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  • Crítica | 10 Segundos Para Vencer

    Crítica | 10 Segundos Para Vencer

    O drama de 10 Segundos Para Vencer começa em uma luta decisiva no ano de 1973, onde o biografado Eder Jofre trava a final dos pesos penas, já interpretado por Daniel Oliveira. Depois de  levar um golpe, ele cambaleia e encosta nas cordas, para então  acontecer o flashback dos anos quarenta, mostrando como o sujeito chegou até ali. Isso tudo ocorre durante o tempo de contagem de apenas 10 segundos, que dão nome ao filme e que podem simbolizar a derrota do boxer.

    O filme não tem pudores, mostra a realidade de um Brasil malandro, onde os esportistas passam longe de serem exemplos de conduta. Os pugilistas de 1946 tem uma trajetória trágica como Heleno e Garrincha tiveram no futebol, regado a um rotina totalmente da desregrada. Nesse espaço de tempo, Zumbanão (Ricardo Galli) é treinado por Kid Jofre, e disputa lutas de boxe mais semelhantes a rinhas de galo do que certames, e o treinador argentino interpretado por Osmar Prado fala ao pequeno Eder que aquilo ali não é boxe.

    O garoto Eder sonha com coisas simples, com um carrinho de bombeiro de brinquedo, e o velho promete que se Zumbanão vencer a próxima luta, a criança seria presenteada. O apego a simplicidade é uma marca da família e isso faz entender um pouco da obsessão de Kid em tornar seus filhos campeões. A trajetória proposta pelo cineasta José Alvarenga Junior e pelor roteirista Thomas Stavros não é muito diferente de outras vistas em filmes onde a luta é o esporte edificante que muda a vida do homem. Mickey em Rocky, Senhor Miyagy em Karatê Kid e outros tantos filmes também se valém de professores severos, e esse clichê só é bem explorado neste graças ao desempenho de Prado, que consegue ser um personagem irritadiço, irascível mas ao mesmo tempo amoroso, que enxerga em seus filhos um potencial para serem muito mais do que podem.

    O fracasso no passado com Zumbanão faz com que ele aposte muito em Eder, e o jovem é tolido de boa parte dos prazeres e benesses comuns aos jovens. Ele se casa com sua namorada, Cida (Keli Freitas) acontece sem ele poder comer sequer um pudim em seu casamento, e antes, no passado ele foi proibido de usufruir de uma bolsa de estudos de arte que ele sempre buscou, tudo em prol de manter-se focado em seu objetivo. A jornada e o sacrifício para ficar dentro do padrão de peso também é mostrada de maneira bem agressiva, mas evidentemente isso traz bons frutos.

    Os  últimos momentos do filme tem um tom épico, mostram a ascensão e lutas no exterior de Eder, suas vitorias e algumas derrocadas e todo esse caráter grandioso do atleta é pontuado pela determinação de seu pai. É bastante positivo que 10 Segundos Para Vencer tenha sido exibido com Jofre ainda vivo e a reverência que se presta a seu pai é enorme, e muito condizente com a realidade, é uma pena que o restante do elenco acompanhe pouco Prado em sua performance, mesmo Daniel Oliveira é extremamente ofuscado pelo veterano ator.

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  • Crítica | Morto Não Fala

    Crítica | Morto Não Fala

    Produção brasileira do gênero terror, Morto Não Fala é o longa de estréia de Dennison Ramalho, e já começa bastante promissor por conseguir estabelecer uma atmosfera de horror que não parece ter nacionalidade definida — exceção pela língua, o filme poderia ocorrer em absolutamente qualquer parte do globo, e essa universalidade claramente tem seu preço.

    O início da história mostram sirenes de ambulância, a viatura da polícia científica pega os “restos” de uma briga de torcidas organizadas de São Paulo e as leva até o IML (Instituto Médio Legal). Lá os defuntos são recebidos por Daniel Oliveira, que faz o legista Estênio, e sem maiores explicações o homem começa a conversar com os mortos.

    O modo como Ramalho constrói sua história lembra bastante alguns aspectos do sub-gênero literário que ganhou popularidade dentro do fandom sci-fi e de horror, chamado Ficção Bizarro. O principal dos elementos do estilo é o fato de algumas coisas que seriam estranhas em situações normais não terem peso, não causando qualquer menção a suspensão de descrença, em especial pelo fato de Estênio conversar com o além sem a necessidade de explicar qualquer fato diferente. O aspecto estranho simplesmente é visto como normal dentro daquela mentalidade narrativa.

    O filme tem um gore bem utilizado, e não chega a chocar ou causar asco no espectador. As conversas de Estênio com os mortos também não causam estranheza, é tudo muito natural, e a maior parte desses momentos envolvem diálogos bobos, como o desejo dos mortos de não serem enterrados como indigentes, por exemplo. O que realmente causa estranheza é a vida pessoal do personagem principal, que tem dois filhos e uma esposa, que vive reclamando de si. Odete, vivida pela bela Fabiula Nascimento, que vive reclamando da falta de bons modos do marido e do cheiro que ele carrega por conta de seu trabalho.

    Apesar de não estabelecer regras para o fantástico dentro de seu roteiro, se percebem alguns fatos que ajudam a formatar uma pequena mitologia a respeito das falas dos mortos. Aparentemente, o cadáver não mente e segredo de morto é segredo de morte, se alguém se valer disso para benefício próprio, pagará com a vida. O personagem de Oliveira é a última voz que muitos deles ouvem antes de ouvir o diabo, e um dos defuntos declara algo que fica marcado na memória do protagonista. Os mortos normalmente só falam quando Estênio está sozinho, possivelmente para não chocar as outras pessoas ou para o personagem principal não parecer louco. Isso muda quando ele encontra uma pessoa conhecida na maca, aparentemente a intimidade quebra algumas liturgias do trabalho, e a partir desse momento o mote do filme muda drasticamente, passando a acontecer uma série de eventos estranho com Estênio e com sua família.

    A família que mora com o personagem principal gasta seu tempo assistindo programas jornalísticos sensacionalistas e sanguinários, e essa violência midiática ajuda a retro-alimentar todos os agouros e má sorte que ocorrem não só com Estênio, mas também com Lara (Bianca Comparato), sua vizinha. Nesse meio tempo, Dennison escolhe colocar alguns elementos de filmes gringos de horror, principalmente jumpscares, mas também elementos de poltergeist, típicos dos filmes de casa mal assombrada, além é claro de referências mais específicas, como a Jogos Mortais de James Wan. Essa vontade do diretor de apresentar uma estética estrangeira não é necessariamente ruim, mas esbarra em limitações técnicas. Alguns efeitos especiais computadorizados ficam extremamente artificiais, em especial quando os mortos que falam são mulheres. A maquiagem soa falsa quando combinada ao CGI, ainda mais para uma obra de 2018.

    O filme não é refém dessas referências, e tem em sua fórmula argumentos típicos de outras obras brasileiras que se propõem a discutir temáticas mais sociais e familiares. Esses elementos compõem o cenário, mas não tem um foco narrativo super profundo. Ao menos no quesito atmosfera não há praticamente nada a se reclamar de Morto Não Fala. Há muitos elementos visuais bem pensados e executados. A mensagem final de que a vingança alimenta e o sacrifício não traz necessariamente redenção pode soar rasa para alguns, mas dentro da simplicidade com que a história é tratada, e dada a fluidez do roteiro e direção que Ramalho emprega, faz o quadro artístico muito bem montado e orquestrado.

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  • Crítica | Aos Teus Olhos

    Crítica | Aos Teus Olhos

    Longa de Carolina Jabor, baseado no conto catalão de O Princípio de Arquimedes, de Josep Maria Miró, Aos Teus Olhos é um drama que tenciona ser cheio de camadas ao tratar de uma questão polêmica envolvendo uma acusação de pedofilia, onde mal se pode acreditar em qualquer um dos lados.

    A história começa mostrando o dia-a-dia de Rubens (Daniel Oliveira), um professor de natação de intimidade exposta desde o início. Ele é um sujeito muito sexual, grande parte das cenas de introdução mostram ele transando, e o personagem não tem qualquer pudor de assumir isso, fazendo inclusive brincadeiras a respeito das alunas adolescentes de doze e treze anos.

    Muitos comparavam esse ao filme dinamarquês A Caça, com Mads Mikkelsen, por conta das semelhanças entre temáticas, mas a abordagem que a diretora escolhe é bastante diferente do que Thomas Vinterberg emprega em seu filme. Aqui os elementos polêmicos são muito mais sugeridos do que explicitados e tal situação divide opiniões em quem o assistiu. Indiscutivelmente, querer tolher o roteiro porque ele trata de uma questão tão espinhosa quanto a pedofilia, além de um esforço inútil também revela um preciosismo pueril, ainda mais levando em conta toda a problemática recente envolvendo os casos de assediadores e sex offenders famosos. O diferencial no filme de Jabor também é sua temporalidade, uma vez que se passa em plena era das redes sociais – abertas para qualquer pessoa que tenha acesso a internet -, facilitando assim a propagação de qualquer factoide.

    O julgamento que recai sobre Rubens passa basicamente por um grupo de incertezas terríveis. Não há uma grande afirmação, nem sobre sua inocência e nem em quem de fato acredita no que ele fala. Os personagens coadjuvantes se vêem repletos de dúvidas e o trabalho dos atores Marco Ricca, Malu Galli e Luisa Arraes é bastante rico nesse sentido de falar através de uma situação limite o quão complicada é a situação como um todo e o quão devastadora pode ser uma acusação contra a honra e integridade de uma pessoa, mas ainda assim, parece que falta algo invisível no filme.

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  • Crítica | Zuzu Angel

    Crítica | Zuzu Angel

    zuzu-angel

    A trilha sonora de Zuzu Angel começa com a eletrizante música Dê Um Rolê dos Novos Baianos, interpretada por Pedro Luís e a Parede junto a Roberta Sá. Após uma apresentação enérgica dos créditos iniciais, o filme de Sergio Rezende já se insere no escopo novelístico típico do longa. O drama baseado na história real da personagem título mostra uma mulher da elite brasileira que vê seu filho sendo capturado pelos militares.

    A estilista de classe média goza de uma influência grande da sociedade naquela época. Os detalhes de toda a questão envolvendo ela e seu filho Stuart Angel (Daniel Oliveira) são interessantes e um bom retrato dos martírios que a ditadura causava em seus opositores, mas fora alguns poucos momentos, a abordagem do filme é sensacionalista e pasteurizada, lembrando muito com Olga, de Jayme Monjardim outro filme que fez sucesso comercial em tempos recentes.

    As ligações entre Stuart e Carlos Lamarca fizeram com que Rezende trouxesse novamente Paulo Betti para representar o guerrilheiro, como ele havia feito com o filme Lamarca de 1994. É curioso porque o escopo de realidade forçada é reprisada neste filme, ainda que seja relativizada pela modernidade com que é conduzido o cinema. Quase todas as interações são extremamente artificiais e feitas sob uma ótica com linguagem bem mais televisiva do que cinematográfica.

    Patrícia Pillar tem um bom desempenho, como é esperado, mas a irrealidade do roteiro e da condução comprometem inclusive seu trabalho. As situações em que é posta com Stuart, seja na infância ou juventude dele são quase sempre exibidas de uma maneira forçada e nada natural. O filme carece de verossimilhança ou de qualquer intervenção mais enérgica por parte de seu realizador.

    Apesar de tratar um tema complicado o modo como o filme é realizado é bastante desequilibrado, confundindo momentos leves com pesados e registrando as torturas com uma complicada estilização, quase glamourizando os momentos de sofrimento. Ao final da exibição, Zuzu Angel soa pueril e até oportunista, por explorar um tema histórico em um um roteiro engessado, que suaviza uma história forte apresentando-a como se fosse algo genérico, apesar de tentar prestar reverências e homenagens.

  • Crítica | Órfãos do Eldorado

    Crítica | Órfãos do Eldorado

    Orfãos do Eldorado 1

    Filme cujo roteiro se baseia no livro de Milton Hatoum, Órfãos do Eldorado se inicia em um ambiente arenoso, o que já dá a previsão do quão nebuloso e nauseabundo será o seu texto. O roteiro, adaptado pelo realizador Guilherme Coelho e por Hilton Lacerda (o mesmo que dirigiu o bom Tatuagem), foca no vazio existencial de um homem jovem e deprimido, que vê seu futuro ser abraçado por fantasmas do passado.

    Daniel Oliveira vive Arminto, um rapaz que tentava a vida como músico, e que retorna à casa de seu pai, que estaria com uma doença praticamente incurável. Na antiga casa, ele encontra sua antiga amante e madrasta Florita (Dira Paes), que prossegue em sua vida sem evolução ou mudanças drásticas, ao lado do homem velho.

    O romance de Hatoum pedia uma quantidade de nuances ímpar, bem como uma abordagem não óbvia de questões muito complicadas e profundas, mas não foi esse o tento de Coelho. A premissa interessante é conduzida de modo bastante bobo, tencionando um espírito elevado que jamais é alcançado, e que faz rir ao se deparar com o desempenho dramatúrgico de atores consagrados como Oliveira e Paes. Surpreendentemente, quem consegue brilhar – mais graças à beleza do que a qualquer outro fator – é Mariana Rios, que consegue se manter sublime e sensual quando é exigida.

    A aura mística também não se sustenta, graças aos sotaques forçados e cenas desnecessariamente longas, que não têm motivo ou significado algum para serem assim. Apesar de possuir uma fotografia boa, os takes mais alongados soam preciosistas, distantes demais do que deveria propor. Não há contestação, não há aprofundamento e nem um mergulho no emocional dos personagens. O que sobra é um gigantesco vazio, diferente demais do proposto por Hatoum.