Se em 1962, os Estados Unidos ainda estavam na ressaca da Segunda Guerra, Hollywood não deixaria isso passar em branco. Na verdade, O Inferno é para os Heróis é uma propaganda das mais divertidas sobre os aparentes motivos que fizeram os EUA ganhar a guerra e virar o novo Império do mundo: a inteligência dos americanos – no caso, dos seus militares em combate. Aqui, o ano ainda é 1944, e entre os escombros da França na maior tragédia da humanidade, os nazistas ainda tocam o terror no seio do conflito, a Europa, e detêm o poder bélico com ampla vantagem a qualquer nação. O que poderia fazer um esquadrão de sobreviventes prestes a ir pra casa (“Arrumem suas coisas, vamos!”), quando de repente são frustrados a encarar os Krauts (apelido pejorativo dos americanos, aos alemães) nas trincheiras?
Ao encarar a missão, ninguém esconde o cansaço de pegar em metralhadoras e correr das armadilhas nos campos de batalha. Até os mais veteranos, como no caso do sargento Pike (Fess Parker), ou do ex-sargento e misterioso Reese (Steve McQueen, um galã mesmo sujo e com os dentes cerrados), sabem que voltar em bando ao corre-corre das bombas pode ser o chamado definitivo da morte, tentando pegá-los uma última vez na calada da noite, para que nunca mais pisem em solo americano. Mas o dever chama, e entre eles e uma guarita cheia de resistentes nazistas no meio do nada, há um campo minado implacável. Com menos armas que os oponentes, o que eles poderiam fazer senão fingir ser aliados dos alemães, tentando uma emboscada? Por uma hora e meia, temos um filme que recusa clichês, representando a sensação de um homem que implora pela vida, enquanto aos trancos e barrancos, cumpre sua missão.
O Inferno é para os Heróis esforça-se para ser uma espécie de “A Arte da Guerra” para o exército americano. Se por um lado é uma ode a estratégia, por outro não esconde como a guerra prejudica o psicológico dos soldados que servem ao país. Don Siegel já era um grande cineasta em 1962, prestes a entrar com sua ótima parceria com Clint Eastwood em 1968, mas antes reuniu um grande elenco no seu “filme de guerra” com mais cérebro e menos ação. Equilibra muito bem o drama e o suspense, com os momentos de aventura que as plateias amam. Através de uma fotografia exuberante e uma tensão forte, Siegel realmente mantém o campo de batalha mergulhado em um umbral de imprevisibilidades horríveis, bem escuro e traiçoeiro, com seus sobreviventes exaustos do conflito, revoltados por ainda estarem nele. A responsabilidade fala mais alto, cada minuto conta, e o nascer do sol é uma utopia. A guerra, como ela é.
O medo sempre esteve presente dentro de cada um de nós, para alguns isso se transmuta em uma possível data onde o fim dos tempos chegará. Não são poucas as pessoas que propagam essa política de medo, algumas vezes exercidas através de governos autoritários de forma indireta, ou agindo abertamente por meio de religiões e seitas extremistas. O fato é que essas movimentações que ocorrem de tempos em tempos, seja com a Guerra Fria e o perigo iminente de um guerra nuclear, ou com a virada do milênio e calendários maias, o cinema sempre esteve presente retratando o fim do mundo, muitas vezes abrindo os olhos do espectador para o problema real, seja de forma irônica, lírica ou chocante. Portanto, segue abaixo uma lista de 10 filmes, com a visão de 10 grandes diretores (nada de Michael Bay e Roland Emmerich) sobre o epilogo de nossas vidas.
A Última Esperança da Terra (Boris Sagal, 1971)
Baseado na obra de Richard Matheson (existem três versões da história), A Última Esperança da Terra foi estrelado por Charlton Heston e mostra um pouco da paranoia causada pela guerra nuclear. O personagem de Heston vive em uma metropóle completamente dizimada por uma guerra e aparentemente só. O filme traz uma postura antibelicista, além de explorar vários pontos do fanatismo religioso.
Apesar de não seguir o padrão dos filmes de “fim do mundo”, Fonte da Vida é uma grande história sobre amor e morte, ciência e espiritualidade, e claro, o início e o fim de tudo. De maneira delicada, duas tramas contidas no filme se entrelaçam e culminam em um última, onde o personagem de Hugh Jackman, completamente só na imensidão, consegue a resposta de sua existência.
Dr. Fantástico (Stanley Kubrick, 1964)
Kubrick aproveita o auge da Guerra Fria para fazer uma comédia repleta de ironia sobre os temores da humanidade de uma possível guerra nuclear. Destaque para a interpretação de 3 personagens por Peter Sellers. Simplesmente genial. Dr. Fantástico é um manifesto antiguerra, tudo isso numa das mais mordazes sátiras da história do cinema
A jornada de um pai e seu filho em um mundo pós-guerra nuclear. Hillcoat deixa a sutileza para as atuações do elenco, já que o roteiro e a direção do filme não dão espaço pra isso, apenas para um mundo sem vida e grotesco de pai e filho, onde a esperança se esvai a cada passo. Grande filme.
A Noite dos Mortos Vivos (George Romero, 1968)
A Noite dos Mortos Vivos é um paradigma para o cinema como um todo. O primeiro trabalho de Romero é consolidado como uma das produções independentes mais bem sucedidas do cinema, serviu como base para o estabelecimento dos zumbis como conhecemos hoje e influência para o modo de fazer cinema, além de ter um dos finais mais surpreendentes da história.
Os 12 Macacos (Terry Gilliam, 1995)
Os 12 Macacos traz uma visão pós-apocalíptica de um futuro onde um vírus dizimou boa parte da população mundial e a única solução da Terra é enviar alguém para o passado para consertar o que motivou esse futuro. Gilliam constrói um senso de urgência e angústia à todo momento. O filme traz ainda uma forte mensagem de voltarmos nossos olhos para o presente e a valorização do que temos hoje.
Melancolia (Lars Von Trier, 2011)
Melancolia trata da história de um planeta (Melancolia) que irá colidir com a Terra. Nesse cenário apocalíptico somos apresentados para os conflitos internos, medos e distúrbios de cada personagem e como isso afeta cada um deles. Lars Von Trier utiliza a temática de filmes catástrofe para um estudo sobre o ser humano e sua finitude.
Limite de Segurança (Sidney Lumet, 1964)
O principal problema de Limite de Segurança foi ter sido lançado alguns meses depois do seu co-irmão (e já mencionado aqui), Dr. Fantástico. Diferente do filme do Kubrick, que se tornou cult, Limite de Segurança já não é tão conhecido, sendo revisado pela maioria dos críticas muito tempo depois. Ambos os filmes retratam o mesmo tema, contudo, Lumet opta por uma visão densa e mais politizada que Kubrick e acerta em cheio.
Filhos da Esperança (Alfonso Cuaron, 2006)
Cuarón traz uma visão futurista bastante aterradora. Há quase 20 anos não nascem mais bebês, a humanidade está a beira da extinção e o mundo se tornou um caos completo. A construção de personagem de Clive Owen, com seu cinismo e onipresença em tela. É impressionante como a visão de mundo futurista do diretor é atual. O futuro de Filhos da Esperança já chegou e nós não nos demos conta.
Vampiros de Almas (Don Siegel, 1956)
Apesar de várias outras refilmagens, algumas mais interessantes que outras, nenhuma supera a versão do diretor Don Siegel. O cineasta dá uma aula de cinema em Invasor de Almas, construindo uma visão apocalíptica de forma tensa, ágil e econômica. A trama conta a história onde as pessoas não são mais as mesmas, apesar da aparência física e das lembranças. Siegel retrata o período de paranoia que os EUA viveu durante a caça às bruxas promovida pelo senador Joseph McCarthy, ou indo mais longe, dando sua visão de um mundo sem emoções.
–
Menção honrosa a vários outros títulos que tiveram de ficar de fora mas vale uma conferida: O Fim do Mundo, 4:44 – Último Dia na Terra, Wall-E, Mad Max, Planeta dos Macacos, A Máquina do Tempo, O Menino e seu Cachorro, Donnie Darko, Akira, O Dia em que a Terra Parou, Sunshine, Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo, A Sétima Profecia, Extermínio, O Abrigo, O Sacrifício, Guerra dos Mundos, Marte Ataca, Exterminador do Futuro, entre tantos outros.