Crítica | O Paciente: O Caso Tancredo Neves
Sergio Rezende é um diretor que em sua filmografia fez questão de fazer muitas menções ao cenário político brasileiro, normalmente levando Paulo Betti a tira colo, para ou protagonizar ou ao menos estrelar como coadjuvante seus filmes. Ao longo dos anos fez Lamarca (94), Guerra de Canudos (97), Mauá – O Imperador e o Rei (99), Zuzu Angel (06) e o recente Em Nome da Lei onde ele beatifica a figura de Sergio Moro, sem cita-lo evidentemente. Em comum, nessas cine biografias há a tentativa de evocar heroísmos, ainda que se juntar todos esses personagens, claramente não haja uma linha ideológica única que os guie. Quando recaiu sobre si a responsabilidade de fazer um filme sobre Tancredo Neves, obviamente que houve uma preocupação por parte de crítica e público.
Mais até do que Rezende, em O Paciente – O Caso Tancredo Neves a figura mais exigida certamente é Othon Bastos, que faz o político que deveria subir ao poder após tantos anos de Regime Militar. Ao menos na construção da atmosfera e retorno a época de posse de Tancredo há um belo acerto do diretor, pois a Brasília daqui parece mesmo a da segunda metade dos anos oitenta.
Tanto na luta por um regime democrático quanto na teimosia de não querer se tratar, o personagem de Tancredo soa bastante fiel ao personagem histórico. Bastos acerta demais no tom, embora o elenco que o cerque como família não seja tão brilhante, sobretudo Lucas Drummond, que faz seu auxiliar, um jovem sobrinho que ao menos na construção do roteiro, ainda parecia ter alguma vida política viva. Seu Aécio Neves é um sujeito voluntarioso, indignado com o que fazem ao seu avô e desnecessariamente falante, parece estar ali por motivos propagandista, ainda que fosse tarde demais para o (atual) senador mineiro, que nas eleições de 2018 foi eleito deputado federal e com não muitos votos, graças a figura de paladino que foi desconstruída após os escândalos da Lava Jato.
As conversas sobre os bastidores do planalto são muito boas, e apesar de muitos personagens conhecidos da política brasileira só tenham aparições em arquivos de vídeo como José Sarney, Ulysses Guimarães etc, há uma boa base para o entendimento de como a saúde de Tancredo era algo importante para manter o país nos trilhos democráticos e nesse ponto, todo o mérito é da atuação de Bastos.
Há um gasto de tempo enorme no registros da briga da junta médica para decidir qual ação deveria ser tomada ou qual erro foi mais crasso para o agravamento da saúde do homem público e isso narrativamente acrescenta pouco a historia, o máximo que contribui é na construção de thriller que o filme precisa.
Apesar de mais uma vez Rezende incorrer em uma propaganda ideológica – dessa vez atrasada ao invés de adiantada como foi com Moro – O Paciente é um filme tenso, que mantém um suspense em aberto especialmente para o espectador que não sabe qual foi o destino final de Tancredo Neves, para plateias estrangeiras e desavisadas claramente há um mistério histórico ali muito bem construído e para quem obviamente conhece minimamente a historia do Brasil, é um prato cheio de boas referencias, em especial pelo desempenho de Bastos, que engole todo o resto do elenco, mesmo quando seu personagem está desacordado.