Crítica | Toy Story 3
Quase dez anos depois da última continuação da franquia, o filme de Lee Unkrich (o mesmo que co-dirigiu Monstros S.A. e Procurando Nemo, alçado agora a um novo patamar)começa refilmando de certa forma a historia original pensada por Andy em Toy Story clássico, em um claro retcon, incluindo os personagens novos, que não eram de propriedade do pequeno Davis até então. Esse epílogo, super bem filmado e que não acrescenta praticamente nada a historia é uma belíssima forma de celebrar e relembrar toda a franquia de histórias dos brinquedos.
A ideia nostálgica ocorre aqui não só por conta do grande hiato entre Toy Story 2 e esta parte três, mas também pelas filmagens em fitas antigas da família Davis, e é preciso essa memória voltar, pois o garoto cresceu, e se tornou um universitário, e vai para longe de casa, e obviamente, não faz mais uso dos brinquedos há muito tempo. Alguns foram embora, e sobraram apenas Woody, Buzz, Jesse, os Ets, Rex, Slinky, os Cabeça de Batata, Bala no Alvo e o Porquinho.
Toda a trama de rejeição é resgatada, refeita e repensada. Os brinquedos vêem a possibilidade de serem bem recebidos, de voltar a brincar, de voltar a saciar as crianças caso aceitem ir para uma creche repleta de crianças. A dura escolha que eles tem que fazer vislumbra a paradigma da maturidade.
Andy, tal qual os espectadores que assistiram suas brincadeiras em 1995, cresceu, seus desejos, anseios e sonhos também, e as perspectivas de vida dos brinquedos também. Woody mantem-se fiel por não enxergar vida sem seu dono, talvez porque jamais tenha brincado com ninguém, mesmo levando em conta que é um brinquedo vintage como visto em Toy Story, fato que faz ser plausível que seja um brinquedo antigo da família Davis.
É evidente que nem tudo dá tão certo quanto o otimismo desenfreado prega, como é mostrado sem demora, pelo engodo que o urso Lotso faz eles passarem. Esse aliás é um belo vilão, seu passado faz compreender perfeitamente a amargura que sente, ao passo que seu atual posto de líder dos brinquedo em Sunnyside faz muito sentido, afinal, mesmo magoado ele tem carências. É como se ele reunisse boa parte dos defeitos de Jesse e Pete Fedido de Toy Story 2, digerindo a tristeza de ter sido deixado de lado ao seu próprio modo.
No entanto, o melhor de Toy Story 3 certamente é a carga dramática, seja a insistência de Woody em manter seus amigos sempre unidos, mesmo que ele tenha uma posição privilegiada de permanecer com seu amo/dono, ou a cena de resgate em que Buzz é dado como morto, e suas peças verdes iluminam o local, uma vez que brilham no escuro e não há qualquer luz ali,
No entanto, isso era apenas um presságio do que viria, da cena rumo a fornalha, onde os heróis tem um inevitável fim, correndo contra os degraus que os levariam até a morte. Após passarem por tantos percalços, em resgates praticamente impossíveis, o xerife, o astronauta, o cão, o porco, as batatas, o cavalo, o dinossauro e a vaqueira se resignam, e ao perceber que suas vidas serão extintas, dão as mãos, para no fim, estar juntos de novo.
A salvação dos personagens dribla a possibilidade de um Deus Ex Machina bem fajuto, o fato de ter dado pistas antes dribla essa questão facilmente, e todos os eventos posteriores, incluindo a manipulação do cowboy para que Andy escolhesse doar os bonecos é emocionante demais. A forma como Andy enxerga o seu antigo amigo, e desapega dele para deixar uma garotinha brincar e cuidar deles faz até perguntar se ele não sabia que seus brinquedos tinham vida, pois além de permitir que eles tenham uma sobrevida, ainda dá oportunidade deles olharem no horizonte ele se distanciando, rumo a faculdade, rumo a vida adulta.
Toy Story 3 até abre possibilidades para o futuro – tanto que gerou ótimos curta – mas o ciclo se encerra belamente, tanto do ponto de vista emotivo quanto narrativo. Os brinquedos tem um destino justo, Andy e a pequena Bonnie também, além do que nos créditos finais há mais cenas extras, dessa vez sem erros de gravação e sim mostrando a nova vida dos heróis que acompanha as crianças e adultos fãs da Pixar desde 1995.
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