Crítica | Crown, O Magnífico
Filmes de assalto, assim chamados heist movies, geralmente caem nos clichês do gênero, ainda mais hoje em dia. Histórias de gangues que roubam um banco, tudo dá errado, as desavenças entre os ladrões só cresce, enquanto a polícia fica na cola deles – e é inacreditável como A Casa de Papel soube usar desses clichês para transmitir a falsa sensação de novidade a um público que não assiste nada que veio antes de Titanic (existia cinema antes de Titanic?). Mas impressionante mesmo é ver como em 1968, e contando com um grande elenco, Crown: O Magnífico institucionalizou de forma histórica todas as cenas que esperamos ver em filmes de assalto (reféns, tiroteio, fuga) com uma força poucas vezes superada mais de 50 anos depois.
Digo poucas, porque Um Dia de Cão chegou perto, focando na histeria do longo assalto ao banco e mais nada. Aqui, é como se Jean-Luc Godard fizesse um filme de ladrões, com todo seu experimentalismo técnico, e com uma montagem que faz as cenas pularem, brilharem, explodirem na tela, e funciona a ponto de tornar o filme impecável em ritmo e visual, ilustrando a história de Thomas Crown. Um banqueiro podre de rico e ganancioso que entediado pela sua vida de luxo sem grandes problemas, decide juntar meia-dúzia de criminosos para assaltarem uma agência bancária, com a mesma simplicidade de quem contrata uma diarista. Tudo dá certo e o dinheiro vai para a conta de Crown na Suíça e parece que habemus o crime perfeito! Só que a seguradora do banco chama sua melhor investigadora, a inteligente Nickie Anderson (mulher à frente do seu tempo, o que choca os homens mais tradicionais dos anos 60), para seguir os rastros do dinheiro e tentar desvendar o plano por trás do roubo.
E ela o faz, em pouco tempo com os olhos da experiência. Logo fica claro que Crown está por trás desse esquema de 3 milhões de dólares extorquidos, mas Nickie precisa provar como e o porquê. Para isso, a mulher começa a se relacionar com o magnata. Duas raposas, uma tentando passa a perna na outra, até Nickie perceber que está obcecada com aquele estranho e quase não consegue separar o trabalho da paixão.
Crown: O Magnífico é um estudo psicológico e divertido da natureza de corrupção do ser humano e dos tipos que só pensam em dinheiro, os Lobos de Wall Street. O diretor Norman Jewison brinca com as nossas expectativas e dá um show na direção, organizando a trama com bons momentos de comédia e ótimas cenas de puro suspense. Assim, temos um excelente jogo de gato e rato no limite entre o financeiro e o pessoal, que faz o espectador roer as unhas para ver quem irá ganhar. Tudo graças também as atuações dos gigantes Steve McQueen e Faye Dunaway, essa última ainda colhendo, na época, os louros pelo fenômeno Bonnie e Clyde.