Review | Hoops – 1ª Temporada
A sinopse da primeira temporada de Hoops descreve um treinador de basquete colegial, super mal humorado, que tenta colocar seu time nas divisões principais das competições do ensino médio dos Estados Unidos. A animação em parceria de 20th Century Fox, distribuída internacionalmente pela Netflix começa no campo onde fica a Escola Lenwood, lugar onde Ben Hopkins (dublado por Jake Johnson) tem uma reação exagerada por conta de uma falta injusta marcada contra seu time, virando automaticamente uma máquina de falar palavrões, conseguindo encaixar quase uma dezena de fucks em menos de dois minutos.
A ideia do criador do programa Ben Hoffman é mostrar um sujeito incapaz de viver bem, graças à clara misantropia e irritação extrema que ele pratica, mas nem sempre foi assim. Nos flashbacks exibidos na segunda metade da temporada isso é bem resolvido. Hopkins é o inverso de Coach Carter e outros protagonistas de filmes de esporte (como Momentos Decisivos e Estrada Para a Glória), se assemelhando muito mais com a versão que Nick Nolte fez em Blue Chips, mas sem a mesma genialidade, tanto no trato dos garotos colegiais quanto na narrativa que Ron Shelton montou no roteiro do filme.
Hoffman já trabalhou em outras animações, como Archer, no entanto ele ficou famoso por conta de seus álbuns country humorísticos, onde brincava com os clichês ligados aos ruralistas e caipiras dos Estados Unidos, e essa experiência o ajuda a zombar do comportamento típico do White Trash americano. Natural do Kentucky, foi um caminho natural escolher seu estado como cenário de seu programa, onde os Lenwood Colts vivem e jogam.
É fácil notar os motivos que fazem Ben ser tão frustrado no esporte, não só por ter nascido num lugar longe dos grandes holofotes desportivos, mas também porque seus fracassos repercutem no lugarejo onde vive, sempre à sombra do seu pai que teve alguma notoriedade.
O estilo desbocado do personagem central gera um sem número de piadas de autoparódia, no entanto, os melhores momentos do seriado certamente são os de constrangimento pela falta de habilidade dele de viver. Ele é um sujeito bem problemático, se culpa por seus “defeitos” genéticos (é baixo e pouco atlético, fato que o impediu de jogar por mais tempo), além de se comparar o tempo todo com o pai, envolvendo não só o interesse em comum no esporte, mas também nas questões afetivas. A primeira vitória que o seu time tem se baseia no estímulo dos meninos de verem seus pais no adversário, e só esse aspecto é um bom resumo do quão triste é a vivência do personagem.
Os momentos mais engraçados são os musicais. Há pelo menos um por episódio, e a maior parte deles é bem inspirado, por mais cretinas que sejam as piadas. As histórias paralelas também tem alguma importância, especialmente, as que tocam os outros funcionários da escola ou a ex-esposa de Hoffman, mas a narrativa não é bem elaborada, longe disso, o humor ácido é basicamente uma desculpa para mostrar momentos de miséria existencial. Mesmo quando chega ao sucesso, Ben age como um fracassado pretensioso. Por mais que Hoops não seja uma comédia hilária, diverte e abre boas possibilidades para um segundo ano.