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  • Crítica | WiFi Ralph: Quebrando a Internet

    Crítica | WiFi Ralph: Quebrando a Internet

    Após o sucesso de Detona Ralph, criou-se uma grande expectativa para uma continuação, que chegou aos cinemas estrangeiros no ano passado e finalmente chegou ao Brasil. WiFi Ralph: Quebrando a Internet começa com Vanellope (Sarah Silverman) e Ralph (John C. Reilly) discutindo sobre depilação, utilizando Zangief de Street Fighter como exemplo de alguém que escolhe ter pelos em apenas alguns lugares do corpo, simetricamente escolhidos. Pode parecer só uma piada, mas esse é o início de uma discussão existencial que abarca até a humanidade, pois a garota se pergunta se há algo além de viver jogando, pois para o mundo, eles são apenas algoritmos Zero e Um diante do universo, e essa simplicidade é pouca para a menina.

    A vida dos personagens de games está bastante confortável e pacata, e Vanellope deseja de qualquer forma ter uma nova pista para jogar, mas no velho fliperama só chega o Wifi, para que os clientes possam usufruir da internet, afinal que o frequenta geralmente são os jovens, e em 2018 e 2019 a natural que todos façam uso disso.

    Ralph tenta ajudar sua amiga, mas como é de sua praxe e natureza, ele acaba estragando as coisas, não para Vanellope, que adora seu gesto, mas para o Sugar Rush, que é desativado por conta de uma quebra de controle. O dono do fliperama, Mr. Litwak pensa em consertar, mas a fábrica do game está fechada e a reposição da peça via eBay é muito cara, e é curioso como o roteiro de Phil Johnston brinca com um paradigma típico da internet, que são os preços exorbitantes que vendedores do eBay, Mercado Livre e semelhantes praticam, ao ponto de não terem para quem vender. É a partir daqui que se desencadeia o plot de viagem pela internet, em que Ralph leva Vanellope por ela claramente estar deprimida com essa situação.

    A situação mais curiosa vista nessa continuação é que as relações dos personagens evoluiu. Felix (Jack McBrayer) e Calhoun (Jane Lynch) estão casados há seis anos, e querem apimentar a relação, e até Ralph e Vanellope percebem que precisam evoluir e alcançar um novo nível de relacionamento, um que compreenda o novo nível de interdependência entre os dois, e obviamente que não se explorará isso através da super exposição de um casal comum, afinal é um filme infantil, e se precisa de todo um verniz de relação não sexualizada, até por conta da diferença física entre os personagens, pois Vanellope tem uma aparência de criança embora seu jogo seja de décadas atrás.

    A viagem a internet é tímida no início, com a dupla de protagonistas navegando entre os sites, e enfrentando alguns muitos spams, e Ralph se perdendo com isso, mas o novo cenário traz novos desafios aos jogadores que são tão diferentes do que geralmente vivem. O filme tem um tom critico curioso e normalmente não muito presente nas fitas antigas da Disney, e muito menos nos enlatados recentes, que só miram o dinheiro de espectadores com mais e mais continuações, ao menos o roteiro de Johnston faz comentários adultos e inteligentes sobre o comportamento de pessoas na internet, sejam os haters ou comentaristas ofensivos, bem como faz um mea culpa no esperado encontro entre as princesas Disney, que são meninas interessantes para muito além do fato de precisarem ser salvas por alguém forte, e que podem ser entretidos por coisas simples, como camisetas e moletons.

    É curioso com Rich Moore e Johnston trabalham com a temática da internet. A dupla havia feito Zootopia antes, e ao mesmo tempo que há um flerte com discussões sobre os algoritmos e com os trolls chatos que comentam muita besteira, há uma ideia meio datada do ambiente que a internet tem, os personagens novos não tem muita influência de fato na historia, falta tempo par eles, e o modo as coisas que viralizam são mostradas parece feito pela ótica de pessoas que não entendem como as novas gerações tratam do universo on-line que se abre. Os usuários do ambiente conectado parecem fúteis, e por mais que a futilidade seja a tônica para muitos que frequentam fóruns e redes sociais, é meio generalista demais considerar que o todo é assim, e o roteiro faz isso, tomando isso como uma regra praticamente sem exceção. A vontade de se prender a arquétipos muito quadrados já estava lá em Zootopia e a dupla parecer ter trazido isso para este filme, de maneira bem equivocada para quem tem a pretensão de fazer uma historia inclusiva.

    A beleza de Vanellope mora em sua simplicidade e no fato de não precisar se encaixar em padrões não só de beleza, mas também de comportamento. A Disney em suas animações acompanhou a evolução temporal, na renascença colocava personagens como Ariel, Pocahontas, Bela, que eram inteligentes e independentes em algum nível, mais capazes de fazer escolhas e de fazer a diferença nos filmes que protagonizavam, mas com Frozen, Enrolados e até a continuação de Detona Ralph esses níveis foram atualizados, e o exemplo para as crianças se estabelece de que uma pessoa pode não se adequar a certos padrões e pode ser o que seu coração deseja que seja e que não há grande problemas com relação a isso, e a maneira como lição moral é digerida foge do panfletarismo, embora no final a toxicidade do comportamento masculino gere um rival nada sutil para os heróis, dessa vez claramente apelando para um viés mais lacrador e que desnecessariamente desconstrói toda a evolução que Ralph, mostrando ele como um sujeito egoísta e que não aprendeu nada com as agruras que sofreu.

    O modo como o monstro gigante se mobiliza contra a real protagonista do filme, Vanellope é um pouco exagerado, embora não incomode e também não denigra o todo o filme – exceto é claro se o espectador em questão for tão inseguro que não pode ver sua frágil condição de macho alfa discutida – mas a solução final, para manter Ralph vivo mesmo depois de tudo é muito bem pensada, envolvendo cores e referências as personagens clássicas dos filmes mais famosos do estúdio, selando de uma forma saudável a relação entre Ralph e Vanellope, denunciando o quanto a possessividade entre pares pode ser prejudicial par todos, não só para a mulher, mas também para o homem.

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  • Crítica | Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola

    Crítica | Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola

    Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola

    Seth MacFarlane está em alta em Hollywood. Depois de emplacar 12 temporadas de seu programa mais famoso Uma Família da Pesada, nove de American Dad e quatro do cancelado Cleveland Show, além de dublá-los e produzi-los, passou também a produzir outros programas, como a nova versão de Cosmos para a TV, além de apresentar o Oscar de 2013 e tentar vida nova no cinema com o mediano Ted. Em 2014, chega às telas sua nova produção, com o título traduzido de forma pouco inteligente: Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola.

    O filme conta a história do pastor de ovelhas e fracassado Albert (MacFarlane), deixado por sua namorada Louise (Amanda Seyfried), que resolveu ficar com o emplumado Foy (Neil Patrick Harris). Para ajudá-lo, estão seu amigo Edward (Giovanni Ribisi) e respectiva namorada – e também prostituta do bordel local , Ruth (Sarah Silverman). Porém, tudo se complica quando a gangue de vilões liderada pelo bandido Clinch (Liam Neeson) esconde sua esposa Anna (Charlize Theron) na cidade, o que acaba aproximando-a de Albert.

    Quem acompanha a carreira de MacFarlane já conhece seu estilo de humor recheado de referências à cultura pop e de uma acidez que muitas vezes é incompreendida dentro do contexto que cria. Porém, se essa fórmula garantiu o sucesso de seus programas na TV – que já mostram um desgaste -, no cinema ela patina para engrenar. Apesar de Ted garantir algumas risadas, a estrutura rápida, que garante o sucesso do produtor em programas de 30 minutos na TV, teve dificuldades no cinema, em especial no confuso terceiro ato. Em Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola o problema é ainda mais grave.

    A premissa básica da comédia do filme é o protagonista Albert ser uma pessoa com linguagem moderna no Velho Oeste americano, onde pessoas morrem por qualquer motivo devido à baixa qualidade de vida, além da extrema violência, da época e local. E por alguns minutos conseguimos esboçar uma reação positiva a este argumento. O problema é que ele é repetido durante todo o filme, com um jargão digno de A Praça é Nossa (“as pessoas morrem na feira”), juntamente com um amontoado de piadas escatológicas totalmente gratuitas sobre sexo e funções corporais. Neil Patrick Harris, em uma cena, tem uma diarreia e usa um chapéu para se aliviar. E a cena se estende, por vários minutos, causando talvez mais vergonha ao ator do que ao espectador.

    Também constrangedora é a cena em que há um fan service sem propósito algum para a história: Albert abre uma porta de um celeiro à noite e dá de cara com Christopher Lloyd interpretando o lendário Dr. Emmett Brown, de De Volta para o Futuro, preparando o DeLorean dentro da trama do terceiro filme da trilogia. O fato de De Volta para o Futuro III se passar na Califórnia em 1885 e Albert estar no Arizona em 1882 tem importância? Aparentemente, não.

    Além de Christopher Lloyd, podemos ver outras participações, como Jamie Foxx interpretando Django Livre novamente, ou Bill Maher fazendo um comediante stand up com piadas do Velho Oeste; e também Ryan Reynolds, cuja ponta em Ted foi engraçada – ele tem um histórico de pontas em Uma Família da Pesada, então o colocaram ali. Mas sem importância. Porque praticamente toda a linha humorística do filme se resume somente à escatologia ou referências à cultura pop sem qualquer tipo de relação com a história ou os personagens. Sequências inteiras saem do nada e terminam em lugar nenhum, como a perseguição do bando de Clinch a Albert, ou quando o segundo é capturado por indígenas que usam drogas e falam como drogados urbanos (porque não há nada mais engraçado do que um drogado, né?)

    O que é ainda mais impressionante é a excelente qualidade técnica do filme. A fotografia está impecável, assim como os planos muito bem enquadrados, o set, o figurino e o som. Tudo funcionando perfeitamente, mas com esse imenso potencial desperdiçado, pois não há nada na história que justifique tamanho investimento técnico.

    Fica então a dúvida: se MacFarlane é um talento passageiro ou adequado somente ao formato da TV. No cinema, as apostas (e exigências) são mais altas. E até aqui, ele está devendo. E muito.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Detona Ralph

    Crítica | Detona Ralph

    poster detona ralph

    Desde a parceria com a Pixar, as animações da Disney apresentaram uma significativa queda de qualidade, perdendo um espaço que antes era dominado por seus clássicos. Tentando reverter este quadro, o estúdio riu de si mesmo em Encantada, mistura de animação com live-action, resultando em uma ótima bilheteria e dando abertura para que Bolt – O Supercão, A Princesa e o Sapo e Enrolados trouxessem rentabilidade ao estúdio e recuperassem parte de seu prestígio.

    Detona Ralph foi aguardado e esperado pelo público desde que sua trama foi anunciada, principalmente por se conectar à nostalgia de uma época em que o videogame era a principal diversão da maioria dos jovens. A cada novo material promocional divulgado, ainda mais os que continham a participação de clássicos personagem dos games, a expectativa aumentava e, antes mesmo de sua estreia, havia uma parte do público ansiosa pela produção.

    A maior preocupação em realizar uma história que adentra profundamente um passado nostálgico é saber se ele é capaz de fundamentar-se além da colagem de referências, elemento que sempre agrada o público. E a resposta mais rápida para está questão é sim, o filme é bem-sucedido.

    A premissa retoma um conceito de Toy Story: a ideia de que todos os personagens dos jogos ganham vida após o game over e podem sair de seus jogos e conviver em uma área pacífica de descanso até o início do expediente no dia seguinte.

    O detonador Ralph, do clássico jogo Conserta Feliz Jr, criado há trinta anos, está cansado de ser o vilão da história. Deseja ser reconhecido por seus colegas e sai à procura de conquistar o que demonstre seu valor. A nostalgia vista nas peças de divulgação concentra-se nos trinta minutos iniciais da trama, tempo que deixa qualquer jogador com um sorriso no rosto ao ver tantos personagens clássicos interagindo entre si, como na cena em que diversos vilões realizam uma terapia em grupo assumindo sua função má sem preconceito.

    Após as referências tão aguardadas, a história se concentra no conflito de Ralph, que abandona seu jogo ao descobrir outro em que o vencedor ganha uma medalha do final. É o ponto de partida para que a personagem quebre uma das regras primordiais entre os videogames: não se pode entrar em outro jogo sem provocar danos e nem problemas de programação. Durante sua jornada, Ralph conhece a pequena Vanellope von Schweetz e, com ela, forma a dupla central da história, unindo a força bruta do grandalhão à sensibilidade e à inocência de uma criança.

    O desenvolvimento da trama segue a estrutura de outros desenhos do estúdio: parte de um deslocamento das personagens centrais, produzindo uma história de conquista centrada na ideia de nunca abandonar quem se é nem desistir dos sonhos. A diferença é que, enraizada em uma história nostálgica, com personagens carismáticos, a repetição do argumento não deve ser vista como um problema, mas sim como uma base primordial de diversas animações que, se bem contadas, são eficientes para compor um bom filme.

    Mesmo que não se queira comparar ou competir, Detona Ralph é mais bem sucedido em sua proposta que Valente, a animação da Pixar que falha devido a um roteiro simplista, como uma tentativa de despir-se de camadas mais profundas, tão características do estúdio da luminária.

    O público brasileiro, traumatizado por Luciano Huck em Enrolados, teceu reclamações sobre a dublagem feita por Tiago Abravanel, Marimoon e Rafael Cortez. Porém, ela é competente e muito próxima da original, feita por John C. Reilly, Sarah Silverman e Jack McBrian.

    O sucesso da produção prova que a Disney ainda é capaz de realizar boas animações sem a necessidade de se apoiar na Pixar. Mas hoje, devido à demanda e à concorrência, é necessário maior esforço para se manter como a grande idealizadora dos clássicos como foi outrora.