Crítica | A Colina Escarlate
Ainda que um exemplar do cinema mainstream que Guillermo Del Toro adotou para si, o pretenso terror A Colina Escarlate usa de cenários magnânimos para aludir o principal talento de seu diretor: o de montar espetáculos visuais indiscutíveis, cujo deslumbre alcança até as plateias que não são muito afeitas ao seu tipo de abordagem cinematográfica.
O grave problema da fita é o seu texto. A premissa, envolvendo a aspirante a escritora Edith Cushing (Mia Wasikowska), compreende uma paixão impossível, entre a bela moça e o britânico em ascensão econômica Thomas Sharpe (Tom Hiddleston). Acompanhado de sua irmã, Lucille (Jessica Chastain), Thomas corteja a romancista embrionária, apoiando-a até no momento em que o patriarca Cushing é emboscado e morto. O maior problema do filme é a obviedade, já que a partir da ida dos personagens à Europa – para a tal colina vermelha – toda a trama já aparenta clareza.
Os escritos de Edith são ligados ao terror, sempre sonhando e lidando com espíritos fantasmagóricos, que se manifestam em sua vida desde a infância até a intimidade de esposa do investidor inglês. Na enorme mansão decadente ocorrem contatos ainda mais intensos com o sobrenatural, com efeitos visuais interessantes e até gore, em comparação com o visual mais limpo dos dois filmes de Hellboy. Mas, ainda assim, os sustos são inexistentes e o terror é raso. Não há aprofundamento nem de personagem, história ou de aura atemorizante.
A caracterização do filme é tão mal concebida que a ideia de ser uma reverência a outros estilos de filmes de horror, dá lugar uma reimaginação de contos de fadas ao estilo Malévola, ainda que a violência nesse seja muito mais presente. Mesmo os momentos de horror são bastante leves, como se Del Toro tentasse repetir os méritos de A Espinha do Diabo de um modo pasteurizado, com medo de chocar seu novo público, ignorando o grupo de admiradores que sempre lhe foi fiel.
Os detalhes das magníficas instalações não sustentam os terríveis erros de roteiro, piorando mais ainda quando se percebe a atuação de Chastain, histriônica e caricata, além da dramaturgia automática de Hiddlestone. As participações de Wasikowska passam longe de reprisar seus melhores momentos em Hollywood, assim com Charlie Hunman, que faz o Dr. Alan McMichael, um personagem genérico que faz o público perguntar se sua amizade com o diretor é verdadeira, já que sua personagem é completamente desimportante.
Até temas tabu, como incesto e resignação, são diluídos, e os mesmos defeitos de obviedade de Círculo de Fogo se reprisam em A Colina Escarlate, agravando-se pelo fato de não possui o massavéio para desviar a atenção dos sérios defeitos do texto. O aspecto teatral e a coloração que faz lembrar O Orfanato – talvez o último acerto indiscutível entre os filmes que o mexicano ajudou a fazer – não conseguem livrar a obra da mediocridade em que insistentemente abarcou. Só salvando-se, nos momentos finais, a extrema violência da fita – essa sim um aspecto interessante da filmografia de Del Toro.
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