Crítica | 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi
O cinema do diretor de cinema Michael Bay normalmente é criticado por seu caráter pueril, repleto de explosões desnecessárias, duração longa e preciosismo narrativo. Exceção feita a Sem Dor, Sem Ganho, sua filmografia recente pouco se diferenciou de sua marca registrada, em especial pela trilogia Transformers e seu mais recente capítulo que mistura continuação e reboot, em A Era da Extinção. As expectativas em relação ao seu décimo segundo longa-metragem eram bastante diferentes, já que todo o marketing em volta de 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi prenunciava um filme mais sério e contido.
A premissa da adaptação literária do livro de Mitchell Zuckof é realizada por Chuck Hogan, escritor do livro Prince of Thieves, o mesmo que gerou Atração Perigosa de Ben Affleck. Apesar das boas credenciais, o drama dos militares que adentram o território líbio é exibido de um modo bastante melodramático, sub aproveitando inclusive os dotes de John Krasinski, que vive o herói da jornada Jack Silva.
Incrivelmente Bay consegue compilar um filme em menos de 150 minutos, fato raro em suas últimas incursões na sétima arte, e que nem por isso garante uma história enxuta. A primeira hora é dedicada basicamente a estabelecer que os homens designados para aquele trabalho não são monstros insensíveis, e sim valorosos guerreiros que sentem saudades de suas famílias, apelando inclusive para cenas adocicadas e de pouco valor além do pueril e comum discurso patriótico cego.
O texto guarda espaço para discussões bobas, ameaças entre alistados de patentes diferentes e ultimatos feitos por um personagem inútil à trama para outro, o que faz zerar ainda mais toda a tentativa de drama estabelecida no argumento. A descida de qualidade inclui até um momento que deveria ser de tensão, com agentes estrangeiros metralhando uma bandeira dos Estados Unidos da América, cuja patética forma faz esgotar a possibilidade de se levar o filme a sério a partir dali.
A agonia da espera e expectativa servem de artifício metalinguístico, já que personagens e público vivem esta mesma experiência, com os primeiros temendo a morte, enquanto o espectador sofre com a duração do drama mal construído, arrastado ao extremo mesmo em se tratando do filme mais curto do diretor (excetuando comédias) desde A Ilha.
A fita tenta emular momentos de Guerra Ao Terror, mas sem a sutileza e talento que são típicos de Kathryn Bigelow, substituindo esses artigos por uma forte carga de islamofobia. Embora as cenas de ação consigam emular uma violência que está em desuso no cinema hollywoodiano recente, ao focar em dilacerações e deformação de corpos, não há como salvar o resultado final.
Um dos muitos personagens genéricos presentes na história, Dave Boon Benton (David Denman) lê em seu momento de lazer o clássico O Poder do Mito, de Joseph Campbell, que resume a tentativa de história proposta no longa, ao demonstrar um maniqueísmo exemplar ao retratar os soldados que tentam, a todo custo, entrar para os anais da história militar de seu país através de uma tola e datada jornada heroica. O paralelo com o monomito e com esse tipo de trajetória é o máximo de conteúdo que Bay e Hogan propõem ao seu público, não conseguindo sequer justificar o tosco folheto propagandista como máscara de filme anti-guerra, resultando em mais um produto patético do cinema de guerra estadunidense.