Tag: Ficção Histórica

  • Resenha | Assassin’s Creed: Irmandade – Oliver Bowden

    Resenha | Assassin’s Creed: Irmandade – Oliver Bowden

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    Assassins’s Creed Irmandade é o segundo livro adaptado do jogo de mesmo nome Assassin’s Creed Brotherhood, da franquia de sucesso dos videogames. Lançado depois de Renascença e antes de Cruzada Secreta, todos foram escritos por Oliver Bowden, pseudônimo de Anton Gill, que tem em seu currículo mais de 35 livros. O autor escreve profissionalmente desde 1984.

    Sinopse: após derrotar no livro anterior o líder dos templários Rodrigo Bórgia, o Papa Alexandre VI, Ezio Auditori luta agora contra o seu filho e novo líder da família e dos inimigos dos assassinos, Césare Bórgia, novo líder dos templários e patriarca dos Bórgia, a família espanhola que exerceu grande influência no Vaticano e em toda a Itália durante a renascença italiana.

    O que poderia haver de interessante em um livro que é literalmente a versão romanceada do jogo, seria abordar para o leitor os aspectos gerais de um romance histórico. Infelizmente não é o caso neste Assassin’s Creed. Na verdade faltam os dois pilares que um romance histórico necessita: descrição e ambientação histórica.

    O autor falha em apresentar a renascença para o leitor, uma  época mais riquíssima em temas, a arte era vista como registro e como algo transformador da sociedade, que mudavam inclusive política. Os detalhes, quando existem, são poucos, ambiente e vestimentas passam batidos, as menções aos costumes gerais da época, da cultura, quase não são mencionados.

    Quem jogou o jogo deve ter uma compreensão mais fácil das cenas e entender a história como um todo, mas como fica o leitor mais exigente e o fã de romances históricos, que não necessariamente gosta de videogame e que nunca tenha ouvido falar da franquia? Ou o livro é de acesso universal ou se assume como um manual para o jogador.

    Romances históricos são muito procurados exatamente pela capacidade de transportar o leitor à um passado para que ele veja as diferenças com a nossa realidade, e, a partir daí, possa tirar conclusões diversas a partir de comparações, sejam culturais, artísticas, arquitetônicas, culinárias, políticas, médicas, e principalmente sociais.

    Ao ler o livro, as perguntas que poderiam ser tecidas permanecem no ar: como os italianos daquela época diferem dos de hoje em dia? Como a sociedade se organizava? Maquiavel é um personagem, mas como eram as políticas das cidade-estado? Algumas famílias famosas do passado italiano são mencionadas, porém, não abordam a vida política: como agia pensando no povo o administrador de Florença? Quais leis o prefeito de Veneza fez para melhorar ou piorar a vida dos seus habitantes? E de que forma isso transformou a Itália?

    O livro prefere abordar Roma. Então, vamos aos romanos: que roupa as pessoas comuns vestiam? De que tecido era feita? Que instrumentos os médicos usavam para trabalhar? Qual era a comida famosa na época tanto na elite quanto no meio do povo? Não basta citar Da Vinci somente, quais outros grandes artistas influenciavam a Itália? Qual técnica usavam para pintar e esculpir, como compunham suas músicas? A descrição arquitetônica também é outra decepção. Não basta dizer que Ézio andou por um telhado. Como era esse lugar, como foi construído, qual matéria usaram que não se usa mais hoje?

    Apesar da leitura fácil, o livro é muito mal editado. Oliver Bowden prioriza a ação de tal forma que a falta de descrição a torna oca, vazia, confusa. Acaba virando ação pela ação e o livro fica sem ritmo. Mesmo nos momentos mais calmos, onde a descrição serviria para ajudar o respiro do leitor, isso não acontece, pois o protagonista trava um duelo o tempo todo, seja físico, verbal ou decifrando enigmas. A grande graça do livro é ver o assassino em ação, mas pela confusão que o autor proporciona na sua descrição fica difícil quase sempre compreender as ações que protagonista usou para neutralizar inimigos.

    Os diálogos são fracos, na maioria das vezes bobos, parece que foram escritos as pressas. Por fim, os vários capítulos, o tamanho da letra e os grandes espaços em branco tentam criar um falso volume à um livro que se fosse espremido teria um pouco mais da metade do tamanho. Vale a leitura? Só se você for muito fã da franquia no videogame e não se incomode com uma literatura que tenta se assumir como ficção histórica, mas na sua desonestidade não o é.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Resenha | Os Ossos das Colinas – Conn Iggulden

    Resenha | Os Ossos das Colinas – Conn Iggulden

    Os Ossos das Colinas - Conn IgguldenO Supremo Soberano está de volta. Pronto para liberar sua horda de mongóis ensandecidos sobre desafortunados inimigos. Ansioso para conquistar e destruir novos territórios. Sedento por vingança!

    Ossos das Colinas é o terceiro livro da série O Conquistador. Saga essa que narra a vida de Temujin, mais conhecido por Gêngis Khan. Para quem não conhece os livros, aconselho antes de continuar que leiam as resenhas do primeiro (O Lobo das Planícies) e do segundo livro (Os Senhores do Arco).

    Este terceiro volume inicia-se relatando acontecimentos ocorridos três anos após o final de Os Senhores do Arco. Gêngis havia dividido seu já numeroso exército, mandando seus generais para diferentes regiões do planeta para saquear, conquistar e destruir em seu nome. Cada general partiu com um tuman (10 mil homens) e com um dos filhos de Gêngis, a fim de treiná-los e endurecê-los na arte da guerra.

    Tsubodai, (o maior general que Gêngis já teve sob seu comando) ficou com o filho mais velho, Jochi. Este, no alto dos seus 17 anos havia se tornado um grande guerreiro e líder astuto sob a tutela de Tsubodai. Apesar de tudo, Jochi nunca fora aceito por Gêngis como filho legítimo e herdeiro direto do Cã. Havia a possibilidade de Jochi ter sido fruto de um estupro sofrido pela primeira mulher de Gêngis. O Cã o ressentia, e sequer admitia a maioria dos feitos do filho bastardo. Jelme levou consigo o arrogante Chagatai e Khasar ficou com o mais novo dos três: Ogedai.

    Gêngis chama-os de volta à Mongólia, a fim de iniciar uma nova campanha marcial. Desta vez contra os ‘’povos do deserto’’. Gêngis havia enviado mensageiros para as mais diversas terras, entre elas as terras Árabes, governadas pelo xá Ala-ud-Din Mohamed. Eis que estes homens não voltaram, Gêngis tentou por mais de uma vez estabelecer um contato ‘’diplomático’’ com os governantes daquela terra, porém recebeu as cabeças de seus homens como resposta. Isso bastava. Como ele mesmo diz em um trecho do livro: “Não sou o autor dessa crise, mas rezei ao pai céu para me dar a força de exercer vingança”.

    Este é o grande estopim do livro, motivo mais do que suficiente para um povo como os Mongóis entrarem em guerra. Guerra esta narrada com os mesmos predicados dos outros volumes, mas em uma escala nunca antes vista pelo exército mongol. Além de números impressionantes do exército do xá, desta vez eles enfrentarão bestas de guerra gigantes, monstros de carne com presas de marfim nunca antes vistos por um mongol. Como derrotariam tal criatura? Eles se perguntam.

    Neste volume, Conn dá um pouco mais de ênfase na impressionante estratégia e organização militar mongol. Conseguimos compreender como era prática e funcional a divisão decimal aplicada aos homens. Cada arban (10 homens) tinha seu líder, que se comunicava diretamente com o líder do jagun (100 homens), que por sua vez se dirigia ao líder do mingan (1000 homens), culminando no já mencionado tuman.

    Os conflitos internos do povo de Gêngis também são mais bem explorados neste livro. As disputas por poder e reconhecimento entre Jochi e Chagatai têm, por exemplo, seu embasamento em um conceito muito bem aplicado por Gêngis: a meritocracia.

    Desde os seus primeiros atos como líder, Gêngis sempre preferenciou o mérito ao parentesco. Para um homem obter seu respeito, ele tinha que se provar como merecedor de tal por suas ações, não importando sua origem. A maior prova desse sistema era o próprio Tsubodai, que começou como um adolescente no exército de Gêngis, mas que devido à sua mente astuta e raciocínio tático sem igual, subiu ao mais alto posto, se tornando um general, dono de um tuman, respondendo diretamente ao Cã. Tsubodai é somente um exemplo entre muitos. Este sistema de promoção era inédito aos povos daquela época e região. E não é difícil deduzir porque cada mongol guerreava e treinava por horas a fio sob o frio olhar de Gêngis. Esse sistema contribuía com toda a moral do exército, proporcionando-lhes vitórias improváveis e ao mesmo tempo espetaculares.

    Este talvez seja o mais bem escrito livro de Conn Iggulden. Talvez o ponto no qual a história se encontra contribua para isso. Prepare-se para se deparar com tons mais sombrios desta vez. Ele se mistura com a alegria da guerra, com os anos que passam, com a nostalgia das lembranças dos principais personagens, como sempre, muito bem construídos. Ou talvez, seja apenas a evolução natural de um autor relativamente novo no mercado editorial.

    As conquistas de Gêngis Khân continuam nos fascinando. Ensinando um pouco de História e nos cativando ao mesmo tempo. Não cansamos de nos impressionar com os feitos dele. Impondo a sua superioridade militar sobre diversas outras nações. Depois de três volumes, nos sentimos ainda mais próximos desse povo, das suas conquistas, das suas dificuldades. Não se espante se ao final da leitura você querer tomar um pouco de airag preto, montar o seu pônei e cavalgar pelas planícies…

    Texto de autoria de Amilton Brandão.

  • Resenha | O Imperador: Os Portões de Roma – Conn Iggulden

    Resenha | O Imperador: Os Portões de Roma – Conn Iggulden

    Primeiro livro de uma série de quatro. Livro que colocou Conn Iggulden no mapa de escritores de romances históricos ao lado de nomes como o de . Depois de décadas tentando publicar algo, Conn estava prestes a desistir de ganhar a vida no ramo literário e pretendia manter até a aposentadoria a sua profissão na época: professor. Felizmente isto não aconteceu e hoje temos a oportunidade de apreciar seus livros.

    Parte da aceitação deste livro pelos editores (e futuramente pelos leitores) se deu ao hype do filme Gladiador (lançado no ano 2000). Muitas pessoas queriam entender melhor o Império Romano, e Conn foi inteligente em usar este momento a seu favor. Portões de Roma é então publicado em 2003 e logo se torna um sucesso. O próprio Conn diz que deve muito ao filme pelo seu sucesso inicial.

    Inicia-se então a série que contaria a vida do governante mais famoso e importante do Império Romano. Caio Júlio César. Seu nome se tornaria mais do que uma referência, seria usado como título de governante em nações vindouras (Kaiser na Alemanha, Csar na Rússia, Tsar para os eslavos). Por 2000 mil anos depois do assassinato de Júlio César, houve pelo menos um governante usando seu nome. O herói grego Aquiles, que tinha como maior ambição ter seu nome imortalizado na história, com certeza ficaria impressionado com estes dados.

    Iggulden começa narrando a infância de um garoto chamado Caio e de seu amigo Marco. Ambos vivem em uma das muitas áreas rurais que circundavam Roma na época. Seu pai Júlio César é um cidadão romano com voz ativa no senado e por conta das responsabilidades para com a república, quase não acompanha o crescimento de seu filho.

    A primeira visita de Caio e Marco a Roma para acompanhar as lutas dos gladiadores é descrita com detalhes, o que nos dá uma visão do avanço tecnológico dos romanos comparados com outras culturas da época. Afinal é difícil conceber uma cidade de tempos longínquos com água encanada por exemplo. Mas também fornece dados para entendermos os principais problemas de Roma como uma grande metrópole. Sua sujeira, sua densidade populacional, sua violência transbordando pelos becos estreitos. Com a descrição de Iggulden, cheiramos esse fedor, nos sentimos espremidos pelos cidadãos romanos, e vivemos o medo que se esvanece, ou se concretiza a cada esquina. Mesmo assim, Caio fica embasbacado com tamanho esplendor e vivacidade. Mercadores, mendigos, legionários, políticos, todos dentro do mesmo cenário, fazendo parte do majestoso império.

    É nesta visita que tomamos conhecimento de um grande gladiador de Roma, que traçará um importante papel na vida dos garotos. Ele será responsável pelo treinamento de Caio e Marco na arte do combate, Rênio é seu nome.

    Seguimos o aprendizado dos garotos até que o destino os catapulta para uma série de eventos que resultarão em aventuras emocionantes para um, escolhas difíceis para outro. Em terras estrangeiras temos os perigos de emboscadas, rebelião de povos já conquistados por Roma e como não podia deixar de faltar, embate entre os legionários e os famigerados bárbaros. Dentro de Roma temos os perigos e sutilezas do mundo político. Suborno, conspirações e brigas pelo poder são os protagonistas da cidade das sete colinas.

    Conn alterna entre estes dois mundos com habilidade, convergindo os dois na medida em que a trama se intensifica. Essa alternância mantém o leitor preso aos acontecimentos seguintes, sempre ávido pelo desfecho.

    Apesar de tudo isso, este primeiro livro é bem introdutório se comparado ao primeiro livro da série O Conquistador. Talvez por ser mais curto (pouco mais de 370 páginas), ou talvez por ser o primeiro livro publicado pelo autor, muito do que vemos aqui é de certa forma contido se comparado ao volume O Lobo Das Planícies. As batalhas são descritas de modo menos detalhado, poucos personagens são realmente aprofundados no decorrer da narrativa e algumas viradas na trama não são tão surpreendentes como esperaríamos. Lendo sua série seguinte, nota-se a evolução de Conn como escritor ao tratar essas questões com uma abordagem diferente. Apesar disso, pelo que conhecemos da história de Júlio César, tenho certeza que os próximos livros da série trarão ainda mais emoção à estória. A tendência é que as batalhas épicas e as tramas políticas se intensifiquem, com a adição de personagens conhecidos por todos nós, como Cleópatra, Pompeu e Marco Antônio por exemplo.

    Recomendo o romance sem grandes ressalvas para o fã do gênero, e irei com certeza seguir a diante com a narrativa da magnífica vida de Gaius Iulios Caesar

    Texto de autoria de Amilton Brandão.