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  • Crítica | Não Pare na Pista: A Melhor História de Paulo Coelho

    Crítica | Não Pare na Pista: A Melhor História de Paulo Coelho

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    Não há meias medidas para Paulo Coelho. Uma parcela identifica-o como um querido escritor, um dos autores vivos mais lidos e traduzidos no mundo; outros rechaçam sua narrativa com veemência, taxando-o como péssimo prosador. Nesta corda banda de amor e ódio vive o autor, um homem paradoxal.

    Não Pare Na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho representa a tradicional biografia cinematográfica com espaços temporais distintos apresentando diferentes facetas do biografado. Iniciando-se com uma cena de impacto, uma tentativa de suicídio na época de sua juventude, observamos a agonia do jovem Coelho. Um garoto deslocado, sem muitos amigos, considerado feio demais para se aproximar de uma garota. O único propósito de sua vida é ganhar uma máquina de escrever. Após a tentativa de suicídio e uma internação obrigatória no manicômio, surge a primeira entre muitas rupturas da relação paterna. Para Pedro Coelho, o filho deve seguir uma profissão tradicional, e a incompreensão da visão do filho proporcionaria futuramente a fuga do jovem para viver sozinho.

    Além da juventude de Coelho, acompanhamos o início de sua vida adulta e a maturidade consagrada. Três tempos narrativos demonstrando as fases passadas pelo autor. O período após a saída do escritor de sua casa contém os momentos mais transformadores na carreira de Coelho. Na época, conhece Raul Seixas que, de acordo com o longa, ensina-o a se expressar de maneira direta nas letras que escreveram em parceria. Desde o princípio, observamos que o autor defende o conceito da simplicidade artística, uma maneira direta de atingir o público e que, futuramente, também se tornou parte de seu estilo literário: uma obra rápida com frases precisas e existenciais para impactar o leitor.

    Após o período regado a drogas e bebidas com Seixas, o autor passa por uma intensa transformação interna em uma viagem de peregrinação pelo caminho de Santiago. É nesta viagem que a dimensão espiritual do equilíbrio e do autoconhecimento apresenta-se no longa. São cenas que abusam de falas e personagens, realizando apontamentos que fundamentaram seu caráter e serão base para o primeiro sucesso, O Diário de um Mago.

    As diferentes mudanças de personalidade de Coelho em momentos distintos demonstram uma intenção de nunca seguir modelos tradicionais de vida. O autor sempre renegou o que poderia ser comum a outros, à procura de sua própria vontade. Porém, as fases de sua vida são apresentadas de maneira tão bruscas que não aparenta haver um conectivo direto entre elas. Como se assistíssemos à história de um garoto problemático, um letrista inspirado que alcançou seu próprio nirvana, e o escritor consagrado comemorando seus louros. São elementos chaves que apresentam-se na obra sem dimensionar exatamente como e quando os caminhos de sua vida resultaram no homem que ele se tornou. Um erro que não deveria existir em um filme que intenta ser uma biografia dramatizada de uma vida real. Não cabe ao público conhecer sua história de antemão para compreender o que acontece entre estas lacunas deixadas pela produção.

    As cenas do Mago na velhice são desnecessárias à obra. Funcionam para mostrar o sucesso evidente, algo que, neste caso, o público sabe sem precisar conhecer sua biografia (afinal, estamos falando de um dos brasileiros mais influentes no exterior). A maquiagem em excesso, com uma careca nitidamente feita em látex, tenta produzir uma semelhança com a fisionomia atual do autor, mas que também não funciona. A caracterização e motivação para este trecho do longa-metragem falham por nada acrescentar ao público. Um espaço que poderia ser retirado da obra para dar maior coesão à sua trajetória, incluindo as citadas tensões de amor e ódio que o autor parece despertar.

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  • Crítica | Raul: O Início, o Fim e o Meio

    Crítica | Raul: O Início, o Fim e o Meio

    69 - Raul - O Início, o Fim e o Meio

    Provavelmente não existe um brasileiro que não saiba ao menos um trecho de uma música de Raul Seixas. Mesmo que ele esteja morto há mais de 20 anos e não seja fenômeno de mídia em tempos tão efêmeros, Raul ainda move multidões anônimas que sempre se manifestam em qualquer show com o irritante “Toca Raul”. Porém, há tempos que o cinema necessitava de contar a história por trás do mito, como foi chamado por várias figuras populares no Brasil, como Paulo Coelho e Caetano Veloso. E esse filme de Walter Carvalho faz jus ao personagem.

    Começando com uma estrutura reta de documentário, o filme se inicia contando a história do jovem Raul e seus amigos na Bahia, montando um fã-clube de Elvis Presley e aprendendo frases, trejeitos, penteados e roupas do Rei do Rock, mostrando um ótimo trabalho de levantamento da juventude de Seixas. O início romântico e conturbado da carreira se mescla a seu primeiro casamento com Edith, fato que se repetirá ainda diversas vezes na vida do cantor, que teve várias esposas e amantes. A cada novo sucesso, uma nova fase, com novo comportamento, nova mania e novo vício, o que mais pra frente se tornará motivo da decadência de Raul.

    Com entrevistas que vão desde suas ex-mulheres, filhas e amigos, o filme se foca mais na vida pessoal do cantor do que em sua carreira, ao mesmo tempo louvando a genialidade de Raul, mas ignorando aspectos práticos, como o processo criativo, as gravações, o nome dos discos, época do lançamento, e tudo o que poderia situar o espectador no entendimento das razões pelas quais Raul fazia tanto sucesso. Da mesma forma, o filme falha em explicar porque o ídolo, de uma hora para outra nos anos 80, passa a ser esquecido e não fazer mais sucesso como antes, necessitando da ajuda (ou aproveitamento, como é discutido) de Marcelo Nova para voltar aos palcos, mesmo que se arrastando, o que alguns dizem que prolongou a vida de Raul, outros, que a abreviou. O fato é que sua carreira foi tratada de forma menor em detrimento de sua vida pessoal, o que atrapalha um pouco o entendimento do tamanho de sua obra.

    Porém, o espaço enorme dado a Paulo Coelho e a tentativa intencionalmente falsa de deixar em segundo plano o enorme ego do escritor (que sempre tenta passar como humilde, mas não resiste em pateticamente se mostrar atirando flechas em sua casa na Suíça) mostra claramente como algumas feridas ainda estão longe de serem cicatrizadas, e talvez a batalha dos egos, mesmo com Raul morto, não tenha terminado. E nunca terminará.

    O fato é que Raul Seixas, como mito e como ser humano, é indecifrável, e por alguma razão, extremamente atraente a determinados tipos de pessoas, como os “malucos beleza” que todos conhecemos. Não à toa, todo ano em SP há uma reunião de fãs e sósias do cantor para se reunirem e saudarem o ídolo. Por mais que Raul não seja hoje o fenômeno da indústria cultural, basta ouvirmos um trecho de suas músicas para nos fazer ficar com ela na cabeça durante um bom tempo, pois esconde em melodias relativamente simples letras recheadas de simbolismo. Isso basta para definir um ícone. Ou como Paulo Coelho prefere, um mito.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.