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  • Crítica | Deadpool 2

    Crítica | Deadpool 2

    Como deveria ser, Deadpool 2 começa fazendo piada com as questões dramáticas vistas em Logan e no restante dos filmes da Marvel, zoando com a questão de o primeiro Deadpool ter tido uma classificação indicativa para adultos e o filme do mutante envelhecido também o ser. No entanto, como a metalinguagem que lhe é devida, essas referências são tratadas de maneira extremamente escrachada e engraçada.

    Apesar de ser ainda mais calcada na comédia, a versão que David Leitch apresenta possui algumas camadas de história que podem surpreender por ter uma profundidade não esperada, ainda mais se tratando de um filme baseado no personagem criado por Rob Liefeld. O início dessa nova aventura de Wade Wilson o coloca de volta ao status quo real de Deadpool nos quadrinhos, um sujeito que não pode ter tudo, em decorrência da natureza de seu trabalho.

    Ryan Reynolds parecia à vontade no papel em 2016, mas nesse ele está ainda mais afiado e afinado, não à toa ele é um dos roteiristas, junto a Paul Wernick e Rhet Reese, dupla responsável pelo texto de Zumbilândia e Vida. O filme é hilário do início ao fim, graças a um humor juvenil, repleto de piadas que apesar de primárias tem algum contexto minimamente inteligente e parodial em relação a cultura pop e ao exploitation dos super-heróis dos quadrinhos.

    Uma das preocupações em relação a história era como se comportaria a questão da X-Force e outros elementos do universo mutante em torno do que Deadpool faz e, apesar de não se levar a sério, o entorno é bastante rico, cheio de detalhes não só na presença de Colossus (Stefan Kapici), Negasonic Teenage Warhead (Brianna Hildebrand) e dos que habitam a Mansão X – que aliás, possui uma das melhores piadas rápidas dos últimos tempos – mas também dos coadjuvantes que acompanhariam Wilson. Tanto a Dominó de Zazie Beetz, quanto o Cable de Josh Brolin funcionam à perfeição, tendo performances engraçadas e sérias quando se exige cada uma dessas facetas. Ambos atores estão bastante à vontade, e em forma invejável, dado que suas piadas e cenas de ação são plenamente cabíveis.

    Uma das pontas soltas no final de X-Men: Apocalipse foi de certa forma solucionada aqui. Havia uma placa falando de Essex, que nos quadrinhos, é o alter ego do Senhor Sinistro, e apesar de não ser muito aprofundada nessa questão, ela é aventada no roteiro, e tem uma importância dramática forte, em tom denunciativo, ligado ao personagem Russell Collins, interpretado pelo jovem ator Julian Dennison. A fim de não atrapalhar a experiência de quem ainda não viu, não me aprofundarei nessa parte da trama, mas quase todas as surpresas que envolvem esse papel são muito boas, e guardam alguns fan services e inserções de personagens inesperados e que não soam gratuitos, apesar de serem aparições bombásticas.

    Deadpool 2 consegue ser mais escatológico e asqueroso que o primeiro e todo o elenco está muito confortável com isso. A quantidade de vezes que Wade se auto mutila é de se perder as contas e o modo como ele se recupera dessas feridas acrescenta ainda uma nova camada de piadas sujas e humor físico juvenil. Mais uma vez o conjunto de referências reverencia as obras citadas, mas também faz comentários sobre o quão previsíveis são os blockbusters atuais. O filme parece a mistura perfeita entre uma história original com elementos típicos dos filmes antigos de David e Jerry Zucker, com a diferença de que esse é realmente inspirado, como haviam sido os filmes da dupla com Leslie Nielsen, claro, com Reynolds no centro das articulações.

    O curioso na história do longa é que ela não possui um vilão central, ao contrario, as circunstâncias e as possibilidades de futuro é que fazem os antagonistas. Se há alguma maturidade certamente ela está na ausência de maniqueísmo nesse quesito, fato que faz com que toda a fantasia debochada do Mercenário Tagarela consiga estar tão bem humorada e tão exímia em falar de modo leve sobre sentimentos depressivos bastante pesados. As crises existenciais do personagem principal fazem sentido, aliás são até aprimoradas, se comparar com as alguns de seus arcos nos quadrinhos, sobrando então um produto metalinguístico e que consegue se vender bem como comédia descompromissada, aventura escapista ao estilo Marvel – apesar de ser produzido ainda pela Fox – e por fim, conseguindo superar boa parte da concorrência com a própria Marvel Studios, mesmo nas cenas pós créditos, mais interessante e engraçada que a maioria esmagadora das produções em Kevin Feige estava mais envolvido.

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  • Crítica | Deadpool

    Crítica | Deadpool

    Desde que foi anunciado, em 2014, o filme solo do controverso e falastrão Deadpool, os fãs de quadrinhos ficaram com sentimentos divididos. Se por um lado Ryan Reynolds já tinha interpretado o papel de forma ridícula no desastroso X-Men Origens: Wolverine, por outro os spots, imagens e depois trailers trouxeram um certo alívio ao mostrar que as origens do personagem seriam respeitadas. Mais do que isso: o filme parecia ser bom.

    Deadpool é um personagem criado nos anos 90 por Rob Liefeld (citado no filme) e Fabian Niciesa. Apesar de ter surgido como paródia do vilão da DC Exterminador, Wade Wilson logo ganhou uma personalidade própria, com um humor ácido e extremamente irônico, incapaz de levar qualquer situação a sério. Esse fato, e também o de ser mentalmente instável, o fez participar dos mais variados grupos de heróis dos quadrinhos da Marvel, mas também incapaz de permanecer lá. Esse fato torna sua trajetória nas HQ’s um tanto quanto errática.

    Nas telonas, o filme dirigido pelo novado Tim Miller mantém todas as características do personagem, o que irá agradar à maior parte dos fãs de filmes baseados em super-heróis, que começaram nos últimos anos a dar sinais de desgaste. Com baixo orçamento em comparação aos filmes do mesmo tipo, Deadpool se foca quase exclusivamente no protagonista, e Reynolds felizmente consegue carregá-lo inteiramente de forma competente. Ciente de suas limitações, sente-se bem à vontade no papel do personagem que satiriza tudo e todos à sua volta, os quais servem como escada para seu incessante repertório de piadas.

    Wade Wilson no filme é algo próximo de um “mercenário do bem”, que aceita pequenos serviços de pessoas comuns (geralmente não muito dentro da lei) em troca de pagamento. Em uma das noites em que passa no bar (que também funciona como o balcão de agendamentos de seus serviços) conhece Vanessa (Morena Baccarin), e a partir dali a vida de ambos muda para sempre. Porém, ele descobre que tem câncer terminal e tem pouco tempo de vida. Desiludido, recebe uma proposta de um misterioso homem prometendo curar seu câncer e lhe dar habilidades especiais. Wilson deixa Vanessa com pesar e se submete ao processo, que se mostra totalmente diferente do que havia imaginado, com sessões de tortura cujo objetivo era ativar um gene mutante nas cobaias e transformá-las em super soldados, tudo conduzido Por Ajax (Ed Skrein) e Angel (Gina Carano). Tal processo deforma Wilson fisicamente. Ao conseguir fugir, promete vingança e dedica sua vida a encontrar Ajax e fazê-lo reverter o processo que o deixou assim.

    Tudo isso é explicado ao espectador através de flashbacks que vêm e vão no início do filme enquanto Deadpool tenta capturar Ajax após uma implacável perseguição, que termina com a participação de outros X-Men, Colossus (Greg LaSalle / Stefan Kapicic) e Negasonic Teenage Warhead (Brianna Hildebrand), que buscam capturá-lo e tentar conscientizá-lo de que suas ações são irresponsáveis. Colossus inclusive garante uma ótima participação como o grandalhão forte, ingênuo e de bom coração em contraste com o escrachado Deadpool. Em alguns momentos sua ingenuidade chega até a lembrar Drex, de Guardiões da Galáxia. Sua luta com a personagem de Gina Carano também é um ponto alto do filme, inclusive mais interessante que o próprio combate entre Deadpool e Ajax, que, por não ser um vilão com muita profundidade, não deixa o espectador investido emocionalmente em seu destino. A grandiosidade um pouco desnecessária dessa batalha final também não ajuda, a não ser em criar um espetáculo visual que destoa da simplicidade do filme. Afinal, destruir tanta coisa assim é coisa dos Vingadores.

    Deadpool se encaixa bem nos tempos atuais, onde a seriedade sombria dos heróis da DC/Warner se contrasta com a linguagem divertida e engraçadinha dos heróis da Marvel. Neste contexto, ele chega justamente para tirar sarro de todos esses filmes e seus clichês, por isso funciona muito bem. As piadas com as escolhas do ator no passado, tanto de sua interpretação anterior do mesmo personagem quanto com o seu Lanterna Verde em 2011, são explícitas e tiram risadas do espectador antenado na cultura pop. As referências também passam pelos filmes do X-Men, de ambas as linhas do tempo, e de vários outros heróis, filmes e personagens icônicos da atualidade. Tantas referências acabam deixando o filme com um certo gosto enjoativo da preguiçosa série The Big Bang Theory, cujo roteiro inexistente é compensado justamente pela devoção dos fãs às referências ao que eles já conhecem. A sorte é que Deadpool ao menos tem uma história a ser contada e não se deixa levar por essa fácil saída.

    Mas é justamente em seu ponto forte reside um pequeno porém. O humor do protagonista funciona, mas é cômodo e em momento algum arrisca. As piadas sempre possuem o mesmo pano de fundo sem desafiar o espectador. Isso não é um problema em si, mas um filme que quer se destacar pela violência em si, poderia se arriscar mais neste quesito, tendo no roteiro um pouco mais de coragem. Alguém também poderia criticar avanços temporais, onde Wilson aprende sozinho a fazer uniformes e a conduzir investigações minuciosas sobre figuras grandes do submundo do crime, aparentemente do dia pra noite, mas por se tratar de uma adaptação totalmente fiel aos quadrinhos, e por ao mesmo tempo homenagear e satirizar esta mídia, essas sequências acabam integrando justamente o imaginário coletivo de tantos filmes de origem que já vimos com os mesmos clichês.

    Ao quebrar toda hora a “quarta parede” e conversar com o espectador da mesma forma que fazia nos quadrinhos (e ao mesmo tempo em que diz que faz isso), Deadpool subverte não só os padrões estéticos da onda recente dos filmes de herói da Marvel e DC, como também padrões narrativos. Ele nos lembra a todo instante que super-heróis são bregas, ultrapassados e infantis. E tudo bem ser assim.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.