Tag: Romance Histórico

  • Resenha | Fora da Lei – Angus Donald

    Resenha | Fora da Lei – Angus Donald

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    Difícil quem não conheça a história – ou a lenda – de Robin Hood, o príncipe dos ladrões, senhor das florestas de Sherwood, cujo lema era roubar dos ricos para dar aos pobres. Neste livro, o autor conta essa história vista pelos olhos de Alan Dale – um jovem que, após ser pego roubando, se vê obrigado a abandonar sua mãe e juntar-se ao bando de Robin Hood, em busca de proteção.

    “Hoje, olhando para trás depois de quase sessenta invernos, mal posso acreditar em quanto eu era fraco naquela época. Eu veria coisas piores no tempo que passei ao lado de Robin, muito piores. E apesar de jamais ter sentido prazer ao ver a dor de outra pessoa, como acontecia om alguns homens de nosso bando, aprendi com o tempo a ocultar tal fraqueza, como acontece com um fora da lei ou com qualquer homem. Naquela noite de primavera, no entanto, eu era jovem, tinha apenas 13 anos. Eu sabia pouco a respeito do mundo e de suas crueldades, sabia muito pouco a respeito de qualquer coisa. Mas estava prestes a aprender muito”.
    (pag.25)

    A história é narrada em primeira pessoa e, assim como em O Grande Gatsby, o narrador não é o protagonista. Enquanto nesse, Nick Carraway conta a história de Jay Gatsby, em Fora da Lei, Dale conta sua versão da história de Robin Hood. Dale, beirando os 60 anos de idade, mora com a nora e o neto, depois que seu filho Rob morreu de hemorragia. E é através de suas memórias que a narrativa toma corpo.

    E por serem memórias é que alguns trechos soam um tanto inverossímeis. Qualquer pessoa que já tenha passado por algum momento de tensão, de stress intenso, com a adrenalina a mil, com o sangue bombando nos tímpanos, sabe muito bem que é praticamente impossível se lembrar nitidamente de tudo daquele momento. As lembranças se assemelham muito à montagem dos filmes do Michael Bay – cheias de cortes, lapsos temporais e espaciais. Contrariando essa premissa, nas cenas de luta entre os homens de Robin e os do xerife Murdac, por exemplo, Dale narra a sucessão de eventos com uma riqueza de detalhes que ninguém vivendo aquela situação conseguiria assimilar.

    Aproveitando a deixa das cenas de luta, é perceptível a influência de Bernard Cornwell na narrativa de Donald. Contudo seu texto está longe de ter a mesma intensidade, não consegue ser tão vívido e envolvente a ponto de o leitor “ser jogado” para dentro da trama, com todos os cinco sentidos sendo estimulados apenas pela leitura. Mas isso não quer dizer que a narrativa de Donald não seja agradável. É sim, bastante fluida (para usar um termo da modinha), nada cansativa, contrabalançando bem diálogos, descrições e cenas de ação.

    O Robin Hood de Angus Donald está longe de ser aquela figura benevolente e altruísta que, como afirma seu lema, rouba dos ricos para dar aos pobres. Robert Odo, nome real do personagem, não passa do filho caçula de um barão e que, apesar de carismático e bom estrategista, além de ser considerado um fora-da-lei por ter cometido assassinato, tem uma relação dúbia com os camponeses que supostamente protege. Está mais para um chefe de quadrilha que vende segurança em troca de acolhida para seu bando do que para o salteador heroico encarnado por Errol Flynn e tantos outros astros do cinema. Mas o personagem não deixa de ser interessante por causa disso. Apenas não é o bom moço a que o público – leitor ou espectador – está habituado. E, pelo olhar de Dale, o leitor vai descobrindo seu modo de encarar a vida, suas preocupações, suas motivações.

    “- Não é apenas uma simples questão de certo e errado? – perguntei. – Essas pessoas são más e devem ser punidas.
    – Isso existe. Mas o certo e o errado raramente são simples. O mundo é repleto de pessoas más. Algumas pessoas até diriam que faço o mal. Mas se eu fosse correr o mundo punindo todos os homens maus que encontrasse, não teria descanso. E, se passasse a vida inteira punindo atos maus, eu não aumentaria nem um pouco a quantidade de felicidade no mundo. O mundo tem um suprimento infinito de maldade. Tudo que posso fazer é tentar fornecer proteção para aqueles que a pedem a mim, para aqueles a quem amo e que me servem. E, para proteger a mim mesmo e aos meus amigos, os homens devem me temer, e para fazer com que tenham medo de mim, preciso matar os Peverils amanhã. E você, meu jovem amigo, deve ficar na retaguarda”.
    (pag.101)

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Resenha | Império da Prata – Conn Iggulden

    Resenha | Império da Prata – Conn Iggulden

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    Retornamos à aridez das terras mongóis e além. Uma nova geração expande ainda mais o poder da recém-nascida nação mongol e os seus inimigos compreendem a verdade nas seguintes palavras: Deus tem misericórdia, os mongóis não.

    O Império da Prata é o quarto livro da saga de Genghis Khan trazida a nós por Conn Iggulden. As resenhas anteriores também podem ser lidas aqui no Vortex (Lobo das Planícies, Senhores do Arco, Ossos das Colinas) e quem não quiser saber de nenhum spoiler histórico, sugiro não prosseguir com a leitura caso não tenha lido o livro anterior.

    Império da Prata retoma a história anos depois da morte de Genghis, seu filho Ogedai está prestes a ser nomeado Khan da nação, conforme escolha do próprio Genghis em vida. Ogedai por si só é muito diferente de seu pai e pretende obter o juramento de toda a nação dentro de sua suntuosa e recém construída cidade, Karakorum, idealizada para ser um marco e a capital dos mongóis. A própria ideia de uma construção da magnitude de Karakorum iria de total encontro com o pensamento de Genghis, que sempre cuspiu, destruiu, pilhou e massacrou diversas cidades do Império Chin, mostrando a todos o quão frágil são muros e os homens que se acostumam ao seu conforto e ‘segurança’.

    A tensão dentro da nação é enorme pois um dos outros filhos do Grande Khan, Chagatai, está sedento por se tornar o novo Khan, e não um homem (fraco, na sua visão) como Ogedai.

    Dentro deste contexto somos introduzidos a terceira geração desde o nascimento da nação, os netos de Genghis nos são apresentados, conhecemos suas ambições e legados, eles que serão o fio condutor do destino de todo um povo que se originou de tribos minguadas para se tornar em algumas décadas no que o mundo ocidental apelidou de ‘’a praga mongol’’.

    O conflito de gerações é o grande foco deste quarto livro. A esta altura já conhecemos os principais heróis que lutaram tão bravamente para formar esta unidade mongol, acompanhamos suas maiores batalhas, quase mortes, aprendizado e uma inquestionável qualidade militar como exército. Conn foi muito feliz ao chocar esses generais dos primórdios da história (Khasar, Kachiun e o maior general da nação, Tsubodai) com os netos de Genghis, que na sua arrogância juvenil, questionam os que vieram antes, suas ordens e suas decisões. Alguns por terem sim uma já grande habilidade (Batu, por exemplo), mas outros apenas por serem netos do grande pai da nação. Isso gera um desconforto bastante interessante e prende o leitor ao romance. Algo que se faz necessário já que este deixa devendo um pouco na questão ‘batalhas épicas’, algo bastante comum principalmente no romance anterior.

    E no quesito pelo qual os mongóis são mais conhecidos, expansão territorial e batalhas taticamente impressionantes, aqui temos o deleite da narrativa das batalhas contra os poderosíssimos russos e sua cavalaria pesada. A tomada de Kiev e St. Petersburgo em pleno inverno é um dos pontos altos do livro. Quando questionado ao planejar uma campanha no inverno, Tsubodai explica aos seus homens que o inverno pertence aos mongóis, eles são os homens de ferro que ano a ano sobrevivem e se acostumaram a ele. Os nobres russos se escondem em suntuosos castelos no inverno, eis aí o fator do ataque surpresa mongol que sempre foi uma constante em suas campanhas. Isso somada a já conhecida velocidade de sua cavalaria eram vantagens sobre qualquer exército, mesmo os numericamente superiores. Nenhum exército na época conseguia transpor a mesma quantidade de quilômetros em tão pouco tempo.

    Enquanto a expansão para o Oeste prosseguia, algo acontece que mudaria o destino dos mongóis e consequentemente do mundo na época. Fato este que pode ter sido responsável pela salvação da tomada do Oeste por estes guerreiros insaciáveis. Sim, os mongóis poderiam ter tomado várias das grandes nações ocidentais e caso ainda existíssemos, possivelmente este texto seria escrito em mandarim ou uma variante do idioma mongol.

    É bastante curioso notar e poder analisar (a posteriori é claro), como um acontecimento local pode ter tamanho impacto no mundo, principalmente em eras onde o contato exterior entre os povos era muito mais restrito e incomum.

    Império da Prata têm um ritmo diferente dos livros anteriores, mais calcado nos seus personagens e menos em suas ações, menos pretensioso e épico, mais intimista e sutil. Pode-se dizer que a falta da chama de Genghis caracteriza esse tom mais ameno do romance, ele com certeza faz falta, mas sabíamos que a saga contada por Conn iria além do tempo de vida do grande Khan.

    Agora nos resta ver como terminará a saga da grande nação de Genghis Khan e sua horda impiedosa.

    Compre aqui.

    Texto de autoria de Amilton Brandão.

  • Resenha | A Busca do Graal: O Arqueiro – Bernard Cornwell

    Resenha | A Busca do Graal: O Arqueiro – Bernard Cornwell

    o-arqueiroO Arqueiro é o primeiro volume da saga A Busca do Graal, de um dos mais renomados escritores britânicos. Bernard Cornwell me fez acreditar que era possível criar uma história de ação, onde seu protagonista era um arqueiro e todas as grandes cenas de batalha seriam narradas sob o ponto de vista desses homens. Entendam, longe de desmerecê-los, a questão é: O arqueiro é dono de uma posição estática em uma linha de combate, diferente dos demais, onde travam combates corpo-a-corpo, sendo assim, não achava que seria possível ler um livro onde as principais cenas de ação são protagonizadas por arqueiros. Ledo engano. Cornwell colocou minha teoria por terra e eu o agradeço por isso.

    A Busca do Graal é ambientado durante importantes conflitos da Guerra dos Cem Anos, evento que marcou a consolidação das monarquias inglesa e francesa e que ocorreu de 1337 à 1453. Apenas como breve contextualização histórica. A Guerra dos Cem Anos se deu quando a França esteve carente de um herdeiro direto, devido a morte de todos os filhos de Filipe IV, o Belo. Após sua morte, o trono foi herdado por seu sobrinho Filipe de Valois. Contudo, o rei britânico Eduardo III, era herdeiro direto de Filipe IV, já que sua mãe era Isabel Capeto, filha de Filipe IV. Com isso, Eduardo III reivindicou o direito de unificar as coroas inglesa e francesa, já que se considerava herdeiro direto ao trono, diferente de Filipe De Valois.

    É nesse cenário que conhecemos, Thomas, um jovem morador de Hookton, uma pequena aldeia da costa inglesa. Seu grande sonho é se tornar um arqueiro, porém, seu pai quer prepará-lo para se tornar clérigo assim como ele e desaprova sua ambição em se tornar um soldado. Ainda assim, Thomas aprende a manusear o arco longo com seu avô enquanto mantém seus estudos para se tornar um sacerdote. Sua vida muda drasticamente quando sua aldeia é atacada por franceses e Thomas descobre que não se trata de um ataque comum, já que o responsável pela chacina está a procura da lança de São Jorge, relíquia que estava sob o poder do pai de Thomas. O ataque se mostra efetivo e Thomas se vê diante de seu pai prometendo vingar sua morte e recuperar a lança roubada.

    Se vendo sem família, lar e dinheiro, Thomas decide seguir seu sonho e se junta ao exército britânico de arqueiros. Com o tempo, esquece de sua promessa e de seu desejo de vingança e se envolve cada vez mais com o grupo de arqueiros, tendo como objetivo de vida apenas lutar, mas Thomas é quase uma personagem saída de uma tragédia grega. Seu destino caminha a passos imutáveis para o encontro derradeiro com os responsáveis pela destruição de sua aldeia e a morte de seu pai.

    No meio disso tudo, Cornwell ainda arruma tempo para incluir a “pouco conhecida” lenda do Graal na história. Apesar de ser um assunto tão explorado, o autor consegue trazer algo mais para discussão, abordando um pouco da lenda de que os cátaros foram possuidores do cálice durante determinado tempo.

    O Arqueiro traz uma narrativa bastante descritiva, mas por nenhum momento se torna enfadonha. As batalhas são de tirar o fôlego, é possível imaginar toda o desgaste necessário de um arqueiro ao armar seu arco e lançar repetidas flechas sobre o exército inimigo, todo o horror da guerra é relatado de forma crua, como de fato era na época. Suas personagens não são maniqueístas e estão longe dos grandes atos heroicos que são retratados em “histórias de cavaleiros”, cada um tem suas ambições, sejam elas boas ou ruins, como todas as pessoas comuns. Nosso protagonista é indeciso, repleto de dilemas, vive paixões com a mesma intensidade que as esquece, e são esses detalhes que tornam a leitura tão prazerosa.

    A saga de Thomas de Hookton continua em O Andarilho e termina em O Herege. Com certeza o leitor irá querer acompanhar mais aventuras desse complexo personagem e mais de suas grandiosas batalhas nos volumes seguintes. E depois de tantos detalhes técnicos sobre os arqueiros dados por Cornwell durante a aventura, não se surpreenda se você cogitar praticar o esporte depois de ter lido O Arqueiro. Eu sei que eu pensei nisso…

  • Resenha | Crônicas Saxônicas: O Último Reino – Bernard Cornwell

    Resenha | Crônicas Saxônicas: O Último Reino – Bernard Cornwell

    O Ultimo Reino - Cornwell

    O Último Reino inicia mais uma saga do romancista histórico Bernard Cornwell.  Uma série repleta de elementos que deliciam os fãs do gênero. Uma história crua, violenta, cheia de conquistas impressionantes e traumas ainda maiores.

    Para quem já leu a série mais famosa autor, logo perceberá algumas semelhanças entre as Cronicas Saxônicas e Crônicas de Arthur. Principalmente no que se refere ao personagem principal de cada série. Quero logo ressaltar que essa impressão inicial não compromete em nada a apreciação do livro. Por se tratarem ambos de crônicas, é justificável o formato adotado de o personagem estar contando uma história já vivenciada por ele há algum tempo, fica aos leitores notarem as outras semelhanças… Ou não.

    Cornwell nos apresenta dessa vez sua visão histórica/ficcional sobre o século IX. Focando-se nas contínuas invasões que a Inglaterra sofria na época principalmente pelos povos nórdicos.

    Seguimos a linha de vida de Uthred, filho de um nobre senhor do norte da Inglaterra, herdeiro de uma fortaleza considerada inexpugnável. Uthred logo tem sua aparente segurança comprometida quando dinamarqueses surgem no litoral inglês, com seus barcos com cabeças de feras nas proas, trazendo morte, destruição e saque por onde quer que passem.

    Cabe ao pai de Uthred, juntamente com outros nobres da região tentar expulsar os nórdicos de suas terras.

    Isto é apenas o inicio de uma série de reviravoltas que iremos vivenciar neste primeiro volume, e deixo para o leitor descobrir as surpresas seguintes no decorrer da história.

    Se nas cronicas arthurianas aprendemos um pouco mais sobre a religião druida, neste, devido à grande presença nórdica na história, entramos em contato com o culto das terras geladas aos deuses antigos. Estou falando de Tor, Odin, Frigg, entre outros. O cristianismo já está na época bem arraigado entre os saxões, mas ainda há alguns resquícios das chamadas religiões pagãs entre alguns deles. Lembrando que os saxões são os donos da terra agora. Sim, é triste, mas Arthur não conseguiu manter a Bretanha livre deles e serão eles que formarão o que hoje chamamos de Inglaterra.

    Cornwell mantém nesta série as duras criticas ao cristianismo comparada a simplicidade e até praticidade de alguns ritos antigos. Com o cristianismo mais forte, conseguimos vislumbrar o início de uma estrutura cristã a qual estamos habituados hoje, com padres, bispos, monges e também santos. Com essa estrutura, fica mais fácil para Cornwell demonstrar as diversas inconsistências e hipocrisias latentes entre o que os sacerdotes pregam versus o que eles praticavam.

    Historicamente é interessante notar o interesse que a Inglaterra atraía para os povos nórdicos em busca de uma terra melhor para se viver. Dinamarqueses, noruegueses, entre outros migram, guerreiam e fazem de tudo para conquistar um pedaço dessa terra onde deuses antigos enfrentam o crescimento do deus cristão.

    Cornwell constrói um ambiente histórico bastante verossímil. Uthred não é apenas mais um clichê do ideal herói medieval normalmente concebido pelo século atual. Ele é cheio de falhas, comportamentos imprevisíveis e arrogantes. Por tudo isso ele é uma personagem muito crível, principalmente quando se compreende o pano de fundo da época.

    Cornwell mantém sua precisão na narração das diversas batalhas que Uthred enfrentará e realmente nos transporta para o campo de guerra onde praticamente conseguimos sentir o hálito azedo de cerveja do inimigo quando uma parede de escudos se entrechoca. Muito sangue e mutilação, detalhes das táticas adotadas na batalha, além de todo o júbilo por ela proporcionado acompanham o resto da descrição.

    Meu único pesar referente à escrita dele com relação a esta série pode ser um tanto quanto subjetivo, mas creio que pode sim ser notado por outras pessoas. Refiro-me a uma certa ausência na construção de um clímax para alguns acontecimentos no decorrer da história. Cornwell opta (diferentemente de outros livros seus) por ser mais direto ao narrar acontecimentos de grande impacto emocional para o nosso personagem principal. Talvez com o objetivo de ser mais marcante e talvez tocar ainda mais o leitor, mas pelo menos no meu caso, essa escolha resulta em uma falta de emoção que ao meu ver poderia ter sido mais bem construída, resultando sim em um impacto emocional maior.

    Alguns outros detalhes interessantes a se notar. A fortaleza de posse do nosso Uthred (Bebbanburg, atual castelo de Banburgh na Nortúmbria) originou a família da qual Bernard Cornwell é descendente. Inclusive ele mesmo relata que deliberadamente gosta de escrever sobre Uthred por esse motivo.  Outra curiosidade é sobre os chamados vikings. O termo para definir os nórdicos como vikings era utilizado para descrever os assaltos que eles cometiam no litoral inglês. Ou seja, o ato de chegar com o navio, saquear, matar e ir embora. Nesse momentos eles eram considerados vikings. No momento que eles adentravam o interior da Inglaterra para considera-la sua terra, eles eram simplesmente nórdicos.

    As Crônicas Saxônicas não irá decepcionar os fãs do gênero e pode até mesmo atrair novos. Vale sim a pena embarcar nos navios vikings e acompanhar a história de vida de Uthred, filho de Uthred… senhor de Bebbanburg.

    Texto de autoria de Amilton Brandão.

  • Resenha | Os Senhores do Arco – Conn Iggulden

    Resenha | Os Senhores do Arco – Conn Iggulden

    Os Senhores do Arco Conn Iggulden

    No primeiro livro da série, O Lobo das Planícies, vimos Temujin nascer, crescer e se tornar um grande guerreiro. Líder nato. Passamos por suas maiores dificuldades, desde muito pequeno, com a morte sempre à espreita, seja ela ‘vestida’ de fome, frio ou simplesmente um guerreiro de uma tribo inimiga. Nos habituamos ao clima feroz da Mongólia, as batalhas lideradas por Gêngis na sua busca por unificação das tribos mongóis. Esta unificação, enfim se torna realidade no início do segundo volume da série O Conquistador.

    No inicio do livro, Gêngis está prestes a derrotar a ultima tribo mongol que ainda não havia se unido ao seu exército. Com mais esta vitória, seu objetivo primário está então completo. A Mongólia agora é uma nação de um só ‘Cã’, como ele sempre sonhou. Gêngis tem agora a seu dispor um incrível poder militar. E o pretende usar para livrar a Mongólia de seus inimigos, que para Gêngis são os Tártaros, povo responsável pela morte de seu pai e que desde muitas gerações guerreavam com os mongóis. Gêngis ainda desconhecia seus verdadeiros inimigos: o grande Império Chinês.

    O Império Chinês se dividia em três grandes reinos na época. Os Xixia, os Song e os da dinastia Jin. O que Gêngis desconhecia era que a China e suas dinastias financiavam a guerra entre as tribos mongóis e os Tártaros. Tudo para manter os ‘bárbaros’ guerreando entre si, sem nunca se importarem com as grandes riquezas dos verdadeiros senhores daquela terra.

    Toda a ambientação que Conn Iggulden nos introduziu no primeiro livro, se mostra muitíssimo relevante para entendermos a mente de Gêngis e de seus fieis discípulos nos desafios que encontrarão daqui para frente.

    A inicial ignorância de Gêngis perante a tecnologia chinesa e seus hábitos civilizatórios são mostrados de forma muito interessante neste volume. Mas conseguimos ver também a sagacidade da mente do Khan, ao se adaptar rapidamente e surpreender a todos na luta contra estes “novos” inimigos.

    Parece difícil de acreditar, mas este segundo volume é ainda mais dinâmico e envolvente que o primeiro. Com o pano de fundo definido logo no início, sobra espaço para as batalhas épicas que Conn narra tão bem.

    Gêngis usa da arrogância sempre inerente em um grande império para atacar a China com uma brutalidade e engenhosidade militar que ninguém esperava. Isso somado à adaptação que ele implantou nas armaduras de seu exército, e fica fácil compreender como um grupo inicialmente de desgarrados conseguiu enfrentar tal potência.

    A cada vitória obtida pelo exército do grande Khan, ele incorpora ao seu povo a tecnologia e habilidade do império milenar. Armaduras em placas, onde antes só tinha couro curtido. Seda por baixo da armadura, que não se rompe quando atingida por uma flecha inimiga. Até culminar nas grandes armas de cerco. A mente de Gêngis trabalha de forma lógica e simples. Quando deparado com a primeira muralha que protegia os Xixia, um dos seus generais o aconselha a desistir, pois seria impossível para eles conseguir derrubar tamanha construção. E Gêngis responde que algo que foi construído por homens, pode também ser destruído por homens!

    A saga de Gêngis Khan e seus irmãos continua tão interessante quanto antes e nos incita a continuar nesta aventura, guiada pela escrita perspicaz de Iggulden. Com um cliffhanger no ato final que vai deixar qualquer um sedento pelo próximo livro da série.

    Se no primeiro livro vimos o início da trajetória deste magnífico homem que se tornaria senhor da Mongólia. O segundo demonstra o quão impressionante foram as conquistas em sua vida adulta.

    O Conquistador. Série esta que já se tornou imperdível para qualquer amante de um bom romance histórico.

    Texto de autoria de Amilton Brandão.

  • Resenha | O Lobo das Planícies – Conn Iggulden

    Resenha | O Lobo das Planícies – Conn Iggulden

    Quando fala-se de romance histórico, logo vem a mente o nome de Bernard Cornwell. Afinal, o autor britânico já é mais do que consagrado ao redor do mundo por retratar momentos históricos com uma narrativa calcada nos detalhes das batalhas travadas. Mas a questão é que Cornwell não reina absoluto no gênero, e um conterrâneo dele merece atenção.

    Estou falando de Conn Iggulden, que depois da bem sucedida empreitada em contar a história de Júlio César na sua tetralogia sobre o Império Romano, nos traz agora uma história envolvendo outro grande (senão o maior) conquistador da História.

    “Gengis Khan é meu nome…e minha palavra é ferro!”

    Igguldenn narra neste primeiro romance da série o início da jornada de Temujin (nome de batismo de Gengis) ainda na infância, e seu caminho para se tornar o grande ‘Cã’, unificando as tribos da Mongólia que na época viviam em guerra umas com as outras. O autor nos apresenta desde o início o quão dura é a vida na Mongólia na época, com um inverno duro, era uma verdadeira vitória simplesmente sobreviver até o próximo ano.

    Iggulden fez uma extensa pesquisa histórica antes de começar a escrever a série, e foi até a país de origem de Gengis, viver entre eles para entender melhor a história do conquistador que até hoje é aclamado como herói entre os mongóis. Isso nos leva a uma descrição acurada, uma maior compreensão dos costumes deste povo e também de Temujin.

    Abandonado pela tribo de seu pai depois que este é morto por uma emboscada dos Tártaros, Temujin junto com sua mãe e irmãos enfrentam fome, frio e o medo de serem mortos por uma tribo inimiga, pois não têm mais a proteção da sua. Essas dificuldades, somadas a uma inata habilidade para comandar, faz de Temujin desde muito novo um ótimo e implacável líder, crescendo em poder a cada batalha vencida.

    As Batalhas…como elas são empolgantes neste livro.

    Iggulden nos faz sentir como se estivéssemos cavalgando ao lado de Gengis e disparando flechas a pleno galope. ‘Vemos’ essas mesmas flechas penetrarem aço, couro e carne, ‘ouvimos’ os gritos de terror do exército inimigo, ‘sentimos’ o vento frio da corrida em nosso rosto e ‘urramos’ de alegria junto com Gengis quando a batalha está terminada!

    Não quero dar mais detalhes da trama aqui, pois mesmo se tratando de um personagem histórico, todos os pormenores e sutilezas da vida de Gengis são saborosas surpresas durante a leitura. Vale lembrar que como em todo romance do tipo, Iggulden usa de sua criatividade para ‘ajustar’ a História à sua história, afinal o autor não tem a pretensão de escrever um livro acadêmico. Mas isso definitivamente não tira nem um pouco o mérito dos fatos narrados no livro.

    Falando em História, me lembrei de algo, que se não fosse um fato histórico, seria ainda mais difícil de se conceber: Como que uma criança abandonada, deixada para morrer sem nada, cresce para conquistar uma área com o dobro do tamanho do Império Romano?!

    Outro ponto que gostaria de salientar é o quão fácil e prazeroso foi a leitura deste livro. Iggulden mantém em sua narrativa quase que predominantemente momentos de informações vitais para a trama, sem muito espaço para divagações, isso traz uma fluidez narrativa impressionante. sem se tornar superficial. Na verdade, em uma comparação simplista entre Cornwell e Iggulden, eu diria que o primeiro é bem mais detalhista que o segundo, o que leva quase que inevitavelmente a um maior dinamismo na narrativa de Iggulden. Não estou aqui falando que um é melhor que o outro, somente que eles têm estilos um pouco diferentes. Eu adoro os livros de ambos.

    Se você já esta familiarizado com romances históricos esta série é recomendadíssima, se nunca leu nada do gênero, está aqui uma ótima opção para começar. O autor disse em uma entrevista que seriam pelo menos quatro livros necessários para contar a história de Gengis e seus descendentes. Aqui no Brasil por enquanto só temos publicados os dois primeiros livros da série. O segundo é O Senhor dos Arcos (em breve uma resenha dele aqui), o terceiro é o Bones of the Hills, este deve ser lançado por aqui em breve, também pela Record.