Em 2011, Eli Wallach recebeu uma homenagem da Academia com um Oscar honorário por sua obra.
Crítica | Caçador Implacável
“Papa, eu vou te matar!”
Deveria ser um crime universal um filme desses não ser tão popular, igual Rambo, ou Perseguidor Implacável, com Clint Eastwood. Presente como referência imediata a qualquer filme de ação dos últimos quarenta anos, Caçador Implacável é um diamante esquecido pelo público, e que agora é garimpado. Faz-se também a necessidade de vários rótulos que só elevam a experiência: filme de ação policial com suspense e romance, tudo embalado por uma estética ultra realista e sequências delirantes que nenhum filme de herói superou até hoje – quem duvida, faça o favor de assistir. Porque no caminho de pouca glória e muita confusão do Ralph “Papa” Thorson, caçador de recompensa cuja vida é capturar fugitivos da polícia nos EUA, e que está prestes a ser pai, tudo é possível em nome da justiça, e do seu código de ética profissional. O veterano é um Batman que atua de dia, e sem colete à prova de balas.
Papa nunca falha, e o filme já abre provando isso: o cara, policial branco e de meia-idade, tem a coragem de entrar numa periferia barra pesada, pegar pelo braço um fugitivo, e sair dali com ele sem precisar disparar um tiro. A moral do personagem já está entregue, além da noção visual dele ser, realmente, implacável. E quem é melhor para essa missão do que Steve McQueen, um dos maiores astros do cinema de ação dos anos 70? Aqui, o cara brilha em seu último grande filme em Hollywood, entregando tudo de si fisicamente, em cenas de puro frenesi e ação inacreditável – toda a enorme cena da perseguição interna e externa no trem, e depois no estacionamento e na escola, é algo que não se vê mais no cinema do século XXI. Mesmo na tela, é difícil acreditar no poder da execução e de sua decupagem, tornando o longa uma obra que beira o memorável.
E não apenas por isso: o roteiro acerta ao construir e revelar, sorrateiramente, uma ameaça à altura de Papa, e que talvez, ele possa vir a falhar no combate a ela, já que agora o Caçador tem muito a perder, além da sua reputação. Porque não tem nada mais absurdo, cômico e sem noção, do que tentar fazer justiça num mundo caótico! O diretor Buzz Kulik decide misturar, com perfeição, aventura e humor de um jeito que a Disney, desde 2003, não conseguiu mais atingir sem infantilizar os seus filmes. Bebendo também dos maneirismos da época, com uma trilha de discoteca e uma fotografia 100% naturalista, a sensação é a de um filme delicioso e típico dos anos 80, quando não havia ainda as pretensões artísticas gananciosas de cineastas de ego gigante. Aqui, temos uma ótima história no Cinema para se rever e admirar, contada da melhor maneira possível (percebemos isso). E faz falta isso, hoje em dia. Caçador Implacável corre o risco de ser o filme favorito do seu pai, ou tio, e dá pra entender muito bem o porquê.