Tag: Marcelo Galvão

  • Crítica | O Matador

    Crítica | O Matador

    Desde que começou a fazer material original, a Netflix tem colecionado muitos sucessos em matéria de série, e alguns insucessos quanto a filmes. Poucos longa-metragens fogem a linha da mediocridade que normalmente acompanha essas co-produções, sendo as exceções Beasts of No Nation e Okja. Pois bem, O Matador é um filme nacional, do subgênero de western, filão esse bem raro dentro da filmografia brasileira, salvo exceções como a pornochanchada O Pistoleiro Chamado Papaco, de Mário Vaz Filho, e Faroeste, de Abelardo Carvalho.

    Na trama focada no sertão nordestino, acompanhamos Cabeleira (Diogo Morgado), um matador pernambucano. Sua trajetória passa pela história de várias pessoas que habitam os lugares ermos do interior, desde pessoas abastadas e desvalidas, justas e injustas. O grave problema do filme é que nenhum dos personagens mostrados tem qualquer carisma, todos são genéricos e sem personalidade, não há por quem torcer, ninguém para simpatizar ou antipatizar.

    Se não há como se importar com as pessoas que aparecem, tampouco há como ocorrer qualquer conexão com a história, uma vez que esta também se mostra genérica. Há pouca função ou diferencial em O Matador, as atuações de quase todo o elenco é extremamente caricata e o ritmo também é sofrível. De positivo há a composição de imagens, que em alguns momentos gera belas composições visuais, ainda que não seja uma constante.

    Laerte-se e O Roubo da Taça também foram co-produções com o serviço de streaming, ainda que tenham tido um formato de exibição diferente, com o primeiro passando em festivais e depois na Netflix e o segundo indo ao Festival de Gramado, depois circuito comercial de cinema e só mais tarde fazendo parte do catálogo do serviço.

    O longa buscar um diferencial dos demais westerns modernos, com uma estética própria mas que não passa da tentativa. O resultado final é fraco até em comparação com a filmografia anterior de seu realizador Marcelo GalvãoColegas e A Despedida – e não consegue prender muito a atenção do espectador graças as atuações de seus personagens e a previsibilidade de seu texto.

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  • Crítica | Colegas

    Crítica | Colegas

    “Eu quero ver o mar!”, “Eu quero voar!”, “Eu quero me casar!”.

    Sob o clima revolucionário da trilha sonora de Raul Seixas, a comédia de Marcelo Galvão traz à tona temas mais do que reais e sérios. Colegas acompanha os sonhos de Stallone (Ariel Goldberg), Márcio (Breno Viola) e Aninha (Rita Pook), três amigos com Síndrome de Down que fogem da instituição onde moravam desde crianças, em busca da realização seus maiores desejos, respectivamente: ver o mar, voar e se casar.

    Inspirados pelos seus filmes favoritos, eles vivem dias de Thelma & Louise, viajando até Buenos Aires enquanto são caçados por uma dupla de policiais bonachões e pela imprensa sensacionalista que os transforma em uma gangue de criminosos fortemente armados e perigosos.

    O filme é uma trama cheia de citações e referências a grandes clássicos do cinema, como Pulp Fiction, Cães de Aluguel, Homens de Preto, Exterminador do Futuro e A Vida é Bela. Para os colegas que trabalhavam na videoteca, esses filmes eram realmente inspiradores e sustentam um enredo tão surreal quanto as histórias que eles desejavam viver.

    A aventura de Stallone, Márcio e Aninha começa com a invasão a um circo abandonado, assaltos a restaurantes, uma pescaria em alto mar, um casamento, um show onde arrumam briga, um tango ao ar livre e um jantar francês sofisticado. Nesse meio tempo, os protagonistas, vividos por um elenco altamente talentoso e preparado, se deparam com questões comuns à vida das pessoas com e sem deficiências, como a sexualidade, a saudade e a independência.

    A produção aborda um tema de grande peso polêmico com a leveza da comédia e um sutil descompromisso com a verossimilhança, lembrando uma epopeia contada por um narrador (Lima Duarte) que brinca com a realidade em cenas improváveis na vida de um adolescente. A deficiência é abordada com poucos tabus, transformando o preconceito em algo risível.

    O tom pastel presente na fotografia de Rodrigo Tavares contribui para a ambientação do filme entre as décadas de 1970 e 1980, mostrando a alta qualidade da produção que teve reconhecimento internacional e levou sete prêmios no ano de 2012.

    O filme também alcançou grande notoriedade com a campanha #vemseanpenn, realizada pelo ator Adriel, que, inspirado pelo seu personagem, lutou pela realização de seu sonho: conhecer seu ídolo. Em Uma Lição de Amor (I Am Sam, 2001), Sean Penn viveu o papel de Sam Dawson em uma história de um deficiente intelectual que cria a filha com a ajuda dos amigos, filme que trouxe grande notoriedade para o tema. A abordagem da deficiência no cinema de forma pouco comum e estigmatizada como foi feita em Colegas, abre os olhos do público para a simplicidade e espontaneidade com que o assunto deve ser tratado.

    A atuação de Leonardo Miggiorin, Marco Luque, Juliana Didone, Otávio Mesquita e tantos outros nomes populares da televisão brasileira fica ofuscada diante do talento e da autenticidade da interpretação dos protagonistas, que mesmo enfrentando tantas adversidades, seguem inabaláveis em suas jornadas fictícia e real.

    Texto de autoria de Mayra Massuda.

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