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  • Review | How I Met Your Mother – 9ª Temporada

    Review | How I Met Your Mother – 9ª Temporada

    how i met your mother 9 temporada

    A nona e derradeira temporada de How I Met Your Mother se passa nos preparativos do casamento de Robin (Colbie Smulders) e Barney (Neil Patrick Harris). Com isto definido, aparentemente Ted Mosby (Josh Radnor) desiste de Robin de uma vez por todas, com tal máxima sendo discutida o tempo inteiro na temporada. A famigerada Mãe (Cristin Milioti) encontra Lilly (Alyson Hannigan) no trem já no primeiro episódio, e, ao longo do ano, esbarra com outros tantos personagens, até por esta ser a baixista da banda matrimonial.

    Mais uma vez a história mais interessante não é a de Ted, e sim dos personagens secundários. O fracasso no casamento de James (Wayne Brady) assusta Barney. Faz dele inseguro, reacendendo o instinto de se manter solteiro e longe de compromissos maiores. O protagonista decide mudar para Chicago, fugindo da tentação do amor impossível para recomeçar em outro lugar. Decide, aos poucos, despedir-se das coisas que gostava e a tônica da temporada certamente enfoca nas perdas de Mosby e de como aprendeu a viver com elas. Além, é claro, de sua volta por cima. O sentimento do noivo pelo seu padrinho muda radicalmente ao descobrir que Ted ainda guarda sentimentos por sua alma gêmea. Porém, Barney crê veementemente no código entre os “bros” e os nove anos certamente preconizavam isto: a inabalável amizade entre os cinco personagens principais, acima das dúvidas existenciais individuais. Quanto ao grupo, não sobram interrogações, somente afirmações de um relacionamento eterno entre os iguais.

    Barney consegue superar alguns de seus medos, e passa a entender que o casamento é a relação que faz da esposa e ele um time. Obviamente que isto se apresenta da forma mais exagerada, desmedida e esdrúxula que Carter Bays e Craig Thomas poderiam pensar. Aos poucos, as tramas paralelas se resolvem, exceto a de Ted.  E quando a personagem resolve muitas questões de sua vida, suas ações são substituídas por atos de Marshall (Jason Segel), Lily, Barney e Robin.

    Elementos revelados na temporada final dão um tempero a mais às paranoias de alguns dos personagens. Exemplo disso é a aproximação de Loretta Stinson (Frances Conroy) e de Robin. Evidencia a ausência da figura materna na vida da noiva, o que ajuda a explicar o porquê de sua preferência pela solidão e consequente fracasso na maioria de seus namoros anteriores. Robin é confrontada sobre esta questão e sua reação é das mais maduras, mostrando que a construção de sua personagem é muitíssima competente e verossímil.

    O nono episódio é uma fuga do cenário do casamento, e mostra Barney conhecendo a Mãe. Ela o convence a parar de correr atrás de todas mulheres e dar o seu melhor por aquela por quem está apaixonado. “Você quer continuar jogando ou quer ganhar?” – em outra demonstração de evolução dentro do quadro de maturidade dos personagens, Barney tem a sua própria versão de uma epifania. A partida de cada uma das pontas do quinteto de protagonistas é dolorosa e dá mostras de que após o “sim”, as personagens poucas vezes estariam juntas de novo. Sem proferir qualquer palavra a esse respeito, os amigos fazem um juramento de aproveitar cada momento juntos para produzir ótimos momentos de memórias, sem foco na tristeza, mesmo que a solidão seja a maior possibilidade para o grupo.

    No 14º episodio há uma boa referência à Kill Bill. O capítulo é pródigo em transformar Ted em motivo de piada toda vez em que é mencionado, já que sua persona funciona melhor como escada. No 16º é feito um belo mergulho no passado da Mãe. Além de momentos tocantes, compreendemos um pouco do seu passado e os motivos que fizeram se apaixonar por seu futuro esposo.

    As melhores ocasiões da temporada são as que fogem do ambiente do casamento de Robin e Barney. Tais momentos ajudam a poetizar o enlace, tornando um momento épico (e lendário) com propriedade. A parte em que o urso finalmente traz as alianças tem diversos significados entre eles, como a vida dos dois sendo tão caótica que literalmente tudo pode acontecer e que a existência dos dois enquanto casal é somente uma porção de elementos movidos ao acaso.

    O series finale começa em um inédito flashback com Robin chegando ao grupo de amigos. A ação varia entre diversas passagens de tempo, em anos distintos, em momentos chaves na vida da nova família dos cinco, nos quais o grupo está em comunhão, embora nem todas às vezes reunidos por completo. A surpresa foi guardada para o final em um episódio com muito humor, mas também sobre a dificuldade em manter viva a amizade compartilhada mesmo com a distância e os erros de todos. O desenrolar da trama é interessante por mostrar um futuro agridoce de cada um dos cinco elementos, especialmente o nebuloso destino de Barney e Robin. O garanhão não consegue negar sua natureza, mas se dá ao luxo de apreciar momentos de iluminação, como a chegada de sua filha. Já a solitária jornalista passa o tempo viajando para negar a si mesma os fracassos que a sua teimosia causou à sua triste vida.

    A temporada foi insossa para preparar o público para os eventos finais e para todas as desculpas possíveis na questão do fim da trajetória. Ted Mosby, idoso, discute com os seus filhos sobre o que fará de seu futuro e até mesmo eles dizem para o pai não mais negar os instintos e desejos, sugerindo que se entregue finalmente à inexorável vontade negada por tantos anos. O efeito é o oposto do final de Seinfeld: em How I Met Your Mother a cereja no bolo é posta no final e toda a carga emocional acumulada durante nove anos de exibição finalmente é extravasada em um desfecho um tanto inesperado, mas bastante condizente com a lógica da série e com o anseio dos que a acompanhavam. A trajetória de Ted sempre foi secundária por ser menos interessante, mas até ele consegue atingir o seu desejo supremo e por fim ser feliz com o seu tesouro, guardado e reprimido por tanto tempo.

  • Review | Community

    Review | Community

    communityAntes de qualquer coisa, é fato indiscutível que existem muitos problemas nas produções audiovisuais feitas para a televisão. O principal deles claramente é o uso constante das mesmas fórmulas, subestimando a inteligência do espectador. O meu argumento é o seguinte: esse problema não pode ser associado exclusivamente ao formato ou as fórmulas em si, e sim a maneira como são utilizadas. Quando se coloca o assunto em análise, podemos ver que as fórmulas são produto da observação dos padrões de comportamento dentro de uma determinada classe de pessoas, ou seja, do que existe de comum na interação delas com o ambiente em que vivem.

    Dessa forma as séries de TV contam histórias com as quais muitas pessoas podem se identificar, por incluirem personagens e situações análogas aos que ela vêem, vivenciam ou idealizam em suas próprias vidas. O poder delas está concentrado nesse ponto, como no caso das novelas, pois praticamente todas as pessoas sentem fascínio em ver pedaços de si mesmas dentro de contextos estrangeiros. Mas as novelas são um caso particular. O assunto TV Aberta brasileira está em um patamar diferente, um tanto mais profundo do que uma simples questão de qualidade. Nesse argumento, quero falar sobre o conteúdo da TV Paga.

    O cenário é lastimável: Reality Shows se proliferaram e as séries de ficção estão em baixa. Os formatos mais batidos e aparentemente mais lucrativos, como os policiais, adolescente-conservadores e comédias de situação absolutamente ultrapassadas e repetitivas inundam toda a grade, produzindo um entretenimento vazio e condicionando o público a ter um senso crítico pobre. Não precisa ser assim, e nem sempre é assim. Em uma comédia de TV, as situações podem ser apresentadas de maneira inteligente e analisadas racionalmente, levando o espectador a reflexões construtivas sobre si mesmo e a sociedade em que vive. Tudo depende da construção dos personagens e da qualidade do roteiro. Um dos pontos mais importantes é o bom humor, e acima de tudo, saber fazer comédia com qualidade. O que a maioria das pessoas procura em programas da TV geralmente é o escape, algo que as faça relaxar e se libertar da tensão da rotina. Isso não quer dizer que elas procurem por entretenimento vazio, estúpido e sem significado. Eu pessoalmente só vejo qualidade no humor que desafia, quebra parâmetros e/ou distorce valores morais em prol da liberdade do pensamento. Temos muitos exemplos de grandes mentes no stand-up comedy, como George Carlin, Bill Hicks e o próprio Woody Allen, que conseguiu expressar mesmo na linguagem do Cinema o seu peculiar senso de humor cotidiano. É dentro dessa vertente que chego à recomendação que quero fazer ao meu caro leitor.

    Community – A Salvação

    Metalinguagem. Metahumor. Algo como “piadas sobre piadas”, ou o sarro tirado às próprias custas. Essa é a estratégia principal de Community, uma proposta honesta baseada no princípio de que nós não precisamos ser anestesiados, e sim incitados. Eu não vou fazer sinopse ou resenha sobre a série, porque considero bem melhor a forma como ela própria se apresenta ao espectador. Eu não preciso dizer que envolve um grupo de pessoas muito diferentes entre si que interagem em um contexto comum. Clássico. O seu principal diferencial está em um dos personagens: Abed Nadir. Abed é um excêntrico palestino-americano viciado em cultura pop que serve como uma conexão entre o público e os personagens. Em vez de “derrubar a quarta parede”, ele simplesmente abre uma “janela” para o espectador ao fazer constantes análises dos acontecimentos ao seu redor como se a sua “realidade” de fato fizesse parte de um seriado da TV, permitindo assim que possamos estar perfeitamente cientes das mensagens e ideias que serão transmitidas em cada episódio. Em referência a Platão, pode-se comparar o universo da série ao conceito do Mundo das Ideias: uma análise idealizada da realidade em contextos sociais e das características recorrentes de um mundo concreto.

    A série também evita cair na mesmice experimentando continuamente com diversos formatos através de paródias em investidas ousadas e inusitadas. A rapidez, acidez e sofisticação do humor no roteiro permitem que o politicamente incorreto e o contra-cultural tenham o seu devido espaço, promovendo o desvirtuamento de conceitos conservadores, uma das mais valiosas ferramentas para se exercitar a consciência de mundo e fugir do condicionamento geral por parte da propaganda que reina em toda a grande mídia. Não se deixe enganar: é sim possível rir e refletir ao mesmo tempo. Community está aí para quem quiser experimentar, e mesmo aqueles que não costumam assistir seriados podem abrir essa exceção.

    Texto de autoria de Thiago Debiazi.

  • Review | The Office – 1ª Temporada

    Review | The Office – 1ª Temporada

    TheOfficePara quem nunca trabalhou em um escritório, pare de ler e saia do post, este seriado não é para você. Para todos aqueles que já tiveram chefes inconstantes e que não podemos imaginar qual será sua próxima ação, vemos dia a dia aquele puxa-saco da chefia e para aqueles que tem seus amigos ou suas “panelas” para rir de todos os outros, continue lendo, este seriado nos pertence!

    The Office é um seriado de comédia sobre o dia a dia de um decadente escritório fornecedor de papéis, a Dunder Mifflin. Criado em 2005 pela dupla Ben Silverman (The Restaurant) e Greg Daniels (O Rei do Pedaço). Tem no elenco Steve Carell (O Virgem de 40 Anos e Todo Poderoso), Rainn Wilson (Six Feet Under), Jenna Fischer, (Miss Match), John Krasinski e B.J. Novak (Punk’d), além de muitos figurantes que cumprem o papel de funcionário que todo escritório tem.

    Sua primeira temporada é curtinha, 6 episódios apenas, aborda o tema Downsizing, que nada mais é que redução de custos e cortes de funcionários, onde o engraçadíssimo Gerente Regional Michael Scott (Steve Carell), tem de tomar as melhores ou não decisões para todos de sua equipe. Com a ajuda da bela e doce recepcionista Pam Beesly (Jenna Fischer), Jim Halpert (John Krasinski) o representante de vendas, faz de tudo para tirar do sério seu co-worker e incrívelmente puxa-saco bajulador Dwight (Rainn Wilson), o insuportável assistente DO Gerente Regional, assim ele mesmo diz. Temas como homossexualismo, racismo e relacionamentos no trabalho são muito abordados também.

    Com uma certeza inabalável, Michael acredita que é o cara mais engraçado do escritório e é a fonte da sabedoria dos negócios. Sem saber como ele é visto por seus funcionários, Michael acaba sempre alternando decisões absurdas ou patéticas, mas sempre muito hilárias.

    O diferencial de The Office é que quase não tem cenas externas e toda a série é feita como um documentário, com câmeras de mão e que os funcionários interagem e a usam como confessionário em muitas vezes. Seriado extremamente recomendado para quem gosta de comédia que não tenha conteúdo apelativo e que goste de dar boas risadas com piadas inteligentes.

    Texto de autoria de Henrique Romera.