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  • Crítica | Cinquenta Tons de Liberdade

    Crítica | Cinquenta Tons de Liberdade

    Se a série literária Cinquenta Tons já não provou a todos nós o quão vazia é sua história, o terceiro filme da trilogia segue os passos do seu material fonte, Crepúsculo, e seu final gira em torno de casamento, gravidez e uma grande ameaça. E continua tão vazia e fraca quanto um episódio 14 de uma temporada de 22 episódios em uma série já fadada ao fracasso na sua décima temporada.

    Anastasia (Dakota Johnson) e Christian (Jamie Dornan) finalmente se casam e partem para uma extensa lua de mel, até que são avisados da volta de um conhecido inimigo que busca vingança e passam a temer que o sonho se destrua antes que tenha realmente começado.

    O primeiro filme da trilogia, Cinquenta Tons de Cinza, o mais defensável dos três, tinha um design de produção e uma fotografia muito bem casados para reproduzir sensualidade a cada momento do relacionamento de Anastasia e Grey, a trilha musical também era muito bem empregada. Nesse terceiro tudo isso vai por água abaixo de vez, a química do elenco já está esgotada – provavelmente porque ninguém ali está feliz por ter que participar disso pela terceira vez – e a diversidade sexual crescente parou lá na metade do segundo filme, Cinquenta Tons Mais Escuros, porque a dinâmica do sexo continua a mesma.

    Porém a disposição de rir de si mesmo ainda é presente, o filme apela para ironias e situações tão absurdas que chega a ser engraçado, como o título do filme Cinquenta Tons de Liberdade aparecer exatamente no plano que mostra o casal trocando alianças ou o momento que Christian faz um aviãozinho com uma colher de sorvete no meio das pernas de Anastasia. Estando pior do que já foi, 50 Tons ainda faz rir, pelo menos.

    Tendo problemas parecidos com o segundo filme, ainda mais com a mesma direção, esse último capítulo tenta ganhar fôlego nas suas personagens coadjuvantes e acaba ficando extremamente caricato. O primeiro filme tinha um mérito por ter uma direção feminina e as personagens femininas parecerem mais críveis, agora com James Foleya direção masculina só parece prejudicá-las. Anastasia continua tendo suas nuances e mesmo entrando em incoerência constante, é o desenvolvimento mais interessante. Mas sua amiga, sua cunhada e sua sogra ganham arcos próprios e nenhum deles funciona. Todas as mínimas situações que vão brotando na raiz principal do filme são episódicas e sem peso, elas aparecem e somem sem grandes consequências e só servem para disfarçar uma tridimensionalidade de personagens e para tapar tempo. Parece uma novela de duas horas e nesse contexto isso não é nada positivo.

    A má vontade de todas as áreas do longa é tão visível que quase dá pra ver as  engrenagens da indústria cinematográfica produzindo dinheiro fácil em meio ás cenas. É preguiçoso desde fazer um vilão com o cabelo jogado na testa e com olhos exageradamente vermelhos da forma mais caricata possível até a sequência de flashbacks que fecha o filme. Podia ter parado no primeiro, as problemáticas ainda seriam uma questão, como o lugar da personagem de Anastasia, mas ainda teria teus méritos, agora já foi. E foi sem causar um tesão sequer. De novo.

    Texto de autoria de Felipe Freitas.

  • Crítica | Cinquenta Tons Mais Escuros

    Crítica | Cinquenta Tons Mais Escuros

    Após o estrondoso sucesso de bilheteria de Cinquenta Tons de Cinza adaptação do primeiro best-seller de E.L. James, era evidente que sua continuação, Cinquenta Tons Mais Escuros, continuaria a arrebatar fãs para as salas de cinema. Assim, o filme dirigido por James Foley não seria nem de longe uma aposta no escuro. James assumiu o cargo após diferenças criativas entre a autora do livro e a diretora do primeiro filme, Sam Taylor-Johnson, e transformou o que deveria ser um filme erótico em uma espécie de suspense sem sal.

    A história de Anastasia Steele (Dakota Johnson) e Christian Grey (Jamie Dornan) segue de onde parou em Cinquenta Tons de Cinza. Separados, Grey continua sua obsessão por Ana, a mulher sem-graça que teve a ousadia de lhe dizer “não” (por pouco tempo). Logo no início, Ana cede às investidas de Grey fazendo o “jogo-duro” mais previsível de todos os tempos. Christian demonstra ter sentimentos verdadeiros por ela, mesmo não conseguindo deixar pra trás seu lado sombrio. No jogo da sedução entre o casal, em nenhum momento o espectador duvida do que vem a seguir e toda a cafonice do filme anterior se repete. As cenas de sexo são tímidas, embora a ótima trilha sonora de Danny Elfman tente dar um tom mais sério e perigoso ao ato. Ana já está acostumada aos fetiches de Grey e, estando mais segura, faz com que a violência sado-masoquista não passe de uma transa corriqueira. Não existe aqui o despertar da novidade de outrora, apenas sexo rotineiro.

    Em uma trama em que tudo ocorre dentro do esperado, Foley consegue achar lugar para um pouco de suspense, seja no flashback inicial mostrando a infância de Christian, seja na aparição perturbadora de uma estranha garota no quarto. A cena em que Ana encontra essa garota chega a ser tensa e pode até arrancar um susto, e seu desenrolar poderia ter dado outro rumo ao relacionamento do casal. Mas nada acontece, mesmo Ana descobrindo mais segredos da vida de Grey. O perigo de se relacionar com um psicopata é apenas um lampejo, que desaparece ao frequentar bailes de gala na alta sociedade. Aos poucos, Ana vai deixando de lado seu medo de ser apenas uma sombra de Grey (sem trocadilhos com o título original) e se assume como a alpinista social que realmente é, sempre dependendo do sucesso e prestígio de seu parceiro para conseguir se destacar.

    Os momentos de tensão e perigo são facilmente resolvidos, tendo dois destaques bastante importantes. No primeiro, Anastasia sofre assédio sexual. O tema que renderia boas discussões sobre o papel do machismo na cultura do estupro é apenas vagamente explorado, e tudo se resolve com uns telefonemas. Num segundo momento de perigo, um grave acidente aéreo acaba levianamente bem, sem causar graves arranhões nas vítimas. A tensão que deveria percorrer as cenas a seguir não chega a parecer uma grande ameaça. Tudo acaba bem, sem grandes e reais perigos, mas com um gancho para o próximo filme que pode ou não ser finalmente um grande conflito a se resolver. Mas a julgar pela trama sem graça e previsível, tudo vai ficar bem de novo.

    Cinquenta Tons Mais Escuros não funciona como soft porn, passa uma péssima mensagem para as mulheres e desperdiça grandes talentos, mas tem seu lado positivo: além de ser mais curto que o primeiro filme, apresenta algumas cenas de humor não-intencionais que podem arrancar alguns risos constrangedores.

  • Friamente Calculado | 50 Tons de Marrom

    Friamente Calculado | 50 Tons de Marrom

    50-tons-de-cinza

    Depois de meses vivendo em isolamento absoluto para atingir a perfeição espiritual, eu resolvi descer a montanha e reencontrar a civilização, para dividir meus novos dons com os meus irmãos humanos. Então eu descubro que foi lançado um filme de 50 Tons de Cinza. Porra.

    Como um escritor de fanfics, 50 Tons de Cinza me ofende pessoalmente. Não por ser um fanfic piorado de Crepúsculo, por ter uma prosa que faria Paulo Coelho orgulhoso ou criar mais uma moda idiota para menininhas retardadas… Quer dizer, essas coisas também me ofendem, mas o pior é que 50 Tons de Cinza acha que é um livro sobre sexo.

    Neste “livro” acompanhamos a história de Anastasia Steele, uma garota de vinte poucos anos, sem personalidade e nenhum atrativo, que se envolve com Christian Grey, um cara rico e poderoso, que poderia estar comendo todo o catálogo da Victoria´s Secret, mas ao invés disso gosta de passar tempo com uma pessoa mais vazia que o vácuo do espaço. É a fantasia feminina perfeita… E com S&M de mentirinha para deixar as coisas picantes!

    Até onde sabemos, esse aborto literário foi escrito por E. L. James, uma mulher que está presa há décadas em um calabouço inglês, sem nenhum contato humano ou estímulo erótico, que escreveu seu famoso romance com suas próprias fezes nas paredes de sua cela, em acessos de fúria e frustração sexual.

    Como homenagem à essa pobre mulher desesperada, eu selecionei as 50 melhores frases desse “livro”, analisando seu nível de demência causado pela falta de lubrificação vaginal.

    E não, eu não li o “livro” para fazer essa coluna. Eu copiei frases de outros sites, porque eu não vou perder o meu tempo lendo essa abominação em forma de códex. Se eu quiser ler putaria água com açúcar feita para mulherzinha eu leio algum livro com o Fábio na capa.

    Fabio Standing on Hawaiian Beach RocksSELO FÁBIO DE QUALIDADE

    Pegue o seu cinto de castidade de plástico e seu chicote de papel machê e vamos começar.

    1 – “Sua voz é morna e rouca, como calda de caramelo derretido em chocolate escuro… ou algo assim. ”

    Seria muito libertador se nós, escritores, ao invés de terminar uma frase com uma comparação decente, pudéssemos simplesmente colocar ‘ou algo assim’ no final. Posso até imaginar: E o Conde se aproximou do corpo inerte da jovem, mostrando suas presas longas e afiadas, como um lobo… ou algo assim.

    2 – “E de uma parte minúscula, pouco usada do meu cérebro – provavelmente localizada na base da minha medula oblonga, onde habita o meu subconsciente – vem o pensamento: ele está aqui para vê-la. ”

    Parte pouco usada do cérebro? Ah, entendi. A autora está se referindo aos fãs. E seria uma coincidência ela citar a medula oblonga quando o texto me dá vontade de vomitar?

    3 – “Eu sinto a cor nas minhas bochechas subindo novamente. Eu devo estar da cor do Manifesto Comunista. ”

    Primeiro eu ri, depois eu suprimi um desejo homicida. Agora eu percebo que essa mistura de sinestesia e referências literárias tem possibilidades infinitas: “Os sons eram mais desconexos do que Finnegans Wake. ”; “A noite estava tão sombria quanto o Velho Testamento. ”; “Ele fedia como O Alquimista. ”

    4 – “Por uma fração de segundo, ele parece perdido de alguma maneira, e a Terra se desloca ligeiramente sobre seu eixo, as placas tectônicas escorregando para uma nova posição. ”

    Beleza? Inteligência? Sucesso? Personalidade? Isso não significa nada. Se você não consegue criar a impressão de que a sua presença consegue torcer o planeta Terra, você não tem chance com mulher alguma, cara.

    5 – “Puta merda! Ele está vestindo uma camisa branca, aberta no colarinho, e calças de flanela cinza que pendem dos seus quadris. Seu cabelo rebelde ainda está úmido do banho. Minha boca fica seca olhando para ele… Ele é tão gostoso. ”

    Sim, mulher! Agonize de paixão com minha CAMISA BRANCA! Espere para morrer de tesão quando eu lhe mostrar minha CUECA SAMBA-CANÇÃO!

    6 – “Eu quase posso ouvir seu sorriso de esfinge pelo telefone. ”

    Anastasia está a tanto tempo sem nenhum estímulo sexual que o cérebro dela já está lhe causando alucinações toda vez que ela tem contato com algum membro do gênero masculino. Se um microbiologista fizer uma análise da vagina da Srta. Steele ele vai encontrar fungos e bactérias capazes de resistir a temperaturas abaixo de zero e à desidratação absoluta.

    7 – “Seu tom é ditatorial, como sempre um maníaco por controle. Eu o imagino como um antigo diretor de cinema, usando calças de equitação, segurando um antigo megafone em uma mão e um chicote na outra. A imagem me faz rir alto. ”

    Todos nós rimos. Mas a verdade é que morremos um pouco por dentro depois de lermos isso.

    8 – “O suco de laranja está divino. Tira a minha sede e é refrescante. ”

    Que delícia, cara?

    9 – “Dois orgasmos… arrebentando nas costuras, como o ciclo de centrifugação de uma máquina de lavar, uau. ”

    É isso mesmo: dois orgasmos no mesmo dia. Você já atingiu a sua cota para as próximas duas décadas. E quem sabe na próxima vez você consegue um orgasmo tipo uma torradeira dentro de uma banheira e acabe morrendo eletrocutada.

    10 – “Hmm… Ele é macio e duro ao mesmo tempo, como aço recoberto de veludo, e surpreendentemente saboroso – salgado e suave. ”

    “O pênis ereto não é como o aço recoberto de veludo! ” – Filipe Pereira (PhD em rola).

    11 – “Porque eu sou cinquenta tons de fodido, Anastasia. ”

    Eu adoro que essa frase não pode ser traduzida perfeitamente para o português. Mas não estamos perdendo nada: é idiota em inglês também. Aliás, porque 50 tons, sua idiota? Porque não 100, 500 tons de qualquer coisa? Você só está jogando números aleatórios sem fazer sentido? Ok, então eu sou 1000 tons de enfia esse livro no seu cu.

    12 – “Agora, por favor, não se refira a você mesma como ‘uma mulher que eu fodo ocasionalmente’ porque, francamente, me enfurece, e você realmente não gostaria de me ver zangado. ”

    O que você vai fazer, Dr. Banner? Ficar verde e estuprar ela? Christian Grey é como um garoto de 14 anos que assistiu “Os Vingadores” muitas vezes e quer impressionar uma prostituta.

    13 – “Primeiramente, eu não faço amor. Eu fodo… com força. ”

    “(olhos ficando verdes) CHRISTIAN ENFIA TUDO! CHRISTIAN METE ATÉ O TALO! NINGUÉM FODE MAIS FORTE DO QUE O CHRISTIAN! ”

    14 – “Enquanto abre a porta do carro, ele levanta o olhar e me lança seu sorriso arrebatador. Meu sorriso de resposta é suave, completamente deslumbrada por ele, e eu me lembro mais uma vez de Ícaro subindo perto demais do Sol. ”

    Eu gosto de imaginar que isso é um prenúncio e que no final desse aborto literário os dois idiotas vão estar em um avião que vai cair depois de pegar fogo espontaneamente no ar. Pois é, eu sei: eu sou um otimista.

    15 – “E foi como se eu tivesse viajado no tempo de volta ao século dezesseis e à Inquisição Espanhola. Puta merda. ”

    E ninguém espera a Inquisição Espanhola. Mas, considerando o quão insano esse livro é… Talvez devêssemos. Aguardo ansiosamente pela cena de sexo envolvendo Spam.

    16 – “Ele chuta suas roupas para o chão. Santo Deus, ele é todo meu para brincar, e de repente é Natal. ”

    É claro, porque quando estamos lendo sobre sexo, o que precisamos mesmo é imaginar um homem velho e gordo, vestido de vermelho e entregando presentes em uma data religiosa. “Ho! Ho! Ho! Aqui tem um caralho para você! Que Deus lhe abençoe. ”.

    17 – “Oh, ele foi afetado com certeza – e minha pequena deusa interior oscila suavemente em um samba vitorioso. ”

    Samba da vitória é tão puritano. Porque não um pagode da sacanagem ou um funk da putaria? Pelo menos faz sentido tematicamente.

    18 – “Minha deusa interior olha fixamente para mim, batendo seu pequeno pé impacientemente. Ela está pronta para isso há anos…”

    Ela está aguardando esse momento desde que Anastasia tinha doze anos, quando seu papai entrou no quarto dela inadvertidamente e a pegou tentando se masturbar com o boneco do Ken, destruindo para sempre qualquer chance de um desenvolvimento sexual normal.

    19 – “Minha deusa interior está emocionada. Eu posso fazer isso. Eu posso foder ele com a minha boca. ”

    “Isso mesmo Anastasia, coloque o pau dele na sua boca. Agora chupe com força, sua puta. Isso… Isso minha querida… Obedeça sua deusa interior… Ahhh…”

    20 – “Minha deusa interior está dançando merengue com alguns movimentos de salsa. ”

    Meu deus interior está mostrando o dedo médio para você.

    21 – “Minha deusa interior parou de dançar e está olhando também, de boca aberta e babando levemente. Sua ereção domada, mas ainda substancial … Uau.”

    Agora eu entendi: a deusa interior é um reflexo da autora. Logo vamos descobrir que sua deusa interior também não faz sexo desde a queda do Muro de Berlim.

    22 – “Minha deusa interior está pulando para cima e para baixo, batendo as palmas como uma criança de cinco anos de idade. Por favor, vamos fazer isso… Caso contrário nós vamos terminar sozinhas com muitos gatos e seus romances clássicos para lhe fazer companhia. ”

    Agora eu me sinto mal pela autora desse lixo. Será que ninguém pode fazer a piedade de comer essa mulher horrível? Quem sabe nós começamos um Kickstarter para isso?

    23 – “Minha deusa interior pula para cima e para baixo com pompons de líder de torcida, gritando sim para mim. ”

    Me dá um P! Me dá um I! Me dá um C! Me dá um A!

    24 – “Minha deusa interior está fazendo saltos mortais em uma série digna de uma ginasta olímpica russa. ”

    Isso é o melhor que você pode fazer? Se é para ser completamente retardada, você poderia ter se esforçado mais. Como: “Minha deusa interior está terminando seu doutorado em literatura inglesa. Sua tese é sobre a correlação entre mulheres sem nenhuma lubrificação vaginal e sua qualidade duvidosa como escritoras de romances ruins. ”

    25 – “Minha deusa interior senta-se na posição de lótus parecendo serena, exceto olhar sereno, exceto pelo sorriso astuto e orgulhoso no seu rosto. ”

    Depois de ler essa frase, meu deus interior começou a sair de carro toda madrugada. Quando ele volta eu pergunto porque suas mãos estão sujas de sangue e suas botas de lama. Ele nunca responde.

    26 – “Minha deusa interior vai explodir. ”

    Oh, por Alá, que seja verdade.

    27 – “Minha deusa interior se parece com alguém que teve o sorvete roubado. ”

    … Então ela é como uma criança? Sua mulher nojenta. O que acontece quando você perde sua virgindade? Ela começa a chorar e você chama a polícia ou você finge que nunca aconteceu e diz que a culpa foi dela?

    28 – “…Minha deusa interior está encarando de boca aberta. Nem ela acredita nisso.”

    Nem a sua amiga imaginária acredita na estupidez desse livro? Porque você não poupa 20 anos de tratamento psiquiátrico e se interna definitivamente em um hospício, sua vadia maluca? Pelo menos lá você vai encontrar pessoas que achem você uma personagem interessante.

    29 – “Minha deusa interior está girando como uma bailarina mundialmente famosa, pirueta após pirueta. ”

    Meu deus interior está apontando uma arma para minha cabeça. Ele diz que se tivermos que ler mais um desses trechos sobre sua deusa retardada, ele vai me matar.

    30 – “Amy Studt está cantando no meu ouvido sobre desajustados. Essa música costumava significar tanto para mim porque eu sou uma desajustada. Eu nunca pertenci a lugar algum e agora… Eu tinha que considerar uma proposta indecente do próprio Rei dos Desajustados. ”

    Se você prestar atenção, consegue ouvir o som dos violinos tocando no fundo. Mas se você realmente prestar bastante atenção, consegue ouvir o som estrondoso de um longo e molhado peido.

    31 – “Que bom. Eu odeio camisinhas. ”

    Pelo menos ele admite. Não que importe: Anastasia Steele é tão idiota que, caso ela engravide, basta ele dizer que não estava nos seus dias férteis que está tudo resolvido.

    32 – “Não, eu vou comprar quando chegar em casa – pela Internet. ”

    Anastasia é tão moderna que ela conhece até mesmo a Internet, a famosa rede mundial de computadores. Nos próximos 5 anos ela pretende comprar seu primeiro Walkman.

    33 – “Venha, vamos para a cama, eu lhe devo um orgasmo. – Orgasmo! Outro! ”

    Isso é tão triste. O conceito de orgasmos é algo tão alienígena para essa autora que ela fica impressionada com ela mesma quando escreve sobre eles. Se ela descobrir sobre orgasmos múltiplos ela pode ter um surto.

    34 – “Mmm… Eu empurro ele na minha boca e posso senti-lo no fundo da minha garganta e logo nos lábios de novo. Minha língua rodopia pela ponta. Ele é o meu próprio picolé sabor Christian Grey. ”

    Espero que ela goste do bolo de chocolate sabor Christian Grey que vem depois disso.

    35 – “Respirando fundo e mentalmente segurando os meus quadris, eu me dirijo ao hotel. ”

    Esse é um poder mutante muito específico e imbecil. Você também faz pompoarismo telecinético?

    36 – “Eu gosto que você esteja dolorida. ” Os olhos dele ardem. “Isso a faz lembrar aonde eu estive, e somente eu. ”

    E lembre-se: ele não mija em você para marcar território, mas porque ele te ama.

    37 – “O sangue é drenado da minha cabeça. Oh, não. ”

    Eu fiquei decepcionado em descobrir que a personagem não estava sofrendo um aneurisma. O que aconteceu foi que todo o sangue da cabeça dela desceu para a vagina, resultado de décadas sem qualquer estímulo naquela região.

    38 – “Você está sangrando? ” Ele continua a me beijar. Puta merda. Nada passa desapercebido por ele? “Sim”, eu sussurro, envergonhada. “Você está com cólicas?”

    É por isso que esse livro vende! Esse diálogo é mais sexy do que cinco palhaços chorando. A coisa fica pesada mesmo quando eles começam a discutir qual absorvente é mais adequado para usar.

    39 – “Porra, isso é mais sexy do que a escova de dente. ”

    Anastasia é o tipo de mulher que, literalmente, fica excitada com qualquer coisa. Toda vez que Christian Grey tem diarreia explosiva ele tem de limpar tudo muito bem, por perigo de encontrar a Srta. Steele lambendo as bordas do vaso sanitário e se masturbando incontrolavelmente.

    40 – “Eu devo te foder desse jeito, ou desse jeito, ou desse jeito? É uma escolha interminável”, ele respira em meus lábios.

    “Eu posso te foder de cachorrinho, frango-assado ou papai-e-mamãe. São três escolhas… intermináveis. Seu minúsculo cérebro feminino consegue processar toda essa informação? Um mugido para sim, dois para não. ”

    41 – “Mas porque estamos olhando para uma sala de jogos? Estou perplexa. “Você quer jogar no seu Xbox? ”, eu pergunto. Ele ri, alto. ”

    “Não seja ridícula, Anastasia. Eu tenho um PS4. ”

    42 – “Os pés de Christian Grey … uau… qual o negócio com pés nus? “

    Depende… Esses pés estão chutando você até a morte? Isso me deixaria excitado.

    43 – “Porque ele não me devolveu minha calcinha? Eu entro furtivamente no banheiro, perplexa pela minha falta de roupa íntima. ”

    Depois de tirar a calcinha e sentir o cheiro pútrido que ela exalava, Christian Grey decidiu que ela merecia ser analisada. Foi descoberto que a calcinha, após décadas sem ser lavada, desenvolveu 34 novos tipos de forma de vida. Parabéns, Srta. Steele, sua calcinha acaba de criar um novo estágio na Guerra Biológica.

    44 – “Como ele pôde se tornar tão importante para mim em tão pouco tempo? Ele está sob minha pele… literalmente. ”

    Eu não sei se ela está se referindo ao pênis dele ou a uma nova doença venérea. Ou talvez ele tenha colocado o seu pênis dentro da pele dela? Não, isso seria sexy demais para esse livro.

    45 – “Christian Grey acabou de me mandar um 😉 … Minha nossa. ”

    É tão fácil impressionar Anastasia Steele. Se você peidar na frente dela ela imediatamente se ajoelha diante de você e pede para chupar o seu pau. Mas cuidado para não gozar na boca dela, ela pode considerar isso um pedido de casamento.

    46 – “Eu puxo o zíper para baixo, e agora sou confrontada com o problema de remover as suas calças… Hmm. ”

    Tem certeza que isso é um problema? Ou talvez você seja, um pouco… retardada?

    47 – “Ele tem um café com um lindo padrão de folha impresso no leite. Como eles fazem isso? Eu me pergunto, ociosa. ”

    Espere aí… Ela é mesmo retardada? Então Christian Grey tem tara por mulheres de 20 anos, virgens, com o QI equivalente de uma bola de basquete? …. Até que faz sentido.

    48 – “Meu nível de ansiedade alcançou vários níveis na escala Richter.”

    Isso não foi sua ansiedade, Anastasia. O que acaba de causar esses tremores sísmicos foi o Kraken que mora nas profundezas inexploradas e mortas da sua vagina e que foi acordado depois de milênios. Vamos rezar para que ele não esteja faminto.

    49 – “Me castigue. Eu quero saber o quão ruim pode ser. ”

    Um tapinha aqui, um puxão de cabelo ali, sexo oral de vez em quando… É praticamente a versão do que é sadomasoquismo feito por Steven Spielberg.

    50 – “Tudo que você faz me interessa, você é a mulher mais fascinante que eu conheço. ”

    Podemos perceber o quanto a autora está desesperada em tentar criar um motivo para Christian Grey enfiar seu pau em Anastasia, mas simplesmente não funciona. Anastasia Steele é o tipo de personagem que você torce para morrer em um drama sobre o Holocausto. E, mesmo assim, esse drama seria um livro mais erótico do que “50 Tons de Cinza”.

    Texto de autoria de “The Nindja”.

  • Crítica | Cinquenta Tons de Cinza

    Crítica | Cinquenta Tons de Cinza

    50 tons o filme 1

    O novo filme de Sam Taylor-Wood inicia-se com a rotina matinal de Christian Grey (Jamie Dornan). Após uma corrida, o personagem toma banho e escolhe as roupas para mais um dia de trabalho, com gravatas que retomam o título cinza. O evento quase consegue desvirtuar a atenção da trama ruim que seria apresentada, a história mundialmente conhecida, sucesso da “literatura” de E. L. James, Cinquenta Tons de Cinza. O prédio da companhia é belo, imponente, e por si só já intimidaria a calada estudante Anastasia Steele (Dakota Johnson), que precisa entrevistar, a pedido de uma amiga, o bilionário de boa aparência.

    Mais do que as roupas de trato fino e da aparência impecável, é a insensibilidade de Christian que gera na moça a impressão de que ele seria diferente de tantos outros homens de seu cotidiano. As salas grandes de cor branca também servem para desviar a atenção espiritual do seu “herói”, que abruptamente começa a se interessar pela intimidade da moça que o encara, em uma construção de relação boba e ainda mais mecânica do que a vista no livro.

    Aos poucos, forma-se uma atmosfera de conto de fadas pós-moderno, onde o príncipe ignora completamente a boa aparência da princesa, e ainda assim tem êxito em cooptar a atenção da amada. No entanto, os meios para alcançar esse encantamento é quase todo formado por situações constrangedoras e falas cafonas, típicas não de um homem erudito, e sim de um conquistador barato encontrado em cada bar, balada ou esquina das grandes cidades. Suas táticas de intimidação também são invertidas, já que ele usa seu dinheiro e recursos para reforçar o aspecto de homem maléfico.

    Após quase assinar um termo de confidencialidade sem ler o que está escrito nele, Anastasia mergulha em um quarto secreto, após o anúncio de Grey dizendo que “não faz amor, e sim fode com força”. No cômodo, ela vê toda sorte de brinquedos e apetrechos sexuais, ecos de uma vida mimada, cujos gostos e desejos jamais foram negados, quando a negativa não é um estado comum ou objeto aceitável.

    O auxílio visual faz momentos entediantes do livro tornarem-se dinâmicos e até aceitáveis. Grande parte da personalidade estúpida e infantil de Ana é suprimida na fita, e ela mostra muito menos rubor, por exemplo, depois dos elogios de seu primeiro parceiro sexual. No entanto, são comuns as cenas de um constrangedor romantismo, distante demais do posicionamento de dominador que Grey tenta passar.

    A beleza da nudez da Dakota Johnson faz o filme destacar-se além do ordinário comum do livro, mas não o bastante para superar o enfado que é acompanhar a lenta sedução do casal, que em termos bem conservadores tenta emular os momentos eróticos de Sete Semanas e Meia de Amor. As cenas de discussão dos termos são realizadas sob uma luz avermelhada, e tenta, em vão, sexualizar o momento, exibindo um mau gosto atroz.

    As cenas de prazer através da dor são flagradas de modo bastante conservador pela câmera, com dificuldade enorme de chocar o espectador mais antiquado e desagradando a quem vê a sexualidade como um assunto que não é tabu. O medo do choque prossegue, com a nudez pouco contemplativa de Anastasia e praticamente nenhuma sobra do corpo de Grey para o público feminino. Essa abordagem invertida em relação ao público alvo da sedução mostra inabilidades em representar fantasias e fetiches, algo que piora ainda mais nas cenas que apresentam primeiro o incômodo da moça em ter sua liberdade invadida, e depois em momentos de risadinhas constrangedoras após voar em aviões caríssimos, exibindo uma faceta bastante fútil da personagem.

    As atuações super mecânicas fazem o combalido roteiro ser ainda mais tedioso, incapaz de gerar qualquer empatia. Sequer a trilha sonora, repleta de músicas boas, consegue surpreender. Todas as faixas exibidas primam pela previsibilidade e superficialidade. As cenas em que o chicote vibra na pele da protagonista não possuem nenhuma indicação de que há sangue. Falta humanidade ao drama que é proposto, não há alma ou sentimento em quaisquer ações filmadas, nem mesmo o asco e a repulsa são bem retratadas.

    O abrupto e incômodo fim do livro é reiterado na fita, com uma cena repetida no final, claro, com sentido diferenciado. O trabalho que Taylor-Wood pouco conseguiu salvar do péssimo objeto literário em que se baseou concentra-se nos mesmos problemas éticos e defeitos sexistas e machistas. O roteiro ruim foi criticado até pela criadora da ex-fanfic, e consegue não vulgarizar, mas também não permite quase nenhuma parcela de erotismo ou sensualidade. Assim, prevalece a cafonice do argumento original, com um pouco menos de tédio, por só tomar duas horas do público, ao contrário do excessivo tempo necessário para terminar o livro.

  • Resenha | Cinquenta Tons de Cinza – E. L. James

    Resenha | Cinquenta Tons de Cinza – E. L. James

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    Inspirada pelo sucesso de Stephenie Meyer e seu Crepúsculo, a produtora de TV aposentada E. L. James resolveu criar uma fanfic utilizando os elementos básicos da fórmula de sucesso presente na saga dos vampiros, supervalorizando a questão da figura masculina poderosa e escolhendo um espécime comum do sexo feminino, sem grandes atrativos ou dotes físico. Nascia Masters of the Universe, uma literatura feita por fã que obteve tanto sucesso e acessos no universo cibernético que foi editada e lançada no circuito comercial.

    No início, até os nomes dos personagens centrais eram copiados, até que a transformação acometeu a “escritora”. Sua alcunha mudou, de Icy para o pseudônimo com que assina. Outra diferença básica está presente na intimidade do romance, muito mais picante do que os assexuados dramas de Meyer, mas ainda assim bastante suaves, até mesmo em comparação com os dramas folhetinescos das antigas revistas Super Julia e Sabrina. Cinquenta Tons de Cinza, publicado pela editora Intrínseca é o primeiro de uma trilogia, seguido por Cinquenta Tons Mais Escuros e Cinquenta Tons de Liberdade.

    Anastasia Steele é uma estudante de literatura entediada em um emprego que é tão monótono quanto sua vida amorosa, e que chegou de forma hercúlea à maioridade sem qualquer interação com namorados. Obrigada contratualmente a ir a uma reunião com um contribuinte importante, Ana se encontra com o milionário de 30 anos Christian Grey, transparecendo involuntariamente um forte desejo sexual por sua figura resoluta e dominadora. A afetação da protagonista é maximizada pela narração em primeira pessoa. A carência da moça é tamanha que o simples pensamento relacionado à possibilidade de Christian ser gay faz ela estremecer, fazendo da personagem a vítima perfeita para qualquer desmando do rapaz.

    A prostração da protagonista antes de qualquer contato físico extremo faz a possibilidade de idealização tornar-se plausível graças à irrealidade e inexperiência da moça. O relato de Anastasia se aproxima demais dos sonhos sexuais de uma senhora de meia-idade, diferente demais da figura jovial que deveria ser apresentada, levando em consideração seus 21 anos. E. L. James não consegue em um primeiro momento emular o linguajar de uma moça, uma vez que sua capacidade de imitar características distantes das suas próprias é muitíssimo limitada. O único ponto realmente verossímil dentro do jogo de sedução malfadado é a paixão causada após a rejeição primária, que agrava a situação de sua persona no romance.

    A troca de mensagens após a recusa inicial do protagonista soa como artimanha de sedução barata, uma tática comum de homens comuns nada diferenciada da figura de magnata de Grey. A tentativa de sofisticá-lo não passa de um arremedo de preconceitos que fazem da figura fútil de homem rico algo maior do que o simplório cidadão, o mesmo que seria incapaz de reunir a atenção da desinteressante mulher.

    A libido de Ana é quase tão fútil quanto o comportamento interesseiro que demonstra. A descrição que faz do carro luxuoso de seu “amado” quase chama mais atenção do que a artificial personalidade de Christian, exagerada ao extremo, para fazer valer seu carisma fajuto. O gosto musical do homem inclui bandas de sucesso recente e amadas por fãs de indie rock, o que acusa ainda mais o caráter de “fórmula mágica”. Além de referenciar musicistas clássicos, na tentativa vã de mostrar um sujeito meio moderno e meio erudito, demonstra-se na verdade uma face bastante vazia.

    Próximo da centésima página, o paradigma da história anuncia uma mudança de postura, em que se espera ao menos uma ligeira transformação de discurso e abordagem piegas do par ideal. Ledo engano: mesmo diante dos rudes modos do homem, Anastasia segue em sua jornada, destruindo qualquer vestígio de respeito próprio. O bilionário não se esforça e o convencimento da moça é automático. Qualquer argumentação da parte dele em nada interfere na noção mórbida da garota. Logo, é mostrado a ela um conjunto rígido de regras, que visa educá-la a não agir fora do escopo de desejos de seu dominador. O conteúdo é bastante humilhante, especialmente para alguém que não conhece e não é nada afeito à cultura BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo). A personagem é tão mal construída que se surpreende com o fato do galanteador a achar bonita, mesmo após convidá-la para uma interação sadomasoquista, fazendo-a surpresa como nunca. James peca ao descrever a intimidade de Grey e Anastasia, não por apelar à vulgaridade, longe disso aliás, mas por mostrar uma interação mecânica, que incrivelmente louva ações sexuais comuns em preliminares feitas por casais ultra conservadores, distanciando-se do ideal de homem único que Grey pretensamente exala.

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    A literatura da autora é bastante fraca. Há um número demasiado de vícios linguísticos típicos da fala, que soam péssimos dentro do livro, além de um número exorbitante de repetições de palavras, às vezes na mesma frase, facilmente substituíveis. Em alguns pontos, a sensação é de que não houve um trabalho de revisão na transposição de fanfic para literatura formal. Outro incômodo é a demora em exibir a realidade do sexo, com passagens bastante curtas e até formais nas descrições, e um exagerado intervalo em que a personagem discute com sua amiga falando sobre a queda do tabu da virgindade – claro, sem qualquer viés de discussão, só reprisando o lugar comum. O ápice da situação é a descrição do órgão sexual masculino, comparado à dureza do aço revestido de veludo, o que afasta qualquer possibilidade de empatia da parte do leitor que tem a vida sexual minimamente ativa; além de outros impropérios, como “picolé sabor Christian Grey”, uma péssima paródia de Garganta Profunda.

    A dignidade da autora começa a descer níveis mais baixos, com uma tentativa de validar argumentos feministas reverenciando a deusa interior das mulheres ao mesmo tempo que toda a movimentação de Anastasia é de submissão. É óbvio que a intimidade de uma mulher não influi e não deve influir na luta por seus direitos de igualdade e justiça. Mas os signos visuais, utilizados em uma mesma história, contradizem-se completamente e não fortalecem qualquer um dos lados, banalizando a mulher que não deveria ter vergonha de sexualizar-se – um fracasso total, visto que o que menos aparece no livro é sexo não idealizado, com o homem sempre no comando – e muito menos discutindo a possibilidade de ascensão da mulher, cuja função na obra não passa de amásia.

    Uma questão aviltante gira em torno de Grey, o que fomenta a fantasia de Anastasia, James e talvez de seu público-alvo. Caso Grey fosse um homem franzino, ou pobre, ou feio, ou negro, ou suburbano – ou tudo isto junto – caso tudo isso mudasse, mas ainda permanecesse a volúpia e prazer na dor alheia, o personagem teria o mesmo impacto e poder de convencimento? Dificilmente. Assim, estereótipo de normalidade e ideal do homem perfeito são também ratificados, mais uma vez predominando uma mentalidade preconceituosa.

    O enfado ao ler as longas páginas é inexorável, uma vez que a história não possui movimentações além do óbvio, repetindo sua fórmula eternamente, girando em torno de si como um cão que persegue o próprio rabo. As páginas são preenchidas com as mesmas situações abordadas antes, sem apresentar nada além do aprofundamento da submissão pouco contestada de Steele ao seu “mentor”.

    O relato de Anastasia sofre o terrível viés de não ter o que comparar, uma vez que Grey foi seu primeiro parceiro sexual. Sua atenção com o homem foi demasiado, inclusive ao satisfazer os fetiches bastante comuns, que curiosamente se apresentam como um pequeno tabu, mesmo com a mente aberta do sujeito que costuma praticar bondage. A afeição do rico por ela é tanta que ele faz até um pequeno mise en scène para sua família, mais uma pequena incongruência diante de todas as atrocidades contraditórias presentes no livreto de James.

    A insistência de Anastasia em clamar pela “deusa interior” chama a atenção, conseguindo o feito de ser tão enfadonha quanto as constantes trocas de email e gracejos entre os casal de protagonistas, fazendo uma força abissal para tornar o diálogo natural, fracassando obviamente, dada a artificialidade do discurso, fingido em cada palavra. Exibe-se uma pobreza argumentativa atroz, que em vão tenta validar o feminismo utilizando uma prática que basicamente contraria todos os seus preceitos.

    Há milhares de motivos para fazer um leitor se afeiçoar a um produto. Categorizar um leitor por ter gostado ou não de (ou ter se identificado por) algo é um exercício fútil, explicado pelo conceito de que gosto é algo muito volátil. O mau gosto é uma caracterização excludente por sua nomeação, define pouco e tem mais a intenção de categorizar pejorativamente, sem senso crítico na maioria dos casos.

    A análise de Cinquenta Tons de Cinza passa da expectativa de escrito libertário para algo que reforça estereótipos na jornada de Steele rumo à aceitação do gênero que secularmente oprime, tentando falaciosamente citar chavões feministas. Toda a enrolação do romance resulta em uma discussão fútil a respeito da obediência ou não da personagem, que muito antes de dar sua palavra final já se mostrou bastante subserviente. As últimas palavras do livro exibem a questão de qual seria a dor maior: dos chicotes e brinquedos sexuais ou da solidão que habitaria a rotina de Anastasia caso não tivesse consigo o homem de suas ações. O furor causado por conservadores, que tentam proteger seus adeptos de uma possível influência da novela, não deveria acontecer, pois todo o sexo mostrado na obra é motivo para representar exatamente este público, com transgressões rasas e em nada relacionadas à realidade.

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