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  • Crítica | Cinquenta Tons de Liberdade

    Crítica | Cinquenta Tons de Liberdade

    Se a série literária Cinquenta Tons já não provou a todos nós o quão vazia é sua história, o terceiro filme da trilogia segue os passos do seu material fonte, Crepúsculo, e seu final gira em torno de casamento, gravidez e uma grande ameaça. E continua tão vazia e fraca quanto um episódio 14 de uma temporada de 22 episódios em uma série já fadada ao fracasso na sua décima temporada.

    Anastasia (Dakota Johnson) e Christian (Jamie Dornan) finalmente se casam e partem para uma extensa lua de mel, até que são avisados da volta de um conhecido inimigo que busca vingança e passam a temer que o sonho se destrua antes que tenha realmente começado.

    O primeiro filme da trilogia, Cinquenta Tons de Cinza, o mais defensável dos três, tinha um design de produção e uma fotografia muito bem casados para reproduzir sensualidade a cada momento do relacionamento de Anastasia e Grey, a trilha musical também era muito bem empregada. Nesse terceiro tudo isso vai por água abaixo de vez, a química do elenco já está esgotada – provavelmente porque ninguém ali está feliz por ter que participar disso pela terceira vez – e a diversidade sexual crescente parou lá na metade do segundo filme, Cinquenta Tons Mais Escuros, porque a dinâmica do sexo continua a mesma.

    Porém a disposição de rir de si mesmo ainda é presente, o filme apela para ironias e situações tão absurdas que chega a ser engraçado, como o título do filme Cinquenta Tons de Liberdade aparecer exatamente no plano que mostra o casal trocando alianças ou o momento que Christian faz um aviãozinho com uma colher de sorvete no meio das pernas de Anastasia. Estando pior do que já foi, 50 Tons ainda faz rir, pelo menos.

    Tendo problemas parecidos com o segundo filme, ainda mais com a mesma direção, esse último capítulo tenta ganhar fôlego nas suas personagens coadjuvantes e acaba ficando extremamente caricato. O primeiro filme tinha um mérito por ter uma direção feminina e as personagens femininas parecerem mais críveis, agora com James Foleya direção masculina só parece prejudicá-las. Anastasia continua tendo suas nuances e mesmo entrando em incoerência constante, é o desenvolvimento mais interessante. Mas sua amiga, sua cunhada e sua sogra ganham arcos próprios e nenhum deles funciona. Todas as mínimas situações que vão brotando na raiz principal do filme são episódicas e sem peso, elas aparecem e somem sem grandes consequências e só servem para disfarçar uma tridimensionalidade de personagens e para tapar tempo. Parece uma novela de duas horas e nesse contexto isso não é nada positivo.

    A má vontade de todas as áreas do longa é tão visível que quase dá pra ver as  engrenagens da indústria cinematográfica produzindo dinheiro fácil em meio ás cenas. É preguiçoso desde fazer um vilão com o cabelo jogado na testa e com olhos exageradamente vermelhos da forma mais caricata possível até a sequência de flashbacks que fecha o filme. Podia ter parado no primeiro, as problemáticas ainda seriam uma questão, como o lugar da personagem de Anastasia, mas ainda teria teus méritos, agora já foi. E foi sem causar um tesão sequer. De novo.

    Texto de autoria de Felipe Freitas.

  • Crítica | Cinquenta Tons Mais Escuros

    Crítica | Cinquenta Tons Mais Escuros

    Após o estrondoso sucesso de bilheteria de Cinquenta Tons de Cinza adaptação do primeiro best-seller de E.L. James, era evidente que sua continuação, Cinquenta Tons Mais Escuros, continuaria a arrebatar fãs para as salas de cinema. Assim, o filme dirigido por James Foley não seria nem de longe uma aposta no escuro. James assumiu o cargo após diferenças criativas entre a autora do livro e a diretora do primeiro filme, Sam Taylor-Johnson, e transformou o que deveria ser um filme erótico em uma espécie de suspense sem sal.

    A história de Anastasia Steele (Dakota Johnson) e Christian Grey (Jamie Dornan) segue de onde parou em Cinquenta Tons de Cinza. Separados, Grey continua sua obsessão por Ana, a mulher sem-graça que teve a ousadia de lhe dizer “não” (por pouco tempo). Logo no início, Ana cede às investidas de Grey fazendo o “jogo-duro” mais previsível de todos os tempos. Christian demonstra ter sentimentos verdadeiros por ela, mesmo não conseguindo deixar pra trás seu lado sombrio. No jogo da sedução entre o casal, em nenhum momento o espectador duvida do que vem a seguir e toda a cafonice do filme anterior se repete. As cenas de sexo são tímidas, embora a ótima trilha sonora de Danny Elfman tente dar um tom mais sério e perigoso ao ato. Ana já está acostumada aos fetiches de Grey e, estando mais segura, faz com que a violência sado-masoquista não passe de uma transa corriqueira. Não existe aqui o despertar da novidade de outrora, apenas sexo rotineiro.

    Em uma trama em que tudo ocorre dentro do esperado, Foley consegue achar lugar para um pouco de suspense, seja no flashback inicial mostrando a infância de Christian, seja na aparição perturbadora de uma estranha garota no quarto. A cena em que Ana encontra essa garota chega a ser tensa e pode até arrancar um susto, e seu desenrolar poderia ter dado outro rumo ao relacionamento do casal. Mas nada acontece, mesmo Ana descobrindo mais segredos da vida de Grey. O perigo de se relacionar com um psicopata é apenas um lampejo, que desaparece ao frequentar bailes de gala na alta sociedade. Aos poucos, Ana vai deixando de lado seu medo de ser apenas uma sombra de Grey (sem trocadilhos com o título original) e se assume como a alpinista social que realmente é, sempre dependendo do sucesso e prestígio de seu parceiro para conseguir se destacar.

    Os momentos de tensão e perigo são facilmente resolvidos, tendo dois destaques bastante importantes. No primeiro, Anastasia sofre assédio sexual. O tema que renderia boas discussões sobre o papel do machismo na cultura do estupro é apenas vagamente explorado, e tudo se resolve com uns telefonemas. Num segundo momento de perigo, um grave acidente aéreo acaba levianamente bem, sem causar graves arranhões nas vítimas. A tensão que deveria percorrer as cenas a seguir não chega a parecer uma grande ameaça. Tudo acaba bem, sem grandes e reais perigos, mas com um gancho para o próximo filme que pode ou não ser finalmente um grande conflito a se resolver. Mas a julgar pela trama sem graça e previsível, tudo vai ficar bem de novo.

    Cinquenta Tons Mais Escuros não funciona como soft porn, passa uma péssima mensagem para as mulheres e desperdiça grandes talentos, mas tem seu lado positivo: além de ser mais curto que o primeiro filme, apresenta algumas cenas de humor não-intencionais que podem arrancar alguns risos constrangedores.

  • Crítica | Cinquenta Tons de Cinza

    Crítica | Cinquenta Tons de Cinza

    50 tons o filme 1

    O novo filme de Sam Taylor-Wood inicia-se com a rotina matinal de Christian Grey (Jamie Dornan). Após uma corrida, o personagem toma banho e escolhe as roupas para mais um dia de trabalho, com gravatas que retomam o título cinza. O evento quase consegue desvirtuar a atenção da trama ruim que seria apresentada, a história mundialmente conhecida, sucesso da “literatura” de E. L. James, Cinquenta Tons de Cinza. O prédio da companhia é belo, imponente, e por si só já intimidaria a calada estudante Anastasia Steele (Dakota Johnson), que precisa entrevistar, a pedido de uma amiga, o bilionário de boa aparência.

    Mais do que as roupas de trato fino e da aparência impecável, é a insensibilidade de Christian que gera na moça a impressão de que ele seria diferente de tantos outros homens de seu cotidiano. As salas grandes de cor branca também servem para desviar a atenção espiritual do seu “herói”, que abruptamente começa a se interessar pela intimidade da moça que o encara, em uma construção de relação boba e ainda mais mecânica do que a vista no livro.

    Aos poucos, forma-se uma atmosfera de conto de fadas pós-moderno, onde o príncipe ignora completamente a boa aparência da princesa, e ainda assim tem êxito em cooptar a atenção da amada. No entanto, os meios para alcançar esse encantamento é quase todo formado por situações constrangedoras e falas cafonas, típicas não de um homem erudito, e sim de um conquistador barato encontrado em cada bar, balada ou esquina das grandes cidades. Suas táticas de intimidação também são invertidas, já que ele usa seu dinheiro e recursos para reforçar o aspecto de homem maléfico.

    Após quase assinar um termo de confidencialidade sem ler o que está escrito nele, Anastasia mergulha em um quarto secreto, após o anúncio de Grey dizendo que “não faz amor, e sim fode com força”. No cômodo, ela vê toda sorte de brinquedos e apetrechos sexuais, ecos de uma vida mimada, cujos gostos e desejos jamais foram negados, quando a negativa não é um estado comum ou objeto aceitável.

    O auxílio visual faz momentos entediantes do livro tornarem-se dinâmicos e até aceitáveis. Grande parte da personalidade estúpida e infantil de Ana é suprimida na fita, e ela mostra muito menos rubor, por exemplo, depois dos elogios de seu primeiro parceiro sexual. No entanto, são comuns as cenas de um constrangedor romantismo, distante demais do posicionamento de dominador que Grey tenta passar.

    A beleza da nudez da Dakota Johnson faz o filme destacar-se além do ordinário comum do livro, mas não o bastante para superar o enfado que é acompanhar a lenta sedução do casal, que em termos bem conservadores tenta emular os momentos eróticos de Sete Semanas e Meia de Amor. As cenas de discussão dos termos são realizadas sob uma luz avermelhada, e tenta, em vão, sexualizar o momento, exibindo um mau gosto atroz.

    As cenas de prazer através da dor são flagradas de modo bastante conservador pela câmera, com dificuldade enorme de chocar o espectador mais antiquado e desagradando a quem vê a sexualidade como um assunto que não é tabu. O medo do choque prossegue, com a nudez pouco contemplativa de Anastasia e praticamente nenhuma sobra do corpo de Grey para o público feminino. Essa abordagem invertida em relação ao público alvo da sedução mostra inabilidades em representar fantasias e fetiches, algo que piora ainda mais nas cenas que apresentam primeiro o incômodo da moça em ter sua liberdade invadida, e depois em momentos de risadinhas constrangedoras após voar em aviões caríssimos, exibindo uma faceta bastante fútil da personagem.

    As atuações super mecânicas fazem o combalido roteiro ser ainda mais tedioso, incapaz de gerar qualquer empatia. Sequer a trilha sonora, repleta de músicas boas, consegue surpreender. Todas as faixas exibidas primam pela previsibilidade e superficialidade. As cenas em que o chicote vibra na pele da protagonista não possuem nenhuma indicação de que há sangue. Falta humanidade ao drama que é proposto, não há alma ou sentimento em quaisquer ações filmadas, nem mesmo o asco e a repulsa são bem retratadas.

    O abrupto e incômodo fim do livro é reiterado na fita, com uma cena repetida no final, claro, com sentido diferenciado. O trabalho que Taylor-Wood pouco conseguiu salvar do péssimo objeto literário em que se baseou concentra-se nos mesmos problemas éticos e defeitos sexistas e machistas. O roteiro ruim foi criticado até pela criadora da ex-fanfic, e consegue não vulgarizar, mas também não permite quase nenhuma parcela de erotismo ou sensualidade. Assim, prevalece a cafonice do argumento original, com um pouco menos de tédio, por só tomar duas horas do público, ao contrário do excessivo tempo necessário para terminar o livro.