Tag: John Wesley Shipp

  • Review | The Flash (1990)

    Review | The Flash (1990)

    Seguindo na esteira do longa do Batman, de Tim Burton, tendo inclusive o mesmo Danny Elfman como um dos compositores da trilha sonora (junto a Shirley Walker), a série The Flash estreou em setembro de 1990, com o desconhecido John Wesley Shipp vivendo o corredor escarlate Barry Allen – ainda que na época o detentor do manto do herói fosse Wally West. A personalidade do herói reunia uma mistura de elementos de ambos, tendo a mesma profissão e pano de fundo de Allen e um pouco da personalidade engraçadinha de West.

    Como no filme protagonizado por Michael Keaton, os primeiros momentos do piloto dirigido por Robert Iscove mostram uma Central City de arquitetura baseada em elementos barrocos, além de uma direção de arte e fotografia que constroem uma aura extremamente sombria à noite, remetendo a filmes noir, curiosamente, durante o dia, parece que estamos em outra cidade.

    Trazido por Danny Bilson e Paul de Meo, através da produtora Pet Fly, essa não teria sido o único produto da dupla envolvendo personagens heroicos ou dos quadrinhos. Em 1992, os produtores também criaram Human Target, baseada nos quadrinhos de Len Wein e Carmine Infantino também da DC Comics, e um ano antes escreveram o roteiro de Rocketeer, de Joe Johnston, baseado no personagem criado por Dave Stevens. A intenção de ambos escritores sempre foi desenvolver heróis de ação, cada um com um cunho escapista diferenciado, e foi assim também com Trancers, que mais tarde ganhou algumas continuações, e que para muitos seria o precursor do Robocop. Fato é que a dupla quase nunca conseguiu dar prosseguimento a esses projetos, assim como Flash a maioria deles não se tornaram produtos longevos, exceção feita a série Viper, que teve uma versão em 94, com 10 episódios, e um revival em 97 que durou três temporadas.

    Um dos pontos mais marcantes do programa certamente é o uniforme do protagonista. A roupa que parecia feita de camurça foi projetada por Robert Short, o mesmo que assinou a maquiagem oscarizada de Os Fantasmas Se Divertem, de Tim Burton, a questão é que a maioria das cenas de ação ficavam risíveis, pois o traje brecava a mobilidade do personagem, que era conhecido por ser o mais rápido dos super-heróis. O piloto custou U$ 6,5 milhões, cada episódio 1,6 mi e o fato de ser caríssima passou a pesar contra ela, quando enfim entrou em rota de colisão com séries famosas do mesmo horário, como Cosby Show e Os Simpsons pela Fox. The Flash teve dificuldades enormes de ser vista por quem não fazia parte do nicho dos fãs de quadrinhos de super-herói.

    Já no segundo episódio, há um caso entre Dr. Carl Tanner (Stan Ivar) e Christina McGee (Amanda Pays), onde o primeiro se torna um monstro e demonstra qual é a potência visual do programa de TV. Os efeitos especiais não chegam nem perto de impressionar, são piores que os de Superman – O Filme, um filme com orçamento grande, mas que foi feito doze anos antes. Em Ghost in the Machine, nono episódio, há uma exploração temática como a de Beware the Gray Ghost da animação Batman The Animated Series, lançada anos depois, tendo em comum a brincadeira com um seriado antigo de televisão sendo esse o principal mote de ambos os capítulos. Claramente o desenho de Bruce Timm e Paul Dini referenciam este, dadas as enormes semelhanças e o clima nostálgico em ambos, além de ter uma boa base visual nos produtos noir.

    No episódio The Trickster duas coisas importantes acontecem, o retorno da detetive Megan (Joyce Hyster), personagem interessante, além de ser uma boa candidata a par romântico do herói. Mark Hammil também dá as caras como o vilão Trapaceiro. Enquanto faz o alter-ego do bandido James Jesse (ou Giovanni Giuseppe), ele é um bufão, ainda que discreto, vestido com fantasia de mágico, mas quando coloca seu traje, que aparenta muito a customização que Jim Carrey faria para o Charada, em Batman Eternamente que viria ao ar quatro anos depois, inclusive repetindo o delírio ao final, em que o vilão diz ser na verdade o herói.

    Flash tem problemas durante o programa, ele sofre com stress, tendo preocupações comuns que envolvem o fato de ter uma vida dupla. Esse tipo de questão mais adulta geralmente não era estabelecida em produtos desse gênero, e a humanização é valida, mas a  boa intenção fica só na premissa, pois não há muito aprofundamento além da citação a essas problemáticas, e só citar é muito pouco.

    Na parte final do ano, são mostrados personagens famosos, como o Capitão Frio (Michael Champion) e o Mestre dos Espelhos (David Cassidy), mas bastante distantes de suas versões dos quadrinhos e pouco dignos de nota. Em outros momentos, mostra-se alguns cientistas loucos genéricos que criam clones de Barry, só conseguindo fazer um mais bem elaborado após colherem o sangue do herói – esse trecho é bastante risível pela forma como se conduz essa coleta. A cópia de Flash é chamada de Pollux – o vilão ganha uma roupa quase idêntica ao do herói, alterando apenas as cores de vermelho para azul -, e ele foge para criar confusões em um parquinho, em uma cena que lembra o furacão que Zod causa em Superman II, ainda que aqui seja mais comedida, por conta do custo elevado da cena original.

    A maior parte das aventuras do seriado não fugiam muito do usual, até porque seria ainda mais custoso produzir uma série de quadrinhos nos anos noventa, que tinha ainda menos recursos financeiros que hoje. Tal qual As Aventuras de Lois e Clark, série romântica que iria ao ar em 1993, essa também não poderia utilizar muitos dos personagens das HQs. Tanto é assim que quando o Trapaceiro aparece, de novo, em seu julgamento, ele está utilizando seu traje de vilão, como se isso fosse algo normal. Neste ponto ele consegue ser ainda mais afetado e histriônico do que na sua primeira aparição.

    Os cenários vão ficando cada vez mais mal feitos com o aproximar do fim da série, parecem como os vistos em produções infantis da TV Cultura. Nos últimos capítulos a falta de investimento se torna ainda mais gritante pela falta de qualidade do programa quando retorna a participação de Hammil como Trapaceiro. Sua imitação do Coringa de Cesar Romero faz ele se assemelhar demais ao palhaço que protagoniza o clássico da dublagem amadora brasileira Feira da Fruta, ainda que ele não seja nada sacana e também não tenha uma personalidade realmente marcante. Seus momentos finais são vergonhosos, o que é uma pena, pois Hammil sempre foi um artista icônico.

    John Wesley Shipp tem carisma, mas só isso não sustenta uma produção como essa. As intenções por trás de The Flash são as melhores possíveis, mas na prática não se agradou a praticamente nenhum dos nichos, nem o público geral, muito menos quem acompanhava os quadrinhos na época, que normalmente, estariam ávidos por ver o Wally West escrito por Mark Waid em tela, que começava a brilhar pouco tempo depois da exibição do programa. Ao menos, no começo, Bilson e de Meo conseguiram trazer uma aura soturna sobre o personagem, mas deixou de ser funcional pelo fato do herói nunca ter tido características soturnas como as do Batman. Ele não era melancólico, e sim otimista e as vezes engraçado, e esse caráter foi pouco capturado nesta versão, ainda que Shipp se esforçasse para melhorar isto.

    Facebook –Página e Grupo | TwitterInstagram.
  • Review | The Flash – 1ª Temporada

    Review | The Flash – 1ª Temporada

    the-flash-primeira-temporada-poster

    A boa aceitação da primeira temporada de Arrow, produzida pelo canal estadunidense CW, permitiu que a DC Comics e a Warner alçassem voos maiores em suas produções sobre super-heróis que até então estavam desacreditadas por conta de Smalville – As Aventuras do Superboy. Aliado a isso, os estúdios precisavam correr atrás da Marvel Comics, considerada anos luz à frente no que diz respeito ao mais novo selo chamado de “universo cinemático”. Assim, antes de mesmo de existir o seriado do Flash, Barry Allen (Grant Gustin) foi testado em dois episódios da segunda temporada do arqueiro esmeralda e que culminou no acidente que o tornou no velocista escarlate, sendo sua aceitação muito positiva, fazendo com que o pequeno crossover já ganhasse sinal verde para a produção do seriado solo.

    Assim como nos começos dos episódios de Arrow, onde Oliver Queen conta sua história, o simpático Barry Allen diz a seus espectadores que é o homem mais rápido que existe e que, desde pequeno, sempre acreditou no impossível e que as circunstâncias o transformaram no impossível e isso contrasta (talvez de forma proposital) com Arrow, um seriado com maior influência na realidade. Em Flash, o impossível é levado muito a sério, sem medo de ser brega ou confuso, não só por conta de um dos mais legais super-heróis já criados, uma vez que, quase sempre, o Flash é o responsável por alterações temporais e transições entre os mais diversos universos existentes nas HQ’s da DC Comics, mas também por conta do ótimo elenco carismático que acabou por entregar uma ótima temporada de estreia, com mais altos do que baixos, dando indícios de que permanecerá nas telas por muito mais tempo do que sua primeira tentativa de vingar na televisão nos anos 90.

    Quando criança, Barry presencia o cruel assassinato de sua mãe por algo inexplicável, um homem de amarelo se movendo extremamente rápido. Seu pai, Henry (John Wesley Shipp, o Flash/Barry Allen dos anos 90), o maior suspeito de cometer o ato, é julgado e condenado a passar o resto de sua vida no presídio de Iron Heights. Desta forma, Barry tem como objetivo provar que algo de errado havia naquela noite para, enfim, fazer justiça e tirar seu pai da prisão. Assim, ele entra para a polícia de Central City e vira um perito forense, muito semelhante aos que encontramos em seriados como CSI, com o intuito de juntar o maior número de provas possível e comprovar que, de fato, o impossível existe. Com a morte de sua mãe e a prisão de seu pai, Barry foi criado pelo detetive Joe West (Jesse L. Martin), crescendo junto com Iris (Candice Patton), filha de Joe, por quem tem um amor platônico.

    Ao voltar de Starling City, Barry Allen, um fanático por ciência, é atingido por um raio vindo da explosão de um acelerador de partículas criado pelo Dr. Harrison Wells (Tom Cavanagh), fundador dos Laboratórios S.T.A.R. e após passar meses em coma, Barry acorda extremamente bem, porém, com a habilidade de se movimentar em velocidades difíceis para o olho humano acompanhar. Assim Barry passa a ser estudado por Wells e seus dois ajudantes, Cisco Ramon (Carlos Valdes) e Caitlin Snow (Danielle Panabaker), os dois únicos cientistas que ficaram ao lado do exilado Wells, tido pela população como o responsável pelo acidente que vitimou muitas pessoas. Mas a vontade de Wells em querer ajudar Barry, sendo seu mentor, ajudando-o ao lado de Cisco e Caitlin, é motivadora, o que demonstra de certa e errônea forma sua motivação de querer dar a volta por cima. Wells tem suas próprias motivações para querer ajudar Barry, e o final do episódio piloto já planta uma interrogação na cabeça do espectador.

    Muitas das pessoas dadas como mortas ou desaparecidas, assim como Barry, foram afetadas diretamente pelo acidente com o acelerador de partículas, o que nos remete diretamente a Smallville, onde alguns dos personagens foram afetados pela chuva de meteoros que trouxe Kal-El ao planeta. Essa decisão arriscada de usar o acelerador de partículas como “catalisador” transformando pessoas comuns em heróis e vilões em Central City deu muito certo, principalmente da maneira inteligente em que essas pessoas com super-poderes, os meta-humanos, como são chamados, foram integradas às subtramas. O desfile de vilões com super poderes foi alto, em torno de 17, sem contar o Capitão Bumerangue que estava agindo em Central City, mas fez parte do crossover com a terceira temporada de Arrow e o Rei Relógio, que apareceu pela primeira vez na segunda temporada do vigilante de Starling City. Assim, podemos dizer que muito da primeira temporada de Flash foi feito no já conhecido formato de “monstros da semana”, mas sem comprometer nem um pouco a trama principal que foi discutida praticamente em todos os 23 episódios. Com tantos vilões “descartáveis”, poucos se destacaram, porém com apresentações memoráveis, entre eles Prisma (Ladrão Arco-Íris), responsável por mexer com a cabeça do Flash, colocando-o diretamente em combate com o Arqueiro Verde; a dupla Capitão Frio e Onda Térmica, reeditando a parceria de Wentworth Miller (extremamente caricato e carismático) e Dominic Purcell, os astros de Prison Break; os dois Mago do Tempo, Trapaceiro (novamente e brilhantemente vivido por Mark Hamill), Gorila Grodd (assustador e em CGI) e, claro, o Flash Reverso.

    O Flash Reverso, Eobard Thawne, é o principal vilão da primeira temporada: guarda uma sinistra relação com o Dr. Wells e está sempre um passo a frente de Barry Allen. Vindo do futuro, mas enfrentando Flash há séculos, ficou preso no final do século XX no dia em que a mãe de Barry morreu, e procura desesperadamente voltar para seu tempo. Durante as suas aparições, fica muito claro que ele odeia o Flash com todas as suas forças, mas sem explicar o motivo, o que adiciona ainda mais mistério à trama.

    Como previsto, também houve pequenas participações dos personagens de Arrow durante o decorrer da primeira temporada. Felicity Smoak (Emily Bett Rickards) apareceu, algumas vezes, assim como Oliver Queen/Arqueiro (Stephen Amell), Ray Palmer/Átomo (Brandom Routh), Laurel Lance (Katie Cassidy) e Quentin Lance (Paul Blackthorne).

    Mas o seriado não teria sucesso sem o elenco principal, que é realmente competente. Além de Grant Gustin, Tom Cavanagh, Candice Patton, Jesse L. Martin, Carlos Valdes e Danielle Panabaker, ainda conta com Rick Cosnett interpretando Eddie Thawne, um personagem conhecido dos fãs dos quadrinhos, mas que aqui (ao menos por enquanto) é apenas o parceiro de Joe na polícia e noivo de Iris, além, de obviamente, ser um parente muito distante de Eobard Thawne, o Flash Reverso. Grant Gustin possui uma ótima química com todos os atores que estão com ele em tela, principalmente quando está sozinho com Tom Cavanagh, John Wesley Shipp e Jesse L. Martin, sempre responsáveis por cenas muito emotivas. Além do mais, a dupla Caitlin e Cisco são os alívios cômicos do seriado, cabendo a Cisco, principalmente, um nerd “nato”, ser o responsável por referências a filmes cult ou de ficção científica, além de fazer ótimas sacadas na hora de dar nome aos heróis e vilões da série. O lado mais fraco do elenco fica por conta de Candice Patton, que trouxe uma Iris completamente sem sal e sem um pingo de carisma, algo que chega a ser unânime entre os fãs.

    Fica registrado, portanto, que a primeira temporada de Flash foi uma ótima surpresa, com ótimos momentos e muito mistério em torno das motivações do Dr. Wells e Barry Allen. Nesse aspecto, o episódio mais memorável da primeira temporada, sem dúvida foi o “mítico” episódio 15, que teve uma ótima cara de season finale, culminando em Flash correndo tão rápido que conseguiu, sem querer, viajar algumas horas ao passado, exatamente no ponto em que o episódio se iniciou, o que alterou, pelo menos um pouco, a realidade, criando sua primeira linha paralela, mas não o suficiente para alterar o futuro. E o finale propriamente dito foi ótimo, porém aberto, que terá resolução somente no primeiro episódio da segunda temporada. Se pudermos fazer um paralelo com Lost, a escotilha foi aberta, e agora só em outubro saberemos o que tem lá dentro. Uma dica: o capacete de Jay Garrick já espirrou para dentro desta Terra.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.