Review | Punho de Ferro – 1ª Temporada
A fórmula utilizada no universo cinemático e audiovisual do Marvel Studios está desgastada há algum tempo. O lançamento de Doutor Estranho, por exemplo fez nos perguntar onde o filme inova, já que sua estrutura dramática segue o mesmo modelo utilizado em Homem de Ferro, em 2008, e mais recentemente em Homem-Formiga, de 2015. Uma alternativa para essa mesmice seriam as séries que a Marvel realiza em co-produção com a Netflix, mas até mesmo esses programas têm passado pelo mesmo tipo de problema, sendo Punho de Ferro a mais complicada e execrável entre as temporadas vistas no sistema de streaming.
O começo do drama de Danny Rand (Finn Jones) é lento e gradual. Há nele a necessidade de provar quem ele realmente é, uma vez que ele esteve desaparecido durante um bom tempo. Esse aspecto apresenta semelhanças com a primeira temporada de Arrow, e esse não é o único defeito compartilhado com o programa teen do canal CW.
Falta carisma a Jones, assim como não há qualquer aspecto minimamente interessante nas histórias paralelas, especialmente o que envolve os personagens Joy Meachum (Jessica Stroup) – sua amiga de infância e atual sócia – e Ward Meachum (Tom Pelphrey) – que cuida do conglomerado dos Rand e ainda tem parentesco com Harold Meachum (David Wenham), um dos vilões presentes nos treze episódios.
Outro problema repetido nesse, e que já se via também nas temporadas de Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage é a duração dos episódios, quase sempre beirando uma hora ou mais. O fato de não causar no espectador um maior interesse faz com que esses momentos pareçam ainda mais longos. A questão de ser uma série de orçamento mais baixo que os filmes de estúdio impede, por exemplo, de desenvolver o visual psicodélico de K’un-Lun, tendo então o assunto explorado via fala dos personagens, o que demanda em mais um erro crasso da produção que descreve conceitos abstratos ao invés de tentar mostrá-los.
A criação de Gil Kane e Roy Thomas ocorreu para angariar os fãs dos filmes de arte marciais na década de setenta, em meio a exploitation que faziam de Bruce Lee, seus filmes e derivados, então o mínimo que se espera de um programa baseado em Punho de Ferro é que as lutas sejam bem coreografas. No entanto, essa expectativa é muito frustrada, uma vez que as brigas mostradas são inferiores até aos primos do personagem, já que Demolidor tinha sequências muito melhores que as vistas aqui, o que é de fato uma lástima. A tábua de salvação para isso é a personagem Collen Wing, interpretada por Jessica Henwick, cujo carisma e performance supera demais qualquer outra pessoa em tela, fazendo perguntar inclusive se não seria melhor colocá-la na posição de protagonista de fato, podendo ocupar até uma vaga na equipe dos Defensores. A escolha pela personagem feminina tendo a alcunha de herói seria inclusive inteligente e condizente tanto com o visto nos quadrinhos da Nova Marvel e com toda a discussão gerada por Jessica Jones.
Um dos conceitos mais interessantes e abrangentes na mitologia envolvendo o personagem é a questão do controle do Chi, que seria não só a fonte de sua super-força e demais poderes, como também serviria como outros subterfúgios, artimanhas de controle mental, efeitos de ilusão, viagens interdimensionais e até se manifestando com rajadas de energia. A escolha por explorar pouco esses poderes nessa primeira temporada aparenta um acerto, uma vez que o conceito pode se expandir, não precisando se esgotar por inteiro em um primeiro ano de série, no entanto, o fato de todo o entorno soar esdrúxulo pediria uma melhor exposição dessas questões, em especial nas questões filosóficas por trás do argumento.
Se o começo do seriado é truncado, a parte final é uma correria só, mostrando que falta um apuro ao roteiro da série criada por Scott Buck que, por sinal, é também o showrunner do vindouro Inumanos, programa dos canais ABC a estrear em setembro. Falta a Punho de Ferro ritmo e profundidade aos seus personagens, já que são pessoas com as quais é um desafio se conectar, mesmo aquelas a quem se gera um pequeno interesse, como também uma identidade de programa de super herói, fato que ocorre até em sequências mais urbanas como Jessica Jones e Luke Cage. A expectativa é que Kun’Lun e conceitos mais místicos do personagem sejam finalmente explorados em Os Defensores, com uma narrativa mais fluída e com menos enrolação.