Crítica | Alvo Duplo
Responda rápido: Qual o maior brucutu de todos, todos, TODOS??
Só existe uma resposta possível para esta pergunta. O maior brucutu da história do cinema já correu por aí em uma corrida assassina, lutou contra todas as dificuldades num ringue de boxe, matou vietcongs na guerra, foi a “cura” para o crime, já foi o campeão dos campeões, limpou seu nome ao lado de Kurt Russel, fez dupla com sua mamãe badass, foi congelado para lutar no futuro e explodiu a máfia com a ajuda de Sharon Stone. Esse cara já se provou o melhor assassino de todos, já foi a personificação da lei, já salvou pessoas em um túnel subterrâneo, vingou o irmão, ajudou a filha de um mafioso em busca de vingança e já salvou a Giselle Itié das garras de um ditador de republiqueta.
A filmografia de Sylvester Stallone é a minha preferida de todos os astros de Hollywood. O termo “badass motherfucker” no dicionário informal do IMDB deveria ter uma foto do cara, pois ninguém é tão foda na telona importante para o “cinema brucutu” quanto ele. Com quase 70 anos, e a cara mais torta que a do Sloth, Sly continua mandando ver como um dos últimos brucutus vivos em atividade. Infelizmente, seu novo filme é a prova de que o estilo está mesmo com os dias contados, apesar de eu não ter desgostado totalmente de Alvo Duplo!
No filme, Stallas interpreta Jimmy Bobo, um assassino profissional de Nova Orleans que é alvo de uma queima de arquivo da máfia após concluir um trabalho com seu parceiro. Implacável, Jimmy se alia a um policial de Washington (Sung Kang, o Han de Velozes e Furiosos) que é enviado para investigar o assassinato de seu ex-parceiro: o alvo do último trabalho de Bobo. Juntos, ambos devem descobrir o mandante dos assassinatos, mesmo sabendo que não podem confiar um no outro nem por um segundo enquanto estão juntos.
O roteiro do filme é bastante normal, mas isso não é o importante. Quando “entrei no cinema” para assistir o filme, esperava apenas interpretações medianas e Sly mandando sua atuação mais canastra, e por isso não me decepcionei muito. Ao contrário do que sempre aconteceu em seus filmes de ação, o personagem de Stallone não se envolve em nenhum tiroteio com 30 caras mais armados que ele e que erram todos os tiros apenas porque ele é o principal. Um alvo de cada vez, Jimmy Bobo vai eliminando todos os envolvidos no plano para lhe assassinar sempre acompanhado de perto pelo policial que tenta impedi-lo de cometer os crimes. A relação entre os dois protagonistas, no entanto, é terrível e foi uma das coisas que eu mais odiei no filme.
Sung Kang não é um ator internacionalmente reconhecido pelo seu talento nas frente das câmeras, mas nesse filme ele se supera no quesito ruindade e falta de carisma. Seu personagem (Taylor Kwon, o policial destacado de Washington) não estabelece nenhuma relação com o espectador durante o filme e seu papel como guru tecnológico e provedor de informação para o persona de Sly não possui nenhuma relevância. Quando eu digo nenhuma, é NENHUMA MESMO! Tudo que ele faz é atrapalhar Jimmy Bobo e dar informações que ele já sabia, sobre pessoas que ele já conhecia e sabia onde encontrar. Nenhum dos diálogos entre Kang e Stallone é digno de memória, e o máximo que ele conseguiu no filme foi ser comparado (devido à semelhança física e à inutilidade do personagem) com o Glenn, do The Walking Dead da TV.
O vilão do filme, por outro lado, pode ser considerado um ponto positivo. Jason Momoa (O Conan, do NÃO TÃO RUIM “Conan, o Bárbaro”) manda bem como o assassino responsável por matar Jimmy Bobo e seu parceiro. Keegan é um assassino profissional que não se importa tanto com o dinheiro. Psicótico e descontrolado, o personagem de Momoa atua como assassino de aluguel apenas para receber alvos e poder saciar sua vontade de matar. Em duas ocasiões do filme, Keegan cai na porrada com seu alvo e ambas as cenas são bastante divertidas e bem executadas. Os demais vilões do filme são rasos e de pouca importância.
A trilha sonora e a fotografia do filme são muito bem trabalhadas e contam, talvez, como o maior ponto positivo do filme. A trilha, composta por batidas e pela gaita com uma pegada mais Blues, e por momentos de rock mais pesado, combina perfeitamente com o clima do filme, construído em boa parte pela fotografia mais escura e fria. A direção de Walter Hill não conta como um diferencial também, mas não prejudica o filme, o que por si só já conta como um ponto positivo já que o cara nunca chegou a emplacar como diretor. Vale lembrar que, contrariando ao que vinha acontecendo nos último filmes de Stallone, nada na produção deste filme possui seu envolvimento direto. Talvez se estivesse envolvido diretamente na construção do filme, a produção teria um ar verdadeiramente oitentista e um clima ainda mais “brucutu”, alcançando um resultado melhor na bilheteria e na crítica. Acho que nunca saberemos…
O filme chegou sem barulho nenhum aqui no Brasil. Sem trailer (pelo menos nos GNCs de Santa Catarina), sem maior divulgação e com poucas sessões por aqui, o filme provavelmente não chegou a se pagar nas salas escuras. O boxofficemojo.com reporta um faturamento de quase 9,5 milhões nos Estados Unidos mas ainda não tem números do montante que o filme arrecadou ao redor do mundo, o que não parece ser boa notícia para um filme com nomes de peso como Stallone, Jason Momoa e Christian Slater.
Como citei, Alvo Duplo não chega a ter um clima verdadeiramente “brucutu”, apesar de contar com a atuação canastra do maior ator da história deste gênero. No final, Sly e Momoa mostram bem que o último suspiro deste gênero tão apreciado por mim e por outros é, realmente, “Mercenários”. Parece-me que o cinema não tem mais espaço para filmes que se sustentam em cenas de ação e deixam o roteiro fora do centro. Uma pena, infelizmente…