Crítica | Pets: A Vida Secreta dos Bichos
Estratégia. Filmes como Pets: A Vida Secreta dos Bichos, e acreditem, eles germinam em larga escala todos os anos à procura de recriar e fortalecer o olhar bitolado de um público pré-alienado, carregam então como premissa básica o efeito parque de diversão como unidade e norte primordial de uma bússola de orientação única: Entretenimento. Não enquanto arte, mas como objetivo singular para o que realmente importa. No caso, uma dourada bilheteria totalizante bem no fim do arco-íris; o que não deixa de ser ironia pelo caminho ser de fato bem chamativo e colorido, porém nem um pouco brilhante. Nada contra, financeiramente falando, a essa experiência vazia (lê-se: esvaziada) e preguiçosa dos espetáculos gratuitos mediante artifícios cafonas e aparentemente inesgotáveis que uma indústria aceita promover quando a criatividade decide tirar férias e deixar na contra-mão de sua excelência o banal para mandar no jogo, agora previsível, retirando assim qualquer empolgação caso o aniversário de um mês do espectador já passou.
Todavia, após assistirmos boa parte da produção anual das animações, fica fácil afirmar que este seja o gênero, atualmente, que mais sofre pelo bombardeio repetitivo de um grande maniqueísmo torpe que torna lugar-comum ideias um dia interessantes como a de Pets; talvez a melhor já vinda do estúdio de Meu Malvado Favorito e Minions, o que não significaria muita coisa, mas talvez, uma esperança de verticalização qualitativa nas próximas histórias animadas da Universal. A trama gira em torno do cãozinho Max, que vive “muito bem, obrigado” enquanto animal-único de um apartamento na tranquilidade de Manhattan, Nova York, junto a sua dona. O filme subverte então a expectativa dos donos que deixam seus bichanos domesticados sem saber que estes interagem livremente entre si, sendo em tese mais sobre a exposição de práticas humanas em animais que o ocultar desses hábitos, na pele de gatos e passarinhos, tornando-se, uma vez apelativos, mais que relacionáveis a todos nós.
Nota-se que tudo vai bem para Max, até a chegada de Duke, um segundo e enorme cachorro que desestabiliza sua zona de conforto logo antes de ambos precisarem se unir, junto de outras espécies criadas em cativeiro doméstico contra uma ameaça externa, mas que, é claro, pode muito bem afetar a bolha até então apenas de confronto duplo que compartilhavam. Uma amizade que irrompe do nada, paralelo a uma história que começa bem e nunca decide onde quer tocar, senão, no tipo mais barato de entretenimento possível cuja forma de expressão já estamos mais que habituados.
O problema não apenas vem da comparação com um dos cânones da animação mundial, Toy Story, que na virada do milênio já imprimiu verossimilhança absoluta nos gestos e no convite à aproximação e curiosidade do olhar (nosso) aos costumes de meio-dúzia de brinquedos em problemas humanos que em nenhum momento apelam a personagens fofinhos ou situações fáceis para validar a experiência de assistir os desdobramentos dessa realidade. O problema surge mesmo da falta quase que total de desenvolvimento em todas as áreas da produção, desde os predicados dos gráficos digitais (os mamíferos são todos invertebrados) ao próprio potencial dos temas apresentados; o que, com certeza, não é pouco, mas ganham o pior tratamento possível durante uma hora e meia de projeção que agradou em cheio o seu público-alvo: Recém-nascidos descerebrados numa encubadora, firmando-se como uma das dez maiores bilheterias no mundo no ano de 2016, acima inclusive de Deadpool graças a uma bela campanha de marketing. Junto de um McDonalds posto por coincidência na saída do cinema, é o que importa. Estratégia.