Resenha | Deadpool: Meus Queridos Presidentes
Desde que o personagem foi criado em 1992 por Rob Liefield e Fabian Nicieza, a caracterização de Deadpool se manteve como uma figura cômica, irônica e clinicamente insana em tramas focadas em ação e humor. Eventuais renovações foram inseridas na passagem de novos roteiristas, os quais nunca deixaram de lado a vertente de um herói incômodo dentro do universo Marvel.
Desde a primeira aparição, a personagem se manteve presente na editora, porém nem sempre estrelando uma revista própria, destacando-se em histórias fechadas especiais. Desde 2011, a Panini Comics vem lançando frequentemente as histórias do mercenário tagarela. A primeira série da revista Deadpool alinhava duas revistas publicadas simultaneamente no exterior: Deadpool (2008) e Merc With a Mouth (2009). Parte da fase de Daniel Way, responsável pela revista de 2008, foi inicialmente publicada no país em X-Men Extra e somente fez parte do mix da revista própria na edição brasileira nº8. A partir de então, a fase foi concluída na segunda série da revista, com numeração zerada, em época em que a editora observava ser mais lucrativo a publicação de compilados do que mensais de certos títulos – uma vertente que também foi explorada com o Demolidor de Mark Waid e, atualmente, contempla parte das revistas da Nova Marvel.
O mercenário tagarela sempre foi um personagem difícil de se encaixar nas publicações no país. Após esta última revista própria, a personagem voltou ao mix de X-Men Extra na fase Nova Marvel. Escrito por Gerry Duggan e Brian Posehn, Meus Queridos Presidentes é o primeiro arco publicado na revista que ganha reedição em capa dura em sintonia com o filme estrelado por Ryan Reynolds. Da mesma forma, como na fase anterior, seu início foi publicado dentro de um mix para, em seguida, ganhar uma revista própria. É difícil compreender qual a estratégia da Panini ao lançar uma nova revista a partir de um arco específico, ainda que, provavelmente, atenderam a uma demanda do público, ou as primeiras histórias não tinham qualidade suficiente para se sustentarem em um título solo.
Ainda que a tônica bem-humorada se mantenha, incluindo a quebra da quarta parede e eventos exagerados diante de um personagem inserido na cronologia Marvel, o contexto da história é místico quando um necromante faz um feitiço que ressuscita os ex-presidentes americanos e a S.H.I.E.L.D. contrata os serviços do mercenário para conter este problema. O roteiro mantém a vertente cômica mas desenvolve-a em um estilo diferente da fase anterior de Way, um autor que explorava o quanto o personagem era chato e dissonante dos outros heróis sérios. Nesta nova fase, tudo é paródico e exagerado, fazendo com que o ritmo narrativo se perca a cada parte. Apesar de um bom início, a caça aos ex-presidentes transita de evento improvável a evento improvável, sem equilíbrio ou refreio neste exagero, deixando tudo hiperbólico.
Há citações e referências demais na fala de Deadpool e dos demais personagens, como se não houvesse filtro e todos os personagens fossem tão histriônicos e falantes como o mercenário, desde a equipe da S.H.I.E.L.D. até o sempre contido Doutor Estranho. A falta de contraposição de qualquer personagem com maior proximidade à realidade e que veja as situações como um absurdo compromete a narrativa. Deadpool sempre foi uma espécie de alívio cômico dentro da Marvel e hoje é quase obrigatório que suas histórias contenham um viés absurdo explorado cada vez mais em excesso. Em suas histórias de anos anteriores, por exemplo, Wade ao menos sentia dor enquanto o rápido fator de cura funcionava. Neste arco, tripas, pernas e sangue pulam de um quadro a outro e o tagarela permanece alheio a eles, uma tentativa mal executada de explorar a violência mas que soa pueril em excesso – como se vísceras fossem um recurso narrativo de violência estética que sempre traduz rentabilidade e um estilo cool.
A Panini tem sido coerente em lançar compilados de novas séries, bem como explorar a vertente de edições especiais em movimento semelhante ao mercado americano, que compila seus mensais em encadernados. Porém, apesar da popularidade que a personagem pode conquistar devido à adaptação cinematográfica, Meus Queridos Presidentes é um início ruim tanto como história de Deadpool, ainda mais considerando o sucesso da fase de Way, como também no projeto da Nova Marvel, a qual deveria ser um ponto de partida interessante para atrair novos leitores.
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