Crítica | Temporada de Caça
Um grande drama para um ator veterano é conseguir trabalhos quando a velhice se aproxima e a beleza vai rareando. As possibilidade de papel tendem a ficar escassas, fazendo muitos artistas entrarem para o filão dos filmes de ação, especialmente quando estes já protagonizaram tais fitas. Longe de ser um brucutu indiscutível, John Travolta teve seus bons (A Filha do General, A Outra Face) e maus (A Reconquista) momentos dentro do gênero e faz Emil Kovac, um ex-agente sérvio em busca de vingança — praticamente invertendo a máxima de Dupla Implacável, filme no qual era um americano em terras estrangeiras, para ser um europeu nos Apalaches.
São levados à tela, o tempo todo, signos que remetem à caça, já que havia uma temporada aberta e um estava caçando o outro. Kovac, com todo o seu comportamento invasivo, faz uma entrevista com seu inimigo, e eles ficam se curtindo em um enorme diálogo, encarando-se mutuamente, como se algo especial fosse acontecer, ainda que qualquer possibilidade de suspense seja cortada pela clara inabilidade do diretor Mark Steven Johnson em criar tal aura; ao invés disso, mergulha-se no drama familiar de Benjamin. Este seria um filme de atores que se apoiaria no talento de Travolta e De Niro, mas o roteiro não colabora para tal.
A fita até parece ir por um lado pouco usual, talvez até emotivo, mas tal tentativa é cortada pela ação que finalmente acontece em uma perseguição pela floresta. As escolhas de Johnson são corajosas, uma vez que ele não esconde o seu monstro, e aproxima-o do alvo, quebrando um paradigma que geralmente é respeitado. Mas fora isso, a sequência possui muitos problemas. O assassino balcânico mostra uma superioridade sobre o já combalido americano, que se vê em uma posição de frágil presa, desconstruindo o arquétipo de macho alfa que o ator costuma fazer. Há poucos momentos em que ele se recorda dos bons tempos, e mesmo quando estes parecem empolgar, são cortados por cenas sem alma ou conteúdo. O desmotivado soldado aposentado chega a fazer às vezes de Rambo e MacGyver, pondo para fora o seu instinto de sobrevivência, buscando forças internas para estar disposto para o duelo com Kovac.
Há uma tentativa honesta e bem intencionada de mostrar uma história triste, de genocídio e irresponsabilidade por parte dos americanos, mas o que deveria ser tocante fica risível graças à completa falta de sutileza na abordagem da história. Kovac varia de personalidade, algumas vezes mostrando uma honradez irretocável, e em outras sendo um simples sociopata capaz de ameaçar até mesmo a família de seu inimigo, igualando-se àqueles que tanto criticou.
O quadro político desenhado nos discursos de Ford é ruim, tão mal feitos quanto à sua tortura estúpida e à calvície mal coberta de Travolta. Mesmo os momentos em que se esperam apenas boas sequências de ação descompromissada, o gozo é cortado com cenas mal pensadas, executadas de modo vergonhoso para os atores. O filme todo é um enorme exercício de vergonha alheia, para os que têm uma carreira interessante, e de repetição para a já malfadada trajetória do realizador. O jogo de gato e rato tenta equilibrar o duelo, mas não o faz de modo interessante. O final é doce, ao contrário do resto do filme, mas é tão mal construído que faz sentido dentro da proposta apresentada nos longos 80 minutos de extensão da fita.