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  • Crítica | Cutie and the Boxer

    Crítica | Cutie and the Boxer

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    A água que vaza do andar acima é a energia que é extravasada pela pintura de um octogenário. Ushio Shinohara, pintor independente, vive uma vida de exposição, e se orgulha disso. Expõe a si através de seus traços e compassos, que o conduziram até os 80 anos, celebrados logo na abertura de um filme desbravador, de alma e arte que pontua a primeira, feita com os cuidados, detalhes e impaciências típicos de um jovem de 20 e poucos anos.

    Não há tempo a perder, revela desde a poesia das imagens, a arte gráfica dos efeitos especiais que edificam a essência da experiência explícita e inclusiva deste existencial documentário artístico, no qual a forma e estrutura narrativa lembram, de longe, os efeitos do recente A Imagem que Falta. Contudo, se o filme do Camboja evoca um registro histórico do país, Cutie and the Boxer é o registro de um homem, sua esposa e iniciativas mútuas; antes e durante uma exposição em Nova York. “Eu nunca conheci ninguém de coração tão aberto”, revela Noriko, a Sra. Shinohara, em certo ponto, dona de uma arte mais sensível de vínculos mais ligados ao que aprecia e reproduz, talvez, nas mais belas imagens do filme. Os bastidores são, quase sempre, mais interessantes que o palco, e aqui isso não é uma exceção.

    Não poderia deixar de ser, aliás. Adentrar a vida que afeta a arte, a intimidade de quem molda a realidade física na textura da tinta, de timbres ou verbetes é algo irresistível, integração que pode remeter ao instinto humano de desejo ao proibido, ou ensejo ao oculto, trancado a oito chaves. Graças a isso, quando o cineasta Zachary Heinzerling expõe a arte através da relação do casal japonês, ao invés do contrário, o filme ganha enorme profundidade arranhada por uma intervenção óbvia e previsível, que some no clímax e, sobretudo, aumenta a potência das esculturas surreais, dos coloridos socos de Ushio, um Pokémon idoso quando pintado corpo afora, nas telas que avançaram pelo Oriente rumo à consagração ocidental de mais um talento nipônico, muito além de fronteiras nacionais e recantos domésticos. O que sobra da ovação unânime do público norte-americano, enfim, não deixa de ser a história de um casal devotado ao mundo pictórico que só compartilharam, na verdade, entre si.

    Como Picasso ou Van Gogh se comportavam, longe dos pincéis, é a pergunta que nasce do inconsciente de quem assiste essa realização. Ou, em cenário brasileiro e literário, havia vida fora da poesia para Quintana ou Hilst? Sim? Então, qual seria a intensidade das imagens reveladoras dessa intimidade invadida? Alta, com certeza, dessa espécie de metalinguagem indireta que chega a unir o ofício e a rotina, juntos, na interação entre cotidianos de quem se mostra assim, e na verdade é assado, ou cozido em vidas tão normais como as de quem se diz fã. É muito bacana como o documentário não é baseado na vida de ninguém, mas é e respira a vida dupla e às vezes única de dois ‘alguéns’ ligados não apenas pelo trabalho.

    De volta a questão narrativa, o acervo particular de Noriko e Ushio consta de imagens amadoras que trazem outras pinceladas de fidelidade verídica ao resultado já satisfatório que a película evoca, no entorno de opiniões despretensiosas a partir de um registro semi-pessoal – diz-se ‘semi’ devido a variância entre a consolidação do evento novaiorquino inicial e a curadoria crítica em voga, paralelamente, com extrema tenacidade de intenção, através de uma edição cinematográfica que conserva certo humor em si. Elemento satírico muito bem-vindo, neste caso.

    Acima de tudo, é notável como Zachary e seu filme só atestam o que deve ser mostrado, e isso é raro em documentários fora de temas grandiosos como especulação financeira, guerras ou outros episódios sociais importantes. É incrível ouvir Noriko dizer com segurança e liberdade que não gostou de uma obra que seu marido, pela dificuldade da feitura, se emociona ao contemplá-la ainda incompleta. Um grande close em Ushio, num filme que se resume em várias cenas-síntese. Cutie and the Boxer não é uma aula de educação artística, mas dá vez ao essencial, ao enxuto, e a favor de interpretações mais soltas e ricas, a um sentido pouco mais que básico na carreira e nos passos de um casal artístico, completo e seguro o suficiente para, após uma vida inteira de mãos dadas e sujas de tinta, serem totalmente transparentes num futuro e irrepreensível legado de socos e sensibilidade.

  • Oscar 2014 | Indicados e Ganhadores da Premiação

    Oscar 2014 | Indicados e Ganhadores da Premiação

    Melhor Filme

    12 Anos de Escravidão (vencedor)
    Trapaça
    Capitão Phillips
    Clube de Compras Dallas
    Gravidade
    Ela
    Nebraska
    Philomena
    O Lobo de Wall Street

    Melhor Atriz

    Cate Blanchett, Blue Jasmine (vencedor)
    Amy Adams, Trapaça
    Sandra Bullock, Gravidade
    Judi Dench, Philomena
    Meryl Streep, Álbum de Família

    Melhor Ator

    Matthew McConaughey, Clube de Compras Dallas (vencedor)
    Christian Bale, Trapaça
    Bruce Dern, Nebraska
    Leonardo DiCaprio, O Lobo de Wall Street
    Chiwetel Ejiofor, 12 Anos de Escravidão

    Melhor Diretor

    Alfonso Cuarón, Gravidade (vencedor)
    David O. Russell, Trapaça
    Steve McQueen, 12 Anos de Escravidão
    Martin Scorsese, O Lobo de Wall Street
    Alexander Payne, Nebraska

    Melhor Atriz Coadjuvante

    Lupita Nyong’o, 12 Anos de Escravidão (vencedor)
    Sally Hawkins, Blue Jasmine
    Jennifer Lawrence, Trapaça
    Julia Roberts, Álbum de Família
    June Squibb, Nebraska

    Melhor Ator Coadjuvante

    Jared Leto, Clube de Compras Dallas (vencedor)
    Barkhad Abdi, Capitão Phillips
    Bradley Cooper, Trapaça
    Michael Fassbender, 12 Anos de Escravidão
    Jonah Hill, O Lobo de Wall Street

    Melhor Roteiro Adaptado

    12 Anos de Escravidão, John Ridley (vencedor)
    Antes da Meia-Noite, Richard LinklaterJulie Delpy e Ethan Hawke
    Capitão Phillips, Billy Ray
    Philomena, Steve Coogan e Jeff Pope
    O Lobo de Wall Street, Terence Winter

    Melhor Roteiro Original

    Ela, Spike Jonze (vencedor)
    Trapaça, Eric Warren Singer e David O. Russell
    Blue Jasmine, Woody Allen
    Clube de Compras Dallas, Craig Borten e Melisa Wallack
    Nebraska, Bob Nelson

    Melhor Filme Estrangeiro

    A Grande Beleza (Itália – vencedor)
    Alabama Monroe (Bélgica)
    A Caça (Dinamarca)
    A Imagem que Falta (Cambodia)
    Omar (Palestina)

    Melhor Documentário

    Gravidade, (vencedor)
    Trapaça
    Capitão Phillips
    Clube de Compras Dallas
    12 Anos de Escravidão

    Melhor Fotografia

    Gravidade, Emmanuel Lubezki (vencedor)
    O Grande Mestre, Philippe Le Sourd
    Inside Llewin Davis: Balada de um Homem Comum, Bruno Delbonnel
    Nebraska, Phedon Papamichael
    Os Suspeitos, Roger Deakins

    Melhor Maquiagem e Cabelo

    Clube de Compras Dallas (vencedor)
    Vovô Sem-Vergonha
    O Cavaleiro Solitário

    Melhor Mixagem de Som

    Gravidade (vencedor)
    Capitão Phillips
    O Hobbit: A Desolação de Smaug
    Inside Llewin Davis: Balada de um Homem Comum
    O Grande Herói

    Melhor Edição de Som

    Melhor Figurino

    O Grande Gatsby (vencedor)
    Trapaça
    O Grande Mestre
    O Nosso Segredo
    12 Anos de Escravidão

    Melhor Canção Original

    Let it Go, Frozen: Uma Aventura Congelante (vencedor)
    Alone Yet Not Alone, Alone Yet Not Alone
    Happy, Meu Malvado Favorito 2
    The Moon Song, Ela
    Ordinary Love, Mandela

    Melhor Trilha Original

    Gravidade, Steven Price (vencedor)
    A Menina que Roubava Livros, John Williams
    Ela, Will Butler e Owen Pallett
    Philomena, Alexandre Desplat
    Walt nos Bastidores de Mary Poppins, Thomas Newman

    Melhor Design de Produção

    O Grande Gatsby (vencedor)
    Trapaça
    Gravidade
    Ela
    12 Anos de Escravidão

    Melhor Animação

    Frozen: Uma Aventura Congelante (vencedor)
    Os Croods
    Meu Malvado Favorito 2
    Ernest & Celestine
    Vidas ao Vento

    Melhor Curta de Animação

    Mr. Hublot (vencedor)
    Feral
    Get a Horse!
    Possessions
    Room on the Broom

    Melhor Curta-Metragem

    Helium (vencedor)
    Aquel No Era Yo (That Wasn’t Me)
    Avant Que De Tout Perdre (Just Before Losing Everything)
    Pitääkö Mun Kaikki Hoitaa? (Do I Have to Take Care of Everything?)
    The Voorman Problem

    Melhor Curta-Documentário

    The Lady in Number 6: Music Saved My Life (vencedor)
    CaveDigger
    Facing Fear
    Karama Has No Walls
    Prison Terminal: The Last Days of Private Jack Hall