Tag: David Leitch

  • Crítica | Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw

    Crítica | Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw

    A franquia Velozes e Furiosos começou bem diferente do que é hoje, para o bem e para o mau ela cresceu, angariou mais fãs e ganhou até status de cult graças aos bons diretores que aderiram a ela, e as participações especiais. Seu primeiro Spin Off de fato não poderia ser diferente, Velozes e Furiosos: Hobbs e Shaw tem David Leitch, o mesmo de De Volta Ao Jogo, Deadpool 2 e Atômica, e trouxe tanto Dwayne Johnson como o agente Luke Hobbs e Jason Statham como o espião Deckard Shaw, e já no início, se resgata a rivalidade entre os dois personagens, fugindo da cafonice ultra familiar vista no Velozes e Furiosos 8.

    O filme é tão pouco apegado a seriedade, que há uma espécie de teaser antes de sua exibição, mostrando os momentos mais testosterona de ambos personagens, isso tudo para relembrar o quão são brucutus e super humanos, antes de começar seu drama, e antes de introduzir seu vilão, Brixton, de Idris Elba, que de fato tem super poderes. Os dois heróis ao serem convidados para a tal missão tem a tela dividida, o diretor usa o humor para mostrar a rotina dos dois como se fossem gêmeos de mães e origens diferentes, e obviamente o roteiro de Chris Morgan trata de falar sobre as famílias e origens dos personagens, apelando para um sentimentalismo barato para justificar todas as cenas de ação, que aliás, são ótimas.

    As cenas de perseguição de carros estão ainda melhor construídas, há um senso de urgência grande e uma pequena reinvenção de dinâmica dado que a maioria delas ocorre na Europa, com outro tipo de mão, incluindo aí protagonismo na disputa entre carros e motos, fazendo valer inclusive o fator de super habilidades factuais dentro também do seguimento das perseguições.

    Há participações impagáveis, como a de Ryan Reynolds, que é infame e caricato na medida. O humor não é refinado, mas o crossover dos insultos, o deboche com o excesso de macheza nos filmes de ação recente, incluindo a franquia Velozes e Furiosos, carregando muito mais estilo que os outros. A escala de absurdos que é elevada é muito bem orquestrada por Leitch, que dá um renovo mesmo para os clichês mais antigos, como uso de mulheres bonitas para fortificar o lado machão indiscutível dos personagens. Ainda assim, o filme é comedido, e não coloca suas personagens femininas em trajes sumários de maneira gratuita, tanto Eiza Gonzalez quanto a co-protagonista que Vanessa Kirby faz não são tão hiper-sexualizadas.

    Toda a parte mais séria, com a seita Eteon do qual Brixton faz parte é estranha e mal feita, mas como o filme se leva pouco a sério isso não é um grande problema, ao contrário. Há um livre uso de sotaques fajutos, maquiagens das mais falsas possíveis e mais participações especiais. O longa é quase uma versão em carne e osso dos desenhos surtados ao estilo Animaniacs, desdenhando da ultra violência e não se importando em nada com as passagens de tempo bizarras e grotescas.

    O terço final do filme decai bastante, mas ainda se mantém engraçado, divertido e escapista. Mesmo a introdução de personagens novos, como Hattie de Kirby funciona bem, e a inteiração e laços familiares é bem resgatada. É curioso como Hobbs e Shaw mesmo regredindo na relação entre os dois personagens centrais consegue fazer uso de retcon dentro da franquia para contradizer o conceito meio ridículo de família imposto na octologia e estabelecer novos parâmetros. É até melhor que ambos sigam em aventuras em dupla, pois estão muito mais soltos (incluindo aí seus intérpretes) causando bem mais curiosidade no destino deles e das novas caracterizações do que nos outros personagens, sem falar que este filme possui o melhor vilão dentre os oito filmes, um perigo real, mais poderoso que os heróis e com toda a irrealidade e escapismo que o cinema brucutu atual pode oferecer.

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  • Crítica | Deadpool 2

    Crítica | Deadpool 2

    Como deveria ser, Deadpool 2 começa fazendo piada com as questões dramáticas vistas em Logan e no restante dos filmes da Marvel, zoando com a questão de o primeiro Deadpool ter tido uma classificação indicativa para adultos e o filme do mutante envelhecido também o ser. No entanto, como a metalinguagem que lhe é devida, essas referências são tratadas de maneira extremamente escrachada e engraçada.

    Apesar de ser ainda mais calcada na comédia, a versão que David Leitch apresenta possui algumas camadas de história que podem surpreender por ter uma profundidade não esperada, ainda mais se tratando de um filme baseado no personagem criado por Rob Liefeld. O início dessa nova aventura de Wade Wilson o coloca de volta ao status quo real de Deadpool nos quadrinhos, um sujeito que não pode ter tudo, em decorrência da natureza de seu trabalho.

    Ryan Reynolds parecia à vontade no papel em 2016, mas nesse ele está ainda mais afiado e afinado, não à toa ele é um dos roteiristas, junto a Paul Wernick e Rhet Reese, dupla responsável pelo texto de Zumbilândia e Vida. O filme é hilário do início ao fim, graças a um humor juvenil, repleto de piadas que apesar de primárias tem algum contexto minimamente inteligente e parodial em relação a cultura pop e ao exploitation dos super-heróis dos quadrinhos.

    Uma das preocupações em relação a história era como se comportaria a questão da X-Force e outros elementos do universo mutante em torno do que Deadpool faz e, apesar de não se levar a sério, o entorno é bastante rico, cheio de detalhes não só na presença de Colossus (Stefan Kapici), Negasonic Teenage Warhead (Brianna Hildebrand) e dos que habitam a Mansão X – que aliás, possui uma das melhores piadas rápidas dos últimos tempos – mas também dos coadjuvantes que acompanhariam Wilson. Tanto a Dominó de Zazie Beetz, quanto o Cable de Josh Brolin funcionam à perfeição, tendo performances engraçadas e sérias quando se exige cada uma dessas facetas. Ambos atores estão bastante à vontade, e em forma invejável, dado que suas piadas e cenas de ação são plenamente cabíveis.

    Uma das pontas soltas no final de X-Men: Apocalipse foi de certa forma solucionada aqui. Havia uma placa falando de Essex, que nos quadrinhos, é o alter ego do Senhor Sinistro, e apesar de não ser muito aprofundada nessa questão, ela é aventada no roteiro, e tem uma importância dramática forte, em tom denunciativo, ligado ao personagem Russell Collins, interpretado pelo jovem ator Julian Dennison. A fim de não atrapalhar a experiência de quem ainda não viu, não me aprofundarei nessa parte da trama, mas quase todas as surpresas que envolvem esse papel são muito boas, e guardam alguns fan services e inserções de personagens inesperados e que não soam gratuitos, apesar de serem aparições bombásticas.

    Deadpool 2 consegue ser mais escatológico e asqueroso que o primeiro e todo o elenco está muito confortável com isso. A quantidade de vezes que Wade se auto mutila é de se perder as contas e o modo como ele se recupera dessas feridas acrescenta ainda uma nova camada de piadas sujas e humor físico juvenil. Mais uma vez o conjunto de referências reverencia as obras citadas, mas também faz comentários sobre o quão previsíveis são os blockbusters atuais. O filme parece a mistura perfeita entre uma história original com elementos típicos dos filmes antigos de David e Jerry Zucker, com a diferença de que esse é realmente inspirado, como haviam sido os filmes da dupla com Leslie Nielsen, claro, com Reynolds no centro das articulações.

    O curioso na história do longa é que ela não possui um vilão central, ao contrario, as circunstâncias e as possibilidades de futuro é que fazem os antagonistas. Se há alguma maturidade certamente ela está na ausência de maniqueísmo nesse quesito, fato que faz com que toda a fantasia debochada do Mercenário Tagarela consiga estar tão bem humorada e tão exímia em falar de modo leve sobre sentimentos depressivos bastante pesados. As crises existenciais do personagem principal fazem sentido, aliás são até aprimoradas, se comparar com as alguns de seus arcos nos quadrinhos, sobrando então um produto metalinguístico e que consegue se vender bem como comédia descompromissada, aventura escapista ao estilo Marvel – apesar de ser produzido ainda pela Fox – e por fim, conseguindo superar boa parte da concorrência com a própria Marvel Studios, mesmo nas cenas pós créditos, mais interessante e engraçada que a maioria esmagadora das produções em Kevin Feige estava mais envolvido.

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  • Crítica | Atômica

    Crítica | Atômica

    David Leitch sempre foi um operário do cinema, que funcionava normalmente nos bastidores. Dublê, ator e treinador/coreógrafo de luta, seus trabalhos incluem Clube da Luta, Buffy: A Caça-Vampiros e Matrix Reloaded, onde trabalharia com Keanu Reeves e Chad Stahelski, seus parceiros em De Volta Ao Jogo. Leitch co-dirigiu o primeiro filme de John Wick mas não pode ser creditado, e agora, traz à luz seu primeiro longa-metragem realizado de maneira solo, Atômica (baseado na graphic novel de Antony Johnston e Sam Hart), que guarda muitas semelhanças com seu outro filme, ainda que tenha ambições maiores e diferenciadas das de Stahelski.

    As primeiras cenas em que a agente da MI6 Lorraine Broughton aparece são de uma beleza estonteante. A intérprete Charlize Theron exibe não só formosura mas também uma entrega corporal e sentimental enorme. A atriz se prepara para prestar um relatório e contar sobre uma missão que executou no ano de 1989, entre a Berlim Oriental e Ocidental, no epicentro da Guerra Fria. Esse início já estabelece tudo o que o espectador precisa saber: o mundo está em guerra não declarada, essa é a era dos espiões e não há possibilidade de confiar cegamente em momento algum, nem para Lorraine, nem para qualquer outro sujeito.

    Filmes de ação protagonizados por mulheres não são novidades. O Quinto Elemento e a franquia de seis filmes Resident Evil tinham como chamariz a performance de Milla Jojovich. Zoe Saldana também se tornou uma heroína de ação contumaz, e a própria Charlize havia executado alguns papéis, seja no péssimo Aeon Flux, ou no recente sucesso Mad Max: Estrada da Fúria. No entanto, thrillers de espionagem com personagens femininas não é algo que estamos mais habituados a ver, ainda mais um com caráter tão visceral e violento quanto Atômica. De certa forma, o longa reúne os momentos épicos de John Wick: Um Novo Dia Para Matar e da trilogia Bourne, em especial A Supremacia Bourne, que conseguiu equilibrar bem um subtexto de bastante importância com momentos de ação frenética.

    Os personagens são bem desenvolvidos, ainda que muitas dessas participações sejam pequenas. Os personagens de James McAvoy e Sofia Boutella são ótimos exemplos desse desenvolvimento. No entanto, é no apuro visual que mora o maior dos méritos do filme, que traz a luz lutas frenéticas e intensas. Os golpes secos desferidos e recebidos por Lorraine são de uma plasticidade e realidade poucas vezes vistos, mostrando que Leitch tem bastante similaridade com o trabalho de Stahelski, com segmentos tão inspirados quantos os de seu amigo e parceiro.

    Todo o alarde ao redor de Atômica prova-se certeiro. O filme é econômico em explorações dramáticas e prossegue grave no que se propõe a discutir, apesar de haver ali claramente uma ideia bastante idealizada do conflito polarizado no fim da Guerra Fria. Theron está impecável na personagem que entrega e a empatia com o espectador é intensa e imediata, visto que sua jornada, apesar de super-heroica, encontra paralelos com problemas universais. Há uma expectativa muito positiva em relação a Deadpool 2 e aos demais trabalhos autorais de Leitch.

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  • Crítica | De Volta ao Jogo

    Crítica | De Volta ao Jogo

    De volta ao jogo - poster brasileiro

    Não é novidade que Keanu Reeves divide opiniões em relação a sua forma de atuação, bem como aos filmes que escolhe atuar. Desde sua participação na franquia Matrix, o ator passou a oscilar em papéis de maior ou menor expressividade dentro de Hollywood. Vimos Reeves participando de grandes produções, desde Constantine a filmes de baixo orçamento, como Sem Destino. Certo é que o recluso ator tem voltado a aparecer cada vez mais no circuito comercial, a começar pelo exagerado filme de fantasia samurai 47 Ronins e agora com De Volta ao Jogo.

    O filme conta a história do personagem que intitula originalmente o filme, John Wick, um assassino de aluguel que se aposentou do mundo do crime pra viver uma vida pacata ao lado de sua esposa. Uma vida perfeita até que uma doença levou a vida de sua mulher. Como último presente em vida, ela lhe presenteou com um pequeno cachorro e uma mensagem carinhosa para que John não desistisse.

    O destino de John muda completamente quando um capanga da máfia russa resolve invadir sua casa, espancá-lo, matar seu cachorro e, por fim, roubar seu Boss Mustang 1969. Por esse motivo, John retorna ao seu eu do passado para se vingar dos agressores da memória de sua esposa.

    A sinopse aparenta ser boba, talvez um pouco ingênua, mas a simplicidade do plot não faz jus ao filme em si. O roteiro simples e direto não diminui a execução soberba e as excelentes cenas de ação que são apresentadas durante a obra. Chad Stahelski, dublê responsável por cobrir Brandon Lee no clássico O Corvo, apresenta um trabalho impecável, refletindo sua longa carreira no cinema. Em De Volta ao Jogo, os movimentos de câmera frenéticos e cortes rápidos que acompanham lutas – técnica muito utilizada com o intuito de conceder dinamicidade às cenas ao mesmo tempo que facilita a filmagem da ação propriamente dita – dão lugar a uma filmagem precisa, calma, que explora cada momento das cenas de ação, extremamente bem elaboradas e coreografadas.

    De Volta ao Jogo empolga. E não só empolga como diverte. O envolvimento da trama e das situações absurdas em que John é posto – bem como em todas as situações do filme que giram em torno da fama que o personagem tem entre os assassinos no submundo – gera momentos hilários. Humor involuntário, porém natural, que cativa o espectador a embarcar com mais naturalidade na vendeta de John Wick e observar as centenas de mortes que seguem dali em diante.

    Michael Nyqvist também merece o devido destaque por sua participação, bem como Willem Dafoe, e até Ian McShane em um papel mais singelo. Porém, os holofotes mais uma vez estão mirando em Keanu Reeves, o qual incorpora com naturalidade a personalidade obscura e contida de John Wick. Gostando ou não de Reeves, ele tem nossa atenção.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.