Resenha | Os Ossos das Colinas – Conn Iggulden
O Supremo Soberano está de volta. Pronto para liberar sua horda de mongóis ensandecidos sobre desafortunados inimigos. Ansioso para conquistar e destruir novos territórios. Sedento por vingança!
Ossos das Colinas é o terceiro livro da série O Conquistador. Saga essa que narra a vida de Temujin, mais conhecido por Gêngis Khan. Para quem não conhece os livros, aconselho antes de continuar que leiam as resenhas do primeiro (O Lobo das Planícies) e do segundo livro (Os Senhores do Arco).
Este terceiro volume inicia-se relatando acontecimentos ocorridos três anos após o final de Os Senhores do Arco. Gêngis havia dividido seu já numeroso exército, mandando seus generais para diferentes regiões do planeta para saquear, conquistar e destruir em seu nome. Cada general partiu com um tuman (10 mil homens) e com um dos filhos de Gêngis, a fim de treiná-los e endurecê-los na arte da guerra.
Tsubodai, (o maior general que Gêngis já teve sob seu comando) ficou com o filho mais velho, Jochi. Este, no alto dos seus 17 anos havia se tornado um grande guerreiro e líder astuto sob a tutela de Tsubodai. Apesar de tudo, Jochi nunca fora aceito por Gêngis como filho legítimo e herdeiro direto do Cã. Havia a possibilidade de Jochi ter sido fruto de um estupro sofrido pela primeira mulher de Gêngis. O Cã o ressentia, e sequer admitia a maioria dos feitos do filho bastardo. Jelme levou consigo o arrogante Chagatai e Khasar ficou com o mais novo dos três: Ogedai.
Gêngis chama-os de volta à Mongólia, a fim de iniciar uma nova campanha marcial. Desta vez contra os ‘’povos do deserto’’. Gêngis havia enviado mensageiros para as mais diversas terras, entre elas as terras Árabes, governadas pelo xá Ala-ud-Din Mohamed. Eis que estes homens não voltaram, Gêngis tentou por mais de uma vez estabelecer um contato ‘’diplomático’’ com os governantes daquela terra, porém recebeu as cabeças de seus homens como resposta. Isso bastava. Como ele mesmo diz em um trecho do livro: “Não sou o autor dessa crise, mas rezei ao pai céu para me dar a força de exercer vingança”.
Este é o grande estopim do livro, motivo mais do que suficiente para um povo como os Mongóis entrarem em guerra. Guerra esta narrada com os mesmos predicados dos outros volumes, mas em uma escala nunca antes vista pelo exército mongol. Além de números impressionantes do exército do xá, desta vez eles enfrentarão bestas de guerra gigantes, monstros de carne com presas de marfim nunca antes vistos por um mongol. Como derrotariam tal criatura? Eles se perguntam.
Neste volume, Conn dá um pouco mais de ênfase na impressionante estratégia e organização militar mongol. Conseguimos compreender como era prática e funcional a divisão decimal aplicada aos homens. Cada arban (10 homens) tinha seu líder, que se comunicava diretamente com o líder do jagun (100 homens), que por sua vez se dirigia ao líder do mingan (1000 homens), culminando no já mencionado tuman.
Os conflitos internos do povo de Gêngis também são mais bem explorados neste livro. As disputas por poder e reconhecimento entre Jochi e Chagatai têm, por exemplo, seu embasamento em um conceito muito bem aplicado por Gêngis: a meritocracia.
Desde os seus primeiros atos como líder, Gêngis sempre preferenciou o mérito ao parentesco. Para um homem obter seu respeito, ele tinha que se provar como merecedor de tal por suas ações, não importando sua origem. A maior prova desse sistema era o próprio Tsubodai, que começou como um adolescente no exército de Gêngis, mas que devido à sua mente astuta e raciocínio tático sem igual, subiu ao mais alto posto, se tornando um general, dono de um tuman, respondendo diretamente ao Cã. Tsubodai é somente um exemplo entre muitos. Este sistema de promoção era inédito aos povos daquela época e região. E não é difícil deduzir porque cada mongol guerreava e treinava por horas a fio sob o frio olhar de Gêngis. Esse sistema contribuía com toda a moral do exército, proporcionando-lhes vitórias improváveis e ao mesmo tempo espetaculares.
Este talvez seja o mais bem escrito livro de Conn Iggulden. Talvez o ponto no qual a história se encontra contribua para isso. Prepare-se para se deparar com tons mais sombrios desta vez. Ele se mistura com a alegria da guerra, com os anos que passam, com a nostalgia das lembranças dos principais personagens, como sempre, muito bem construídos. Ou talvez, seja apenas a evolução natural de um autor relativamente novo no mercado editorial.
As conquistas de Gêngis Khân continuam nos fascinando. Ensinando um pouco de História e nos cativando ao mesmo tempo. Não cansamos de nos impressionar com os feitos dele. Impondo a sua superioridade militar sobre diversas outras nações. Depois de três volumes, nos sentimos ainda mais próximos desse povo, das suas conquistas, das suas dificuldades. Não se espante se ao final da leitura você querer tomar um pouco de airag preto, montar o seu pônei e cavalgar pelas planícies…
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Texto de autoria de Amilton Brandão.