Resenha | Kick-Ass
Super heróis no mundo real. Você já deve ter ouvido essa premissa um milhão de vezes. (Como seria se, visão realista, bla bla bla. Inclusive Watchmen, obra máxima do gênero, se baseia nisso)
Porém, ao contrário do que possa parecer, não é um tema esgotado, pois pode ser abordado por diferentes perspectivas. Que tal uma comédia escrachada de humor negro, cuja proposta é ESCROTIZAR os super heróis, e mais ainda, seus fãs? Prazer, Kick-Ass.
Publicada em 2008 pela Marvel Comics (sob o selo adulto Icon), a série em 8 edições conta a história de Dave Lizewski, um colegial de New York. Um garoto comum, vivendo uma vida comum, sem nada especial. Exceto por ele ser viciado em quadrinhos de heróis. Provando que essas coisas fazem mal às crianças (atenção, pais), um belo dia o maluco se pergunta por que ninguém nunca tentou ser um super-herói no mundo real. Tipo, com tantos gibis, filmes e tudo mais, como é possível que ninguém tenha pensado nisso? Seus amigos igualmente nerds acham que o cara que tentasse, teria sua bunda chutada. Mas Dave não concorda: faz um uniforme em segredo, arranja um par de bastões, se exercita um pouquinho e resolve partir pra ignorância.
Em sua primeira missão, nosso herói leva um cacete medonho de três delinqüentes, é esfaqueado, e atropelado por um carro. Por sorte consegue esconder o uniforme antes dos médicos chegarem, evitando a humilhação. Várias cirurgias, alguns pinos pelo corpo, uma placa de metal na cabeça e meses de fisioterapia e acompanhamento psicológico depois, o que ele faz: exatamente, tenta de novo. E consegue! Salva um cara de uns assaltantes, leva porrada mas também bate, e assim afugenta os marginais. Algum transeunte filma a ação com o celular, joga no YouTube e pronto, temos o novo fenômeno da Internet.
Como toda modinha, Dave (ou Kick-Ass) inspira uma legião de imitadores. A maioria simplesmente curte se fantasiar e se exibir pros miguxos (cosplay, alguém?), alguns inclusive partindo pra um lado mais, digamos, pervertido. Outros, porém, resolvem de fato combater o crime: o maconheiro Red Mist, e a dupla Big Daddy e Hit-Girl. Esses, porém, não estão pra brincadeira: atacam e matam mafiosos. A menina, aliás, é a melhor coisa da história. Imagine uma versão infantil da Noiva, de Kill Bill. Ou como dizem na hq, “John Rambo encontra Polly Pocket”.
A partir daí a história vai se superando em violência e humor MUITO politicamente incorreto. O escritor é o escocês insano e fanfarrão Mark Millar (de Guerra Civil e Os Supremos), e os desenhos são do amado e odiado John Romita Jr. Millar é um autor que abraçou com gosto a onda de filmes de super-heróis; vem se dedicando a projetos autorais cujos direitos pro cinema vendem antes mesmo de finalizar o roteiro dos quadrinhos. Foi assim com O Procurado e agora com Kick-Ass. Obra que gerou polêmica, muitos a acusando de ser gratuita, vazia e etc. Não que não seja, mas os detratores esquecem do fator DIVERSÃO. E Kick-Ass é isso, um produto assumidamente pop, comercial, que honestamente propõe e entrega diversão descerebrada. Millar brinca habilmente com os clichês do gênero, com as expectativas dos leitores, que obviamente se identificam com o protagonista. Você se empolga, torce, acha que Dave finalmente vai se dar bem, e… NOT! O autor joga na nossa cara o quanto somos losers, e que tudo não passa de uma grande sátira a esse universo.
A indicação fica pra quem tem mente aberta, sabe relaxar e curtir um blockbuster sem grandes pretensões ou conteúdo profundo.
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Texto de autoria de Jackson Good.