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  • Review | Hermes & Renato – 1ª Temporada (FX)

    Review | Hermes & Renato – 1ª Temporada (FX)

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    Após um período de esquetes bastante curtas, durante a Copa do Mundo de 2014 com interferências que giravam em torno de um minuto, além de participações na transmissão dos jogos da Copa, através da emissora esportiva do grupo de canais Fox, finalmente os planos de Hermes & Renato pareciam perto de se cumprir, com o acréscimo de uma temporada e contrato vigente para o canal a cabo FX. A morte de Fausto Fanti fez os planos correrem mais devagar, mas o antigo trio – agora quarteto – conseguiu ir ao ar, finalmente, a partir de 19 de novembro, nas noites de quinta-feira.

    A comoção em torno da morte do fundador e líder do grupo gerou uma gama de incertezas quase infinitas para público, emissora e possivelmente até para os humoristas. A falta de Fanti é deixada de lado um pouco, uma vez que os roteiros de todos os 12 episódios têm participação do antigo líder da trupe, bem como a participação no antigo piloto e na abertura, que mostra personagens clássicos em conflito com a Polícia Federal.

    O elenco prossegue com o trio restante, Marco Antônio Alves (que faz Hermes), Felipe Torres (mais conhecido por seu papel de Luis Boça) e Adriano Pereira (Joselito), acrescido de Franco Fanti, irmão de Fausto, que havia se afastado há algum tempo do programa, retornando na época da Copa.

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    O humorístico contém quadros fixos, como os do Doutor Drauzio Vareta (Torres) em Doenças Lokas, que faz piadas com doenças grotescas, parodiando o doutor Varella, bem como uma versão de Paulo Coelho, com o escritor Paulo Botelho (Alves), debochando de toda a linha de autoajuda que faz sucesso no mercado editorial no Brasil. Outra repetição engraçada é o programa Acredite Por Favor, no qual Luis Boça faz às vezes de Fausto Silva em um programa de curiosidades, recurso prometido desde a novela Sinhá Boça, sendo na verdade uma desculpa para repetir frases feitas, parodiando com parte do vocabulário típico dos paulistas.

    As esquetes continuam com um caráter mambembe e orçamento irrisório, se valendo de efeitos especiais terríveis para fazer a mesma graça que o público estava acostumado a consumir ainda na MTV. A atualização dos temas inclui chacota de figuras como o apresentador André Marques, e outros. O teor das piadas segue esdrúxulo, variando evidentemente de qualidade, como era comum nos antigos formatos do programa.

    A imitação de ícones do humor perdura nessa temporada, com referências claras a Monty Python Flyng Circus, em que a repetição é o fator de irritação maior, homenageando, através do quadro Obrigado Você, a clássica esquete do Spam. O retorno do Documento Trololó também é interessante, dada a desconstrução do formato, mais formal dentro da sua postura já boba, apresentando uma faceta obscura dos bastidores da TV e utilizando o extremo exagero de preconceitos e rotinas trabalhistas de quem faz a máquina da televisão funcionar.

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    Em alguns momentos, a repetição se torna presente, mostrando que a inspiração dos humoristas mudou bastante, sentindo bastante falta de seu integrante mais ativo. Em alguns episódios, há a participação de Bruno Sutter, inclusive em uma das péssimas esquetes, o Altas Drogas, que faz uma versão cocainômana do programa de Serginho Groisman. As paródias de famosos brasileiros sempre foram uma marca de Hermes & Renato, mas o nível da graça é baixo, pouco escrachado perto dos melhores pastiches, como na época do Palhaço Gozo e Cláudio Ricardo, ambos interpretados por Fanti, que conseguia equilibrar as piadas com uma postura mais séria, fato que se perdeu um bocado.

    A antiga característica de utilizar elementos da pornochanchada foi diluída junto com os personagens-títulos. Esse fator que supostamente amadureceria o conteúdo acaba por fazer perder grande parte da identidade do grupo. As melhores piadas acabam por ser as sutis e irônicas, escondidas nas estrelinhas ou no rodapé da página, mas ainda em menor profusão que o montante ruim de falas. Dentre essas imitações, as que mais funcionam são as ligadas ao Multi Xoxo, as quais zombam dos programas barulhentos de Paulo Gustavo, quando bordões e afetação máxima são a única fonte de piadas, segundo sua crítica.

    Apesar do cunho ainda juvenil da maioria dos roteiros, o programa consegue mostrar o quão ruim é a segregação de pessoas através da aparência. Ainda sobram boas sacadas, principalmente quando se critica os stand-up comedians brasileiros, que baseiam todas as suas piadas em estereótipos de sujeitos normalmente excluídos pela sociedade, ainda que grande parte das piadas de Hermes e Renato também se valha disso.

    A direção de Henrique Moreira demonstra renovação para a produção, mas também faz perder um pouco da ideia de ser um produto trash. A última das esquetes é com Gil Cone, interpretado por Fanti, em uma esquete macabra que trata de um crime envolvendo um repórter assassinado em meio a uma reconstituição de caso criminoso. A piada final com a ausência do fundador, que é evidentemente sentida, não traz de volta os momentos que rememoram a fase áurea do grupo, mas ainda permite algumas risadas, ainda que sejam por nostalgia e saudade.

  • Review | Fargo – 1ª Temporada

    Review | Fargo – 1ª Temporada

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    Um dos trabalhos mais ingratos que se pode ter no mundo do entretenimento é cutucar um clássico, seja por meio de reboot, remake, ou transposição para uma outra mídia. Como então mexer em Fargo, o excelente filme dos irmãos Coen, que aqui produzem a série. Fargo, o filme, conta a história de uma pequena cidade na Dakota do Norte onde uma série repentina de assassinatos é desencadeada pelo acordo desastrado de um vendedor de carros que planeja sequestrar sua esposa e assim conseguir o dinheiro do resgate de seu detestável sogro, mas que precisa lidar com as adversidades e inteligência determinada de uma policial grávida.

    E assim, tão inesperado quanto os acontecimentos da série, Fargo se estabelece como a melhor série de 2015, não só por concorrer a diversos prêmios, mas principalmente por conter aspectos cinematográficos com qualidade vista apenas em alguns poucos longas-metragens, quanto menos na TV.

    Simplesmente tudo parece estar no lugar, e o grande mérito desta ousadia está em no criador e roteirista da série Noah Hawley, que dirige o primeiro episódio e roteiriza os demais e faz um trabalho irrepreensível.

    Fargo se passa na pequena Bemidji, em Minesota, e conta a história de Lester Nygaard, brilhantemente interpretado por Martin Freeman (O Hobbit, e a série Sherlock Holmes), um agente de seguros inseguro e passivo, sem força para revidar a qualquer ataque que seja, inclusive de sua esposa que vive a compará-lo com seu irmão mais novo e bem-sucedido. Tragado pela cidade e sua mediocridade, Lester parece estar sempre à beira de um colapso emocional. Frágil, em certo dia reencontra um antigo colega da escola o qual relembra os episódios de bullyng que praticou contra Lester, bem como um breve enlace amoroso com sua esposa. Com medo, Lester acaba se machucando, e no hospital se depara com uma figura estranha com olhos de tubarão e personalidade cínica chamada Lorne Malvo. O personagem interpretado por Billy Bob Thornton (Papai Noel às Avessas, Na Corda bamba), magnético como sempre.

    Rapidamente numa conversa, Lester se abre e deixa em aberto a estranha proposta de auxílio através do assassinato de seu agressor. Mas este pequeno encontro desencadeia uma série de mortes que ultrapassam os limites geográficos.

    Tudo isso é investigado pela ainda jovem, mas brilhante Molly Solverson (Allison Tolman), que desata os nós e relaciona Lester com Lorne Malvo. Tudo isso com bom trabalho policial e inteligência, mas sem jamais ser levada a sério pela atrapalhada força policial da cidadezinha.

    Como uma extensão do filme original, a série estabelece a região e Fargo e seus condados como uma espécie de fenda moral, um local onde aquilo que pode dar errado certamente dará errado. Um cotidiano absorvente que por algum motivo se mostra quase surreal, inclusive ao analisar a cadeia dos acontecimentos. Outra característica trazida do filme é que existem pessoas extremamente lúcidas carregando a trama, permitindo que não haja qualquer tipo de raio de manobra para que o roteiro não subestime a força de sua narrativa e o espectador.

    A escala crescente de violência funciona como motor da trama, que mais do que envolver algum mistério, ou coisa assim, fala do desenvolvimento dos personagens, todos frente àquelas situações. Assim como o filme que deu origem à série não é sobre o que irá acontecer, mas sim como irá acontecer. Sem recorrer à pirotecnia ou tramas rocambolescas, tudo é relativamente simples de acompanhar, mas feito de forma a se comunicar continuamente com o espectador que poderá vir a ter empatia com qualquer um daqueles personagens em seus dilemas morais, pois exatamente todos os personagens da trama são muito bem escritos.

    Outro destaque está na escolha dos diretores, com destaque nos episódios 7 “Who Shaves the Barber?” na direção, que traz um humor inspirado e envolvente, bem como soluções de cena geniais; para o episódio 9 “A Fox, a Rabbit, and a Cabbage” que consegue alavancar ainda mais uma história que em nenhum momento empalidece e segue em frente com determinação ímpar, algo que pode enfraquecer no caso de algum ponto anti-climático. Aqui a série se coloca em um estado introspectivo, mas mantendo a força de sempre. E por fim, o Season Finale “Morton’s Fork“, que consegue amarrar toda a trama de maneira simples e extremamente recompensadora, novamente demonstrando que a luta moral com o acaso é parte inerente daquela região e a aura quase surreal da neve intensa, onde o clima inóspito marca a população que se perdeu no tempo e ainda acredita ser tão pura quanto a neve, mesmo que constantemente manchada pelo vermelho do sangue.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Review | W/Bob & David – 1ª Temporada

    Review | W/Bob & David – 1ª Temporada

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    Misturando pioneirismo dentro do formato de séries originais da Netflix, ao mesmo tempo em que  resgata o bom e velho formato de comédia via esquetes nonsense,  W/ Bob & David é um produto descompromissado com a moda atual.

    A abertura da série guarda uma abordagem hermética, como era a orquestrada por Terry Gilliam em Monty Python: Flying Circus. A primeira esquete sequer é realizada por Bob Odenkirk e David Cross, o que possivelmente embaralha o ideário do espectador, não deixando claro qual a ideia do seriado. A justificativa para a multiplicidade de assuntos são as viagens no tempo, fator ignorado ao bel prazer dos produtores e astros que, em alguns pontos, seguem uma cronologia mal engendrada de propósito, servindo para fazer ainda mais troça dos programas televisivos normativos.

    Como qualquer produto televisivo de entretenimento simples, há quadros que funcionam quase à perfeição e outros que sequer fazem rir, mas nada que seja particularmente comprometedor para a qualidade geral do produto. No segundo episódio, há mais uma versão de quebra da parede em que os dois atores e criadores da série explicam a platéia a intenção de seus momentos cômicos, envolvendo discussões esdrúxulas sobre a hipocrisia de realizadores brancos que resolvem falar sobre escravidão, como se fossem protagonistas de tal luta e, claro, fazem chacota das religiões extremistas, incluindo as dos próprios membros do elenco – cristianismo e judaísmo – se valendo dos detalhes esquisitos dos ditames sagrados pra fazer as gags comicas.

    A saudade de realizar um programa juntos como o que ia ao ar nos anos noventa, além da profunda amizade da dupla, fez a equipe se reunir para essa espécie de revival de Mr. Show with Bob and David. Há quatro episódios com um elenco de outros humoristas, normalmente composto por Jay Johnston, Brian Posehn, Paul F. Tompkins, John Ennies, entre outros, que interpretam papéis dos mais esdrúxulos possíveis, em frente a uma plateia de fãs. Após o decorrer dos episódios nonsense encomendados, há a exibição dos detalhes das esquetes, através de um making of que mergulha fundo nas influências dos humoristas e nas suas intenções enquanto realizadores.

    W/ Bob & David tem sucessos e fracassos em sua composição, servindo de alento aos aficionados pelo antigo programa, além de cercear a saudade de assistir os dois atores juntos em tela após tanto tempo, vez por outra apresentando ideias bobas, porém capazes ainda de gerar boas risadas na audiência.