Tag: Qi Shu

  • Crítica | A Assassina

    Crítica | A Assassina

    The Assassin 1

    Toda a mitologia chinesa, e seu estilo épico e místico, regressa neste bonito e imponente longa-metragem. Dirigido por Hsiao-Hsien Hou, a Antiga China cresce em espetáculo visual, como se tudo em cena dançasse e provocasse o espectador, seja ele ocidental ou oriental, a indagar as motivações dos personagens gradualmente.

    O filme conta a história de Nie Yinniang (Qi Shu), uma assassina que quando criança foi levada de sua terra de origem para longe, sob a tutela de uma freira-mestra que a desenvolve com ensinamentos referentes a artes marciais e furtividade. Ao falhar em uma missão, ela é ordenada a regressar à província na qual nasceu para assassinar um líder político que prometeu casamento um longo tempo atrás.

    E é através deste conflito da protagonista que observamos o filme ser contado. O evidencialismo de seus sentimentos reprimidos, suas tradições e sua atmosfera ao lidar com o ambiente do qual está completamente avulsa, consequentemente o faz insegura. A duração de apenas uma hora e meia de longa-metragem aparenta lentidão e empecilhos de roteiro por demorar a trazer todo o twist. Realmente, demora para toda a estrutura do roteiro fazer efeito e você amarrar os pontos. Talvez, este ponto ficou aquém, se fosse analisar outros métodos técnicos.

    A fotografia é incrível. Toda a beleza está nos grandes planos que registram de maneira fiel o ambiente feudal chinês, a composição de quadros em cenários internos, o movimento de câmeras transpassado pelas cortinas, simbolizando uma interpretação interessante em que há a possibilidade de se analisar o desenvolvimento e a evolução da história dos personagens que são descritos na captação, dentro destes exatos planos.

    As cenas de luta só confirmam a pureza, a leveza e a dança que uma vez me foi transmitida por Herói e O Tigre e o Dragão. Juntamente à insinuante troca de movimentos conduzidos por um toque suave, há ferocidade e ausência de excessos. Tanto no tempo quanto na exposição da força de um ou outro determinado personagem.

    A passagem dos atos soa natural, mas sem tanto brilho técnico. Mesmo a direção se valendo da simples representação visual de quem está em cena, da caracterização da época (provavelmente entre os séculos VII e IX) pelas vestimentas e composição de adereços, o filme se conduz bem, sem apresentar grandes problemas. Possui seu tempo e não se importa em demorar a relevar as reais intenções. Posso ter sido chato ao notar que não houve tanto tempo destinado à personagem principal, mas suas cenas sempre são as melhores, mesmo em silêncio. A cena parece falar por ela e por si, simultaneamente.

    The Assassin funciona como um interessante épico em sua proposta de defesa de personagens principais femininas sem estereótipos e militâncias exageradas, e também trabalha muito bem ao pontuar a linha histórica cinematográfica em relação a um filme chinês de extrema leveza, condução técnica aprimorada e contextual. Junta-se aos leões na floresta e se senta como forte representante do país.

    Texto de autoria de Adolfo Molina.

  • Crítica | Carga Explosiva

    Crítica | Carga Explosiva

    kinopoisk.ru

    Na vertente de filmes de ação franceses recentes, que começavam a fazer sucesso no mercado norte-americano, Carga Explosiva tem uma trama simples e violenta, com seu protagonista Frank Martin em um mundo surreal, cuja profissão de piloto de fuga é extremamente necessária, com serviços dedicados a momentos específicos de saída de assaltos e outros trabalhos criminosos, claro, sob uma égide muito mais irreal do que seria o excelente Drive quase dez anos depois.

    O intérprete de Frank, o astro de ação britânico Jason Statham, em ascensão graças aos filmes de Guy Ritchie, ainda não tinha um papel que o reconhecesse como herói protagonista, ou neste caso como anti-herói, já que seu ofício envolve um envolvimento com a vida bandida, repleta de regras e aforismos éticos. A arma que carrega é seu BMW 735 s 1999 preto, o que faz Martin ser facilmente reconhecido entre o corpo policial de Nice, na França, algo agravado por ser um estrangeiro.

    As normas para seus trabalhos por vezes manietam Frank, mas não faz dele insensível a questões óbvias da vida, mas faz ele interferir em casos que não devia, o que a priori serve apenas para uma desculpa para que ele exiba seus dotes enquanto assassino; depois, revela que seu ethos é segmentado por uma visão paladínica, como visto na maioria dos protagonistas de Luc Besson.

    As cenas de luta envolvendo tiroteios e embates com armas brancas são de um primor exacerbado, muito bem orquestrados pela dupla Louis Leterrier (ainda estreante em longas) e Corey Yuen. A dupla, isolada inclusive da influência do roteiro de Besson e Robert Mark Kamen, reúne duas escolas de cinema de ação bastante distintas, que ao serem mescladas fogem bastante da pasteurização que fazia os action movies estadunidenses entrarem em baixa, longe demais do auge dos clássicos acéfalos vividos por Schwarzengger e Stallone nos anos 1980 e por Van Damme e Seagal em 1990. Ainda que o filme seja muito mais moderno e menos piegas, no entanto carrega uma forte carga de clichês do gênero.

    A força da franquia é baseada em seu personagem principal. Frank é “apenas” um transportador de carga, silencioso, sem passado, sem um background estabelecido – ao menos em grande parte do longa. Seu misterioso modus operandi emula o Pistoleiro Sem Nome vivido por Clint Eastwood e criado por Sergio Leone em Por Um Punhado de Dólares. Seu código de conduta é ligado a alguma vertente de bondade, que obviamente é retribuída com bons tratos da parte de sua protegida, Lai (Qi Shu).

    O argumento abusa de momentos de extrema pieguice, mas consegue contornar os maus momentos com sequências de ação que fazem relembrar os momentos áureos de Bruce Lee em O Dragão Chinês e de Chuck Norris em quase todos seus filmes, claro, sem uma habilidade de luta tão exímia, mas graficamente muito interessante, apesar da clara falta de um oponente à altura do herói.

    Apesar de ter um final cuja sincronia entre a ação e a qualidade do texto praticamente não existir, Carga Explosiva consegue acertar a dose de adrenalina, fazendo se importar com os personagens do lado justo mesmo sem aprofundar em absolutamente aspecto nenhum de suas personalidades e caráter. Todo o ideal defendido na fita seria passado por muitas outras produções de ação, o suficiente para transformar Statham no ator moderno mais requisitado para produtos de ação descerebrada, e que alçou Leterrier a um patamar que certamente não é equivalente a sua qualidade como realizador.