Crítica | Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
Após uma boa estréia em longas metragens com Hereditário, o diretor Ari Aster finalmente traz a luz seu novo filme, o grotesco e bizarro Midsommar: O Mal Não Espera a Noite. A historia do filme começa mostrando jovens, lidando com os dissabores e os sentimentos comuns a vida de todos, se focando principalmente na vida de Dani (Florence Pugh) e seu namorado Christian (Jack Reynor), um casal que está nas curvas finais de sua relação, e que convivem com os amigos do homem quase o tempo todo. Da parte dos rapazes, há o plano de irem para a Suécia curtir o solstício de Verão, da parte dela, não há planos, uma vez que a irmã da moça tem problemas mentais sérios e acaba por cometer um ato nefasto e pesado.
Aster em seu roteiro mostra um drama familiar bem forte e agressivo, e já no início deixa de lado os clichês do terror como jumpscares ou trilha sonora invasiva para apresentar uma melancolia que valoriza o sentimento de perda, a inércia de quem acompanha que sente a dor dessa perda, e um bocado de humor de constrangimento.
Incrivelmente isso é apresentado com uma falta de diálogo tremenda, e com o silêncio sendo cortado basicamente por sons naturais, que remetem ao suicídio que ocorre no filme, ou a emoções fortes como o choro de Dani ao perceber sua perda. Nesse ponto, o longa é cirúrgico, muito bem pensado e potente. A sensação de incômodo piora demais ao se perceber que os personagens do núcleo dos Estados Unidos são chatos, pessoas com sérios problemas de convivência, e que não merecem qualquer tipo de torcida, são todos absolutamente odiáveis.
Aster usa angulações de câmera diferenciados, que primam pela lisergia e pelos estados alterados da mente, isso até antes de chegar em Haarga, o lar de Pelle (Vilhelm Blomgren), o amigo sueco de Christian. Na pequena cidade interiorana, que no verão não fica com o céu escuro quase nunca, eles fazem uso quase irrestrito de substâncias que entorpecem, tanto as que os estudantes levam quanto as naturais. Esse livro uso ajuda a aumentar a problemática que envolve a psique, além de levantar a possibilidade de todos os horrores e maluquices que ali ocorrem serem apenas frutos de uma bad trip tremenda.
O festival que dura nove dias é bem diferente do Midsommar real, reúne elementos de disruptura fortes demais para que qualquer pessoa não sinta algum tipo de estranheza ou desconforto. Apesar de demorar em mostrar isso, quando se nota que algo muito estranho habita aquele lugar, não há qualquer sutileza. É a partir daqui que o gore se intensifica, assim como os sentimentos de paranoia e desespero dos personagens.
Em meio as loucuras que ocorrem, ainda há espaço para questões mundanas, como brigas, vaidades e disputa de ego. Os personagens do continente americano são ou deprimidos ou egoístas, pessoas cujo caráter predominam a absoluta tristeza e miséria existencial, fato que faz discutir quem realmente é monstruoso nessa equação.
O roteiro de Aster é confuso em apresentar seus conceitos, há semelhanças enormes com os clássicos recentes de Jordan Peele, como Corra! e especialmente Nós, ainda que esse seja ainda menos explicito ou didático. O fascínio pelo desconhecido e a conexão com a natureza que Dani busca diverge demais da visão limitada de seus conterrâneos, mas também não há muita nobreza nos europeus, ao contrário, há sim um sentimento e desejo de predação.
O desfecho do filme é apoteótico, reúne os elementos que são especialidade de Aster, mas não tornam a obra algo livre de críticas, ao contrário, há problemas sérios de roteiro e concepção. O comportamento imprudente dos sobreviventes é muito mal encaixado, mesmo que eles estejam sempre ébrios, em compensação, as mulheres compartilhando sentimentos e sensações incluindo o gozo e o choro é simbólico demais, e faz a cultura alucinógena do filme se lotar de significados, justificando um pouco o entorpecer dos sentidos e o pensar. Midsommar é um filme com muitos acertos, belíssimo visual e tecnicamente, mas que tenta abraçar muito mais conceitos do que supostamente conseguiria.
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