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  • O que Seinfeld tem para te oferecer?

    O que Seinfeld tem para te oferecer?

    O que Seinfeld tem para te oferecer

    Um breve histórico sobre Seinfeld, uma das sitcons mais famosas da história, e um marco da TV

    Certa vez em um determinado episódio, Seinfeld diz: “O motivo pelo qual se assiste a um programa de televisão é porque ele acaba. Se quisesse uma história longa, chata e sem qualquer sentido, para isso tem-se a própria vida.”. E bem, apesar da tristeza duma série tão querida já estar há mais de 15 anos fora do ar, realmente, algumas coisas merecem acabar por serem muito boas. Na ocasião do anúncio do fim da sitcom, a produtora NBC teria oferecido R$110 milhões à Seinfeld para mais uma temporada, mas de acordo com ele, assim como os Beatles que duraram apenas 9 anos, Seinfeld acabaria, também depois de 9 anos no ar.

    “É incrível como a quantidade de notícias que acontece no mundo, todos os dias, sempre se encaixa perfeitamente no jornal.”

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    Sitcom, o quê é? Onde vivem? Do quê se alimentam?

    Sitcom, ou, comédia de situação (junção das iniciais das palavras situation comedy), é um estilo de comédia, onde a trama evolui a partir da reação dos personagens a uma determinada situação, incitando uma “reversão de fortuna”, que o personagem precisa resolver nos cerca de 20 minutos do programa. Obstáculos triviais são elevados ao absurdo, e pedem dos participantes reações ainda mais absurdas.

    De acordo com a revista “Entertainment Weekly”, Seinfeld é a sitcom da nossa era – ainda que essas eras sejam distintas entre si. A última referência humorística de uma sitcom foi a clássica Friends, mas agora estamos falando do programa que elevou o medíocre ao mais alto grau de importância na vida cotidiana, já que Seinfeld é frequentemente definida como “uma série sobre o nada”. E, realmente, não existem tramas com romances ou situações dramáticas, é apenas o absurdo do nada em sua melhor forma. É a sitcom perfeita.

    “Por que os relacionamentos são um problema tão grande para os homens? Eu acho que, por alguma razão, quando um homem está dirigindo pela estrada do amor, a mulher é como uma saída, mas ele não quer sair. Ele quer continuar dirigindo. E a mulher diz ‘olha, gasolina, comida, abrigo, essa é a nossa saída, isso é tudo que precisamos para sermos felizes… Saia agora!’ . Mas o homem está focado na placa que diz ‘Próxima saída em 27 quilômetros’ e ele pensa ‘Eu posso chegar lá.”

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    A história de Seinfeld

    Não há história. Aqui, o termo “comédia de situação” ganha ares de autocaricatura, e as gags assumem para si o papel da trama. Mas há muito sobre o que falar.

    Inicialmente, era para ser um especial sobre como um comediante standup produzia suas piadas, mas por sua qualidade, virou uma série que conta como um comediante e seus amigos enfrentam os revezes da vida.  Diversas vezes indicadas ao Emmy (premiada em 1993) e eleita uma das melhores séries televisivas de todos os tempos, ao lado de Os Sopranos e Os Simpsons (você não acha estranho tantas séries terem como título  o sobrenome de alguém?)

    Geralmente, o enredo levava à situações constrangedoras e inesperadas, que implicavam na interferência mútua dos personagens, uns na vida do outro, mas tudo era resolvido (ou não) em conjunto, no final – ainda que esse, raramente fosse um “Final Feliz” (as coisas sempre davam errado ao fim de cada capítulo, mas o importante era rir disso).

    O programa explorava a vida cotidiana, fazendo os episódios darem continuidade às decisões e rumos tomados pelos personagens, e quase sempre um mesmo tema se desenrolava por toda a temporada, e foi assim por 9 anos.

    Eles nunca aprendiam! Dificilmente uma lição era entendida e absorvida, e todos continuavam errando e errando, num ciclo onde acabavam atolados e tentando rir de si mesmos. Parece, ou não, um retrato fiel da vida real?

    “Há poucos conselhos em revistas masculinas porque não acreditamos que existam muitas coisas além do nosso próprio conhecimento, mas as mulheres sim. Elas querem aprender. Os homens pensam: eu sei o que fazer, apenas me mostrem um corpo nu.”

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    Quem é quem em Seinfeld?

    Jerry Seinfeld interpreta a si mesmo. Um humorista standup tentando viver de sua arte e sempre se enrolando com seus afazeres, como pagar uma conta no banco, ir ao cinema, se arrumar pra um encontro… O personagem é o autorretrato próprio ator, meio sem jeito, meio estranho… Meio comum demais.

    George Costanza (Jason Alexander)– Amigo de Jerry, é um cara que enche o saco, mesquinho, perdedor, interesseiro e mente sobre sua profissão pra parecer melhor do que é, mas nunca capta a moral da história, e termina exatamente como começou, ou pior.

    Elaine Benes (Julia Louis-Dreyfus)– Você conhece a triz da sitcom “The New Adventures of Old Christine” e Veep- É ex-namorada de Seinfeld, a atual amiga. Ela é inteligente, dedicada, fala demais e sempre reclama dos homens.

    Cosmo Kramer (Michael Richards)– É vizinho do Jerry, e é tão atrapalhado que chega a ser irritante. Vive inventando planos sem sentido e colocando a todos em confusões desnecessárias, mas sempre por agir com ingenuidade, o que torna difícil sentir raiva dele… É o amigo que te aporrinha, mas que ainda assim é seu amigo.

    “Homens e mulheres agem como seus elementos sexuais básicos. Se você observar os homens solteiros num sábado à noite, verá que eles agem como espermatozoides – todos desorganizados, trombando com os amigos e indo na direção errada, como 3 milhões de patetas. Mas o óvulo é bem tranquilo: Bem, quem será? Eu posso me dividir. Posso esperar um mês. Eu não vou a lugar algum”

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    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Crítica | À Procura do Amor

    Crítica | À Procura do Amor

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    A vida de Eva (Julia Louis-Dreyfus) está um caco, sua rotina no trabalho é mostrada como algo desprazeroso e pesaroso, e sua vida amorosa não tem tido grandes momentos ou empolgações… Até que esta vai a uma festa, e sua perspectiva muda após conhecer Marianne (Catherine Keener), uma mulher resoluta e interessante, e um pouco mais tarde, um sujeito de meia-idade e não muito atraente chamado Albert (James Gandolfini), que mesmo com esses atributos, se destacou da maioria dos homens presentes por seu ar de indiferença.

    Algo incomum ocorre nas relações de Eva, mesmo com os amigos mais íntimos, as conversas não acontecem face a face quando não são necessárias – ela faz largo uso do skype, artifício que poderia ser encarado como um substituto ao telefone, mas que também dá margem para a interpretação disto ser um traço de impessoalidade em sua senda, principalmente se analisados os seus defeitos. Sua insegurança se apresenta sob diferentes formas, seja nas relações distantes já destacadas como também na necessidade de aceitação que tem junto as pessoas, de precisar sempre agradar terceiros para se sentir bem. Isso só parece ser realmente quebrado com a aproximação de Albert.

    Enough Said é uma comédia que se baseia bastante nos constrangimentos inerentes a meia-idade. Eva passa por conflitos comuns, como a falta de atração por seu parceiro sexual, insegurança quanto ao futuro da relação e, levemente, teme o que terceiros poderão achar de uma relação que começa após os 40/50 anos, período em que as “expectativas” (com muitas aspas, para não correr o risco de parecer um comentário preconceituoso) são mais prováveis para a chegada de netos, ao invés de namorados.

    Eva e Albert estão em momentos muito parecidos, são divorciados, sentem-se como almas ao leo, fora de seu lugar de direito, não só quanto ao amor, mas também se enxergam deslocados quando se vêem a frente de suas filhas. O claro choque de gerações os constrange, os hábitos alimentares e sexuais de seus rebentos os deixam admirados de forma negativa, mas eles não precisam fazer grandes dramas em relação a isto, a reação de ambos a isso é de resignação, como quase todas as respostas que dão para as situações corriqueiras.

    A situação constrangedora que chega a Eva a faz mudar ao ponto dela deixar de ser ela mesma, e passa a emular as reclamações e experiências de outrem. Passa a ser taxativa com Albert e o critica de tal forma que ele sente-se magoado. Os remendos que faz tornam sua vida ainda mais difícil que antes, e ela experimentara cada vez mais a rejeição daqueles que importam para ela. Uma postura tão dobre pouco combina com uma pessoa adulta, e Eva abusa disso quando não consegue administrar seus sentimentos. À Procura do Amor trata do medo da criação de expectativas e da permissividade de (re)viver sensações tipicamente juvenis.

    A imaturidade da protagonista é uma demonstração de que a prudência não necessariamente vem acompanhada da idade ou do tempo de vida. A realizadora Nicole Holofcener faz uma direção comedida, dando espaço para as boas atuações de seu elenco. Gandolfini e Dreyfus trabalham bem. O fato de não haver muita química entre os dois é desconfortável e serve a trama, enfatizando o quanto ambos são deslocados e se sentem inadequados. Eles não são um casal típico de filmes açucarados, tanto que o desfecho do filme não se dá com um romântico beijo, e sim com uma piada constrangedora, mais uma vez sobre as expectativas que cada um carrega para si e para os outros.