Resenha | O Espetacular Homem-Aranha: De Volta ao Lar
Marcando o início de J. Michael Straczynski nos roteiros de The Amazing Spiderman, De Volta ao Lar assinala o malfadado retorno de Peter Parker ao manto do herói aracnídeo, pouco depois de ele ter decidido se aposentar para usufruir biblicamente de sua esposa, a supermodelo Mary Jane Watson. A volta ao vigilantismo causou um racha no recém-consumido casamento, e Mary Jane parou de comunicar tudo ao marido, chegando a ponto de viajar a trabalho sem avisá-lo. O avião onde a mulher sairia sofre um acidente, e Parker não aceita o fato da esposa ter morrido. Movido pela culpa, ele toma seu uniforme para extrair o máximo de informações do possível paradeiro dela. Após aceitar que sua amada estava morta, Peter descobre onde estava sua prometida e a resgata, mas o trauma faz os dois se separarem de vez.
O recado na secretária eletrônica não poderia ser mais explícito ao mostrar a miséria sentimental em que o fotógrafo está. Melancólico, a resignada contraparte do herói filosofa sobre o próprio deslocamento, tanto o atual causado por seus poderes e responsabilidades, quanto na adolescência, quando nerd. Ver os meninos e meninas interagindo com o mundo é o suficiente para filosofar; qualquer situação é pretexto para ser tristemente poético.
A carência afetiva de Peter faz com que o surgimento do misterioso Ezekiel seja ainda mais assustador, especialmente pelas semelhanças de poder e aparência – o último fator, culpa do desenhista John Romita Junior, que compensa a caracterização com violência gráfica verossímil. O espirituoso homem faz perguntas, não menos intrigantes que sua persona, a respeito da identidade e da origem dos poderes do Cabeça-de-Teia. O desaparecimento repentino faz pensar, tanto o herói quanto seu público, que Zek, não passa de uma ilusão, e a dúvida ainda persistiria por um longo período.
A latência na cabeça de Parker aumenta tanto que decide visitar sua antiga escola, um lugar abandonado, distante dos tempos menos inglórios de sua própria juventude. Diante de um atentado confuso, Homem-Aranha salva as vidas do colégio, mas apresenta uma nova faceta, parte da reinvenção de sua identidade secundária que decide lecionar.
A nova postura de Peter é pontuada pelas inúmeras referências visuais a aranhas espalhadas pelos cenários de Romita Júnior. Logo, Ezekiel invade o novo ambiente do herói, sem sequer esperar por seu conforto, basicamente para afirmar novas revelações sobre o usufruir dos poderes aracnídeos, comum a ambos os personagens. Rico, Zek contrata o então professor para trabalhar para si como cientista, na verdade um pretexto para conversar sobre a ameaça de Morlun, um ser misterioso e de poderes magnânimos.
O primeiro embate entre vilão e herói é violentíssimo: corre boa parte da metrópole americana e envolve muitos inocentes. Mesmo sem seu uniforme, o Cabeça-de-Teia é perseguido implacavelmente, abrilhantando a caça pelo lápis magnífico de Romita Junior, especialista em apresentar machucados, lesões e escoriações, além de conseguir, como poucos, exibir uma destruição de pequenas e médias proporções em ambiente urbano. Tudo em perfeito equilíbrio para não tornar caricato seus traços, transformando o cenário em algo verossímil, caso uma luta entre humanos tão poderosos acontecesse no mundo real.
Os paralelos que o depressivo herói faz mentalmente são interessantes, especialmente quanto a discussão que propõe a respeito dos bullys anabolizados, que não diferem tanto dos espécimes que praticam o mal nos corredores do high school e que aterrorizam as cidades metropolitanas. O medo acomete o Aranha, e a proximidade da morte em meio à luta faz o herói tomar decisões drásticas.
O aspecto centrado por JMS à frente do título do Homem-Aranha é a origem mitológica do personagem, associando seus poderes à sua personalidade, por isso o uso irrestrito de Ezekiel e o aprofundamento na psique do personagem. De Volta Ao Lar termina com um gancho revelador que quebra paradigmas, o que em si resume a boa condução de seus autores, ao menos no começo desta parceria.