Review | Les Revenants – 1ª Temporada
Em uma cidadezinha (convenientemente sem nome) no interior da França, dominada por uma barragem, algumas pessoas que morreram há anos reaparecem como se nada tivesse acontecido. Pessoas de várias idades, falecidas em épocas diversas, que pretendem continuar suas vidas do ponto em que pararam e se reintegrar ao meio em que viviam. Ninguém sabe por que voltaram e por qual motivo especificamente essas pessoas retornaram. Enquanto isso, a cidade enfrenta alguns eventos incomuns: quedas de energia inexplicadas, diminuição do nível de água do reservatório, animais mortos no lago.
A série é uma adaptação do filme homônimo dirigido por Robin Campello e, à primeira vista, parece ser um mix entre 4400 e The Walking Dead – ou qualquer série sobre zumbis. Mas é bem mais que isso. Não há qualquer explicação sobre o que fez essas pessoas retornarem e, diferente do que se pensaria, este não é o foco. Assim como em In The Flesh, o roteiro se concentra na experiência de cada um dos “revenants” (os que voltaram), em sua dificuldade de entender e aceitar a situação atual, como também a de seus familiares e conhecidos.
O primeiro episódio consegue envolver o público desde o princípio, iniciando praticamente in media res, com um acidente de ônibus durante uma excursão escolar. Sem qualquer dica para o espectador sobre o que houve, vemos a adolescente Camille (Yara Pilartz), que estava no ônibus, se apressando em voltar para casa. Sem exageros dramáticos nem histrionismo, a paleta azulada, a fotografia primorosa e a trilha sonora (sob responsabilidade dos escoceses do Mogwai) complementam a intensidade do roteiro, gerando um clima claustrofóbico e tenso. A falta de quaisquer explicações nos episódios iniciais é bem aflitiva, mas o roteiro consegue manter a fluidez da narrativa, atingindo plenamente o objetivo de fazer o espectador ficar curioso o bastante para continuar assistindo.
Cada episódio leva o nome de um dos que voltaram – não se atendo apenas a ele -, e o espectador fica sabendo, aos poucos, o que aconteceu aos personagens, em que circunstâncias morreram e quais as conexões entre eles. Os flashbacks não são excessivos e estão inseridos de forma bastante orgânica, geralmente no início dos episódios, não prejudicando o ritmo e a evolução da narrativa. E, sim, a exemplo de Lost, é possível montar uma rede de relacionamento conectando os personagens “mortos” e vivos entre si.
Um dos atrativos da narrativa é esse: ir descobrindo em que grau e de que forma os personagens estão relacionados. Por exemplo, Julie (Céline Sallette) é uma enfermeira que foi atacada por um serial killer – Serge (Guillaume Gouix), um dos que voltaram. Ela acolhe Victor (Swann Nambotin), outro revenant, que foi morto há 35 anos junto à sua família pelo comparsa de Pierre (Jean-François Sivadier). Este, agora um religioso, é parceiro de Claire (Anne Consigny), mãe de Léna (Jenna Thiamcomo) e Camille, que morreu há quatro anos. E, à medida que a trama avança, essa rede vai se tornando ainda mais intrincada.
O elenco é algo que vale ser destacado. As atuações são concisas e contidas, transmitindo emoções em pequenos gestos, olhares, frases interrompidas. Destaque para Céline Sallette – a vida de Julie parece pesar-lhe nos ombros – e Swann Nambotin – em alguns momentos, Victor chega a ser sinistro em seu silêncio.
Se há alguma ressalva a ser feita é quanto ao desenrolar dos dois episódios finais. Alguns fatos parecem ter sido jogados sem qualquer cuidado em introduzi-los de modo a fazerem sentido no contexto. Lembra alguns filmes em que, faltando quinze minutos para o final, o roteirista percebe que tem de explicar tudo e amarrar todas as pontas deixadas soltas no decorrer da história. O ritmo da história sofre com essas inserções. Além disso, perde-se força narrativa ao serem adicionados, sem mais nem menos, elementos místicos e religiosos ao clima de mistério.
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Texto de autoria de Cristine Tellier.