formada por Toma, Seripa, Toteppo e Panbukin, aliás, Seripa é a prova viva de que a raça saiyajin (ou SJ) tem pessoas do sexo feminino.
Nesse especial, em meio as alucinações do protagonista, há cenas de Goku encarando Freeza, fato que ainda não havia ocorrido no decorrer do anime. O especial para vídeo termina de forma trágica, Bardock perece (aparentemente, pois isso seria revisitado mais tarde) e logo depois pede a seu filho que vingue seu povo. Apesar de mostrar um plano de fundo bem legal sobre como funcionava o dia-a-dia da raça de Goku e Vegeta, a dramaticidade é fraca e não faz sentido na maior parte da confusão mental e sentimental de Bardock, ainda assim é bem melhor que qualquer outro produto fora do anime/mangá lançado pela Toei até então.
Goku, o Super Saiyajin ou Lorde Slug
De nome original Sūpā Saiya-jin da Son Gokū, lançado em 1991. Uma estrela vem na direção da Terra, e os heróis tem de desvia-la, mas sem destruí-la, correndo o risco de acabar as condições de vida no planeta, e claro, tendo alvo principal a Cidade do Oeste, que seria a principal metrópole da mitologia de Toriyama. Ao entrar na atmosfera, mesmo com os esforços de Goku e Kuririn, eles não conseguem deter a entrada do corpo celeste, e maremotos acontecem, além de outros eventos catastróficos de pequeno porte.
Na verdade, aquilo que entrou no planeta era uma nave invasora, liderada pelo vilão Senhor Slug. O filme de 51 minutos tem o cuidado de não dar muitos spoilers do anime/mangá, por isso não há o acréscimo de Vegeta como personagem fixo, uma vez que ele só se aliou a pouco tempo aos heróis na série animada. O vilão, ao se revelar mostra ser um namekusenjin, de porte grande, alto e mais forte até que Piccolo. Ele procura as esferas do dragão, após uma dica de Bulma, as pega e deseja a juventude eterna.
Os capangas genéricos de Slug fazem lembrar demais os demônios de Daimaoh. O filme se calca demais no sensacionalismo. Slug só se revela um nameki faltando pouco para o final, e depois de Goku atingir uma transformação de pseudo super saiyajin, conhecida como Fake Super Saiyajin pelos fãs, além disso, em um contato telepático, Kaioh Sama diz que Slug seria mais forte que Freeza. Vale lembrar que esse Fake SSJ foi mostrado antes do real Super Saiyajin no anime. O vilão fica gigante, como Piccolo fez antes, aliás é o antigo adversário de Goku que consegue atingir um ponto fraco do antagonista da vez, arrancando as próprias orelhas e pedindo para Gohan assobiar, porque isso supostamente derruba os namekuseijin. A solução deus ex machina é desnecessária e muito infantil.
Ao assistir Doragon Bōru Zetto: Sūpā Saiyajin da Son Gokū, se percebe que ainda não foi dessa vez que um dos especiais de DBZ acertou, seu vilão é fraco e tenta parecer super forte, as lutas são genéricas, há pouca ação dos outros guerreiros Z, não se teme realmente pela vida dos que aparecem e não há qualquer charme nos personagens novos, tampouco carisma.
Uma Vingança para Freeza ou Os Rivais Mais Fortes
De nome original, Doragon Bōru Zetto: Tobikkiri no Saikyō tai Saikyō foi lançado em 1991, curiosamente antes mesmo da morte de Freeza no anime, ou seja, Uma Vingança Para Freeza contém mais spoilers sobre a saga. O especial começa na destruição do planeta Vegeta, com Koola (ou Cooler ou Kooler, não me preocuparei com a grafia, pois de acordo com os fãs a grafia é discutível até hoje para esse e outros nomes) observando a nave de Kakaroto indo para a terra. Ele permite que isso aconteça, mostrando que não é exatamente o melhor planejador do universo.
Já no presente, Cooler decide ir a Terra, interceptar Goku e seus amigos. O grupo de elite do vilão faz uma coreografia bem semelhante a das forças especiais Ginyu, inclusive recebendo o mesmo prefixo, de Forças Especiais Koola. Aliás, demora muito para começar uma luta com o real vilão.
Não há a presença de Vegeta aqui, provavelmente porque cronologicamente, o especial se passa após ele tomar a nave que o pai de Bulma construiu, a fim de treinar. O filme tem 47 minutos, dos quais só há luta entre antagonista e herói nos 17 finais. Meia hora de enrolação, imitando o que é típico da saga Freeza. Aliás, a voz de Cooler na dublagem brasileira é a mesma de Freeza, de Carlos Campanille, que também faz a voz do narrador dos torneios.
Finalmente um vilão à altura de Goku aparece nos filmes. O irmão mais velho de Freeza, o primogênito é tão mais hábil que tem uma nova forma, uma quinta, anterior a de Golden Freeza e bem diferente visualmente desta. Seu design desenhado por Toriyama é bem legal.
Infelizmente, a primeira grande batalha dos filmes é curta e sem um clímax minimamente bem encaixado. Apesar de arrogante e estiloso, Cooler não é páreo para o Goku, e faltou um roteiro uma melhor exploração do potencial do personagem, o que é uma pena, porque esse é o filme que mais se aproxima de ser algo minimamente bom, ao menos até então.
O Retorno de Koola
De Daisuke Nishio, Doragon Bōru Zetto: Gekitotsu!! Hyaku-Oku Pawā no Senshi-tachi mostra o retorno do irmão de Freeza, Kooler, aparentemente com uma forma de cyborg metálico, bem melhor construído que a versão hibrida com máquina de seu irmão. Foi lançado em 1992 entre os episódios 129 e 130 do anime.
A contradição junto ao seriado começa pelo fato de Piccolo aparecer aqui, enquanto deveria estar lutando contra 17 pouco antes de Cell absorve-lo, e isso se dá porque Vegeta e Goku se transformam em SSJ enquanto Gohan ainda não o faz, ou seja, ele não entrou ainda na sala do tempo e conseguiu atingir sua nova fase. Outra contradição monstruosa é que Dende já é o Kami-Sama da Terra, e é ele que revela aos guerreiros Z que a nova nameki foi invadida por uma nave/máquina estranha.
Essa invasora é uma estrela, chamada Estrela Gete (a pronuncia adotada no Brasil foi Bigue) e foi ela que encontrou Kooler vagando pelo espaço, semelhante a quando o Rei Cold encontrou Freeza. Essa repetição de arco soa infantil e oportuna demais, bem como as lutas que ocorrem no planeta quando os sayajins e demais guerreiros viajam pelo espaço. Basicamente só se enfrenta Metal Kooler, para depois, aparecer centenas de “clones” dele, na verdade, sendo só autômatos, organizados pela estrela/nave para capturar a energia dos adversários. Tudo ali foi feito como uma armadilha, para atrair Goku e os outros a fim de capturar suas forças a seu favor.
Vegeta e Goku são presos dentro do compartimento da estrela, onde sofrem o roubo de suas forças, e onde se mostra a real aparência de Kooler, somente uma cabeça flutuante. Sem falar que a exploração dos robôs como antagonistas, sejam os mais baixos como os Metal Kooler é demasiado mal feito, e a tentativa de emular o que dava certo na animação seriada simplesmente não funciona, pois esses robôs daqui não tem personalidade como as criações de Maki Gero.
Além do mais, apesar de ter dado mais trabalho aqui, Kooler aparentava ser mais ameaçador no filme anterior, e consegue ser derrotado de uma forma ainda mais esdrúxula do que no capítulo passado, o que é uma pena, pois ele tinha potencial para ser algo a mais do que uma cópia.
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