Crítica | Amor e Monstros
Num primeiro momento, Amor e Monstros parece só mais uma aventura para adolescentes e jovens adultos que em muito se assemelha à Zumbilândia. Essa impressão fica mais acentuada após assistir o trailer, que segue bem a cartilha de Hollywood para filmes desse estilo. Entretanto, a película lançada pela Netflix se mostra uma ótima surpresa, pois ao mesmo tempo em que tem ótimas doses de aventura e humor, traz uma reflexão muito bacana sobre o amor, amizade, luto e amadurecimento.
Na trama do filme, após a detecção de um meteoro que vem em direção à Terra, os governos lançam uma ofensiva de mísseis nucleares para o destruírem. Porém, o que ninguém contava era que destroços radioativos caíssem no planeta e provocassem mudanças profundas na fauna. Com insetos e outras criaturas gigantes e mutantes, a humanidade é dizimada e os sobreviventes são obrigados a viver em bunkers subterrâneos e outras fortalezas ao redor do globo. É nesse contexto que Joel, um jovem que perdeu a família e foi separado do seu grande amor, resolve contrariar as previsões e partir em busca da sua amada.
Nenhuma sinopse do filme faz jus ao que ele realmente é. O que aparenta ser uma comédia adolescente vai apresentando cada vez mais camadas que são trabalhadas de forma muito esperta pelo roteiro de Brian Duffield. Fazendo constante uso de metalinguagem, o filme apresenta o contexto dos eventos passados e suas consequências no presente. O protagonista Joel em sua narração em muitas vezes em tempo real e com seu caderno onde cataloga as ameaças e eventos serve como um grande guia por este mundo que nos é apresentado.
O roteiro ainda é bastante sensível em trabalhar pontos como o amor, a amizade e o luto. O protagonista é um cara puro, romântico, fato esse que o coloca sempre em evidência perante seus pares, mas que funciona como sua força motriz. Chega a ser comovente e o filme trabalha isso com delicadeza. Já sobre a amizade, o filme mostra como em certos momentos as pessoas não parecem perceber a importância que tem para os outros e isso é demonstrado aos poucos em alguns momentos comoventes que fogem de qualquer pieguice ou gratuidade. E ainda, o luto de Joel é constante, com os eventos que o provocaram sendo apresentados em conta gotas, no entanto, a forma como ele lida é bem construída e importante para a narrativa.
A direção de Michael Matthews é outro ponto forte. Em conjunto com o roteiro, evita o tom sombrio e cínico que assola as produções de Hollywood. Num determinado momento, parece que o filme vai virar um Zumbilândia genérico, porém o clichê é subvertido e o filme assume uma identidade própria, com um tom leve e divertido. O elenco é bem aproveitado, principalmente o protagonista Dylan O’Brien, promovendo dinâmicas interessantes entre ele e o cachorro Boy, além da dupla de sobreviventes que ele encontra pelo caminho (vivida pelo craque Michael Rooker e pela engraçadíssima Ariana Greenblatt) e um robô chamado Mav1s, naquela que talvez seja a grande cena do filme. O filme explora bem os clichês, inclusive os subverte de forma inesperada, fazendo com que a recompensa da jornada, tanto a de Joel quanto a do espectador, seja grandiosa.
Na parte de ação, Matthews claramente bebe da fonte dos filmes de aventura dos anos 80. As cenas são sempre empolgantes e com a dose certa de humor. Ajudam também os efeitos especiais caprichadíssimos, tão bons que em vários momentos parecem efeitos práticos e não computação gráfica. A indicação ao Oscar de melhores efeitos visuais é mais do que justa e merecida.
Enfim, Amor e Monstros é um grande filme. Talvez inesperadamente, porque tinha tudo pra errar ou se perder em algum momento, mas é um filme de encher os olhos, seja pelas cenas de ação e efeitos ou pela jornada do protagonista. Vale demais a pena.