Crítica | De Palma
De Palma, documentário de Noah Baumbach (Frances Ha e Enquanto Somos Jovens) e Jake Paltrow (Sonhando Acordado e Os Mais Jovens) começa mostrando o diretor biografado explicando seu fascínio pela obra Um Corpo Que Cai, clássico absoluto de Alfred Hitchcock, diretor que seria reverenciado em praticamente toda a filmografia do autor americano. O filme seria todo narrado pelo personagem título, driblando qualquer possibilidade de monotonia que a premissa supostamente teria.
Brian de Palma é um diretor normalmente subestimado, em especial quando é comparado aos seus contemporâneos da Nova Hollywood, como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Clint Eastwood, Steven Spielberg etc. O filme se dedica a mostrar as carreiras que o cineasta pensava para si antes de decidir se tonar diretor de cinema e o faz de maneira bastante íntima.
A riqueza do longa mora nos relatos de Brian, que discorre por exemplo sobre a larga parceira que estabeleceu com Robert DeNiro, desde Quem Anda Cantando Nossas Mulheres e Olá Mamãe, até a parte da carreira do ator onde o mesmo já era um astro, em Os Intocáveis, detalhando até os rompantes de vaidades do interprete ítalo-americano, que era bem mais exigente tanto em relação a cachê quanto em agenda, agindo como um mimado mesmo com o amigo de longa data.
De Palma usa boa parte da sua exposição para explicar o seu fascínio pelo Split Screen, dividindo a tela para demonstrar através da justaposição de imagens múltiplos ângulos do mesmo momento ou a dualidade de espírito dentro da mesma história. A desconstrução da figura artística mostra um personagem rico, apesar de ser caráter de operário de cinema, louvando a entrega que o diretor faz em sua filmografia, carreira de vida pessoal, reverenciado também a visão incomum que o sujeito tem sobre a sociedade em geral.
O roteiro explora também os erros da filmografia, além das recorrentes acusações de machismo, já que utilizava as mulheres como vítimas de seus psicopatas, ao produto quando não eram as próprias as figuras que impingiam o mal. O aspecto herdado dos filmes de Hitchcock é explicado de uma maneira até pueril por parte do sujeito, que não consegue enxergar em suas atitudes qualquer misoginia.
Os méritos do filme residem em dar liberdade a Brian para falar, tanto quando o sujeito relata o lidar com tantas estrelas, quanto nas reclamações sobre o uso excessivo do CGI no cinema atual. No entanto, a parte mais emocionante está reservada para o final, onde se discute Passion, ultimo produto do biografado, tendo então uma comparação desses com os decadentes Frenesi e Topázio, onde o diretor aceita a pecha sobre si e afirma que praticamente não há cineasta que mantenha o bom nível após completar um jubileu. De Palma é um registro emocional, que não precisa tentar soar hermético para garantir um bom conteúdo, ainda que carregue em si uma veracidade digna da poesia da obra do objeto de estudo.