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  • Resenha | Cartas Na Rua – Charles Bukowski

    Resenha | Cartas Na Rua – Charles Bukowski

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    Poucos escritores têm prosa consistente para se tornarem referência na literatura e uma influência narrativa para gerações futuras, que permanecem à mercê do estilo do escritor. Um aspirante que lê Charles Bukowski pode se influenciar facilmente ou sair ileso de sua narrativa; uma sorte oportuna.

    Cartas na Rua é o primeiro romance da carreira daquele que é conhecido como Velho Safado e exibe um excelente vigor narrativo. O estilo histriônico e seco, apoiado em mentiras plausíveis de um homem sincero demais, se baseia nas próprias vivências cotidianas do autor em histórias episódicas narradas por um alterego.

    A simplicidade aparente da narrativa é uma armadilha para leitores desprevenidos que não dão credibilidade a uma história sobre um quarentão beberrão, bêbado e atraído por mulheres em geral. Um erro grosseiro. Bukowski e o alterego Henry Chinaski são personagens marginais que não têm vergonha de se exporem ao ridículo com sentimentos, porres e dores de corno. Homens que não deixam o choro preso na garganta, expelindo-o em palavras e acessos de raiva. Uma poesia raivosa que surge nesta obra a partir de histórias de um homem avesso a regras de costume e convenções sociais e que trabalhou miseravelmente durante anos para a empresa americana de serviços postais.

    Como carteiro, Chinaski narra uma América desencontrada e ri de si mesmo e das instituições a todo momento. Esta seria uma das explicações plausíveis para o reconhecimento do público perante o autor e o martírio de escritores tentando imitá-lo: sua prosa é um retrato real de uma vida comum, estagnada por desafios e preguiça. Um desalento que conquista leitores porque, em maior ou menor escala, reflete a sua própria insatisfação. A maneira de observar a vida passa pelo filtro da ironia e pelo desequilíbrio da consciência, transformada em doses de mal humor e de uma percepção de que o universo conspira contra o personagem.

    Se Bukowski é referência literária com muitos fiéis, o autor também possuía seus deuses. Assim como aos canônicos Ernest Hemingway e Fiodor Dostoiévski, Buk nutria grande devoção a John Fante.  Citado como uma das grandes inspirações, o ítalo-americano foi responsável pela maneira franca de narrar a própria história. O Velho Safado admirava a capacidade de Fante criar homens que não têm medo de demonstrar sentimentos. À sua maneira, compõe um perfil parecido: um homem modesto, sem muitas posses, que dedica boa parte de sua renda à bebida e mulheres, entregando-se de corpo e alma às suas experiências, sem medo de demonstrar vergonha ou insignificância.

    É a sinceridade dilacerante que atrai leitores e outros escritores a imitá-lo. Em vez de esconder defeitos, seus personagens expõem as incongruências sem medo, pecando pelo excesso de ser irresistivelmente sincero. Nesta vida ébria, sustenta-se o escritor e poeta, que não vive sob máscaras de eu-lírico ou personagens, mas sim cuspindo dores do coração, entre versos bêbados sob influência das bebidas mais baratas que podia comprar. Um humano miserável que vê a poesia oculta no ordinário.

    Bukowski fez de sua própria história a matéria para seus romances e ainda compôs contos e uma vasta carreira poética. Cartas na Rua representa o ponto de partida deste senhor, que paradoxalmente desistiu de uma vida ordinária para tornar-se um escritor que tratou feitos ordinários. Um dos motivos pelos quais sua narrativa permanece rica de interpretações.

  • VortCast 32 | Pergunte ao Pó

    VortCast 32 | Pergunte ao Pó

    Bem-vindos à bordo. Nesta edição, Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira, Thiago “Coração Valente” Augusto (@tdmundomente) e Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para comentar o romance Pergunte ao Pó, do escritor ítalo-americano John Fante. O autor ficou conhecido pelo tom confessional entregue por suas experiências pessoais, além de ter como principal característica o estilo rápido, objetivo e pouco rebuscado de sua narrativa. A obra de Fante serviu como alicerce de toda uma revolução literária, influenciando diversos autores da geração beat e o movimento de contracultura.

    Duração: 86 mins.
    Edição: Thiago “Coração Valente” Augusto e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: Bruno Gaspar

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    Comentados na edição

    Coluna sobre a geração beat, Jack Kerouac e ‘Na Estrada’
    Resenha de ‘A Mente Suja de Robert Crumb’ e um pouco sobre o movimento beat e contracultura nos quadrinhos
    Podcast sobre ‘O Apanhador no Campo de Centeio’
    Podcast sobre ‘Retalhos’
    Prefácio de Charles Bukowski

    Bibliografia do autor

    Espere a Primavera, Bandini (1938) – Compre aqui
    Resenha Pergunte ao Pó (1939)Compre aqui
    A Irmandade da Uva (1977) – Compre aqui
    Sonhos de Bunker Hill (1982) – Compre aqui
    Resenha 1933 foi um ano ruim (1985) – Compre aqui
    O Caminho de Los Angeles (1985) – Compre aqui
    O Vinho da Juventude (1985) – Compre aqui
    A Oeste de Roma (1986) – Compre aqui

    Dicas de Materiais Relacionados

    Filmes:

    Crítica Pergunte ao Pó, por Filipe Pereira
    Crítica Uivo, por Filipe Pereira
    Crítica Versos de um Crime, por Thiago Augusto
    Crítica Na Estrada, por Isadora Sinay
    Crítica Viagens Alucinantes, por Filipe Pereira

    Livros:

    Notas do Subsolo – Dostoiévski – Compre aqui
    Uma Temporada no Inferno – Arthur Rimbaud – Compre Aqui
    O Último Magnata – F. Scott Fitzgerald – Compre aqui
    Trópico de Câncer – Henry Miller – Compre aqui
    O Amor é um Cão dos Diabos  – Charles Bukowski – Compre aqui
    Big Sur – Jack Kerouac – Compre aqui
    Uivo – Allen Ginsberg – Compre aqui
    Amor nos Tempos de Fúria – Lawrence Ferlinghetti – Compre aqui
    Junky – William S. Burroughs – Compre aqui
    Geração Beat – Claudio Willer – Compre aqui
    Paranoia – Roberto Piva – Compre aqui
    Toda Poesia – Paulo Leminski – Compre aqui

  • Resenha | Pergunte Ao Pó – John Fante

    Resenha | Pergunte Ao Pó – John Fante

    Aos 30 anos de idade, o ítalo-americano John Fante trazia consigo uma maturidade preciosa, repleta de autocrítica consciente sobre os anos de sua juventude, com fins de reconhecer os próprios erros de escritor iniciante e narrá-los na ficção através de seu alterego Arthuro Bandini, o ponto mais brilhante de sua carreira.

    Um ano antes, o escritor deu vida e voz às peripécias da personagem em Espere a Primavera, Bandini, o primeiro do quarteto que narra a trajetória de Arthuro, tão semelhante a de seu autor que criador e criatura tornam-se sinônimos.

    Lançado no país pela José Olympio – detentora de boa parte do catálogo de Fante no país –, foi Pergunte Ao Pó que trouxe o derradeiro destaque ao autor. A narrativa é uma pequena pérola que não busca uma grande jornada e centra-se na história cotidiana de Arthuro Bandini, de origem ítalo-americana, recém chegado de Los Angeles à procura de emprego e de destaque social como um escritor.

    A maneira lúcida com que Fante narra sua história promove uma feroz autocrítica de seus dias iniciais como escritor, universalizado na figura do alterego. Bandini representa o pior que pode acometer um artista novato: é presunçoso, esnobe e vaidoso ao extremo com sua própria criação literária. Por detrás de seu ego, Bandini é tímido, vivendo do medo de não ser tão bom quanto sua capacidade requer. Como um herói romântico, deseja viver aventuras para que possa narrá-las com a pompa necessária.

    É pelo viés do sentimento que a personagem conquista o público. Bandini é formado por excessos para se tornar odiado pelo leitor, tanto no reconhecimento que se pode ter diante de seus defeitos quanto a respeito de suas reações extremas. Longe de uma jornada modificadora, a narrativa retrata a juventude imatura e – no âmbito da escrita – a relação do escritor com sua própria história de vida entre viver para contar ou narrar como forma de viver. Fante reinventa a própria história ao recontá-la em linhas narrativas, fazendo da própria biografia elemento primordial de sua ficção.

    Entusiasta do autor, Charles Bukowski incentivou a popularização de Fante na década de 70, quando, ao publicar um novo livro, exigiu de sua editora o lançamento de Pergunte Ao Pó, além de escrever o prefácio da edição. Estranhamente, Fante tem reconhecimento tímido no Brasil, embora seja influente como escritor e chave para compreender movimentos posteriores, como a geração Beat, que faz da sociedade alvo de crítica.

    Ao compor um personagem que desejava se inserir na sociedade a qualquer custo, Fante analisava a época vivida em meio à crise de 29 e próxima de uma segunda guerra mundial. Dentro deste cenário, Bandini é um miserável que, assim como muitos outros americanos, viveu de maneiras parcas à procura de um sustento minguado, passando dias comendo dúzias de laranjas, único alimento que tinha dinheiro suficiente para adquirir.

    Em meio a este difícil e árido cenário, Fante não tem medo de fazer de sua personagem um homem sentimental. Imaturo, difícil, mas transbordando emoções. Em seu prefácio, o Velho Safado elogia a capacidade do autor em conseguir resgatar certo sentimento perdido na literatura. Como se os autores, à procura de personagens durões, omitissem a sensibilidade natural dos seres humanos.

    A épica de Bandini não carrega uma mensagem transformadora de conduta, mas confirma a imaturidade aparentemente perene de um homem ainda incapaz de reconhecer o mal que faz a si próprio.

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    pocket em edição dupla com Espere a Primavera, Bandini.

  • Crítica | Pergunte Ao Pó

    Crítica | Pergunte Ao Pó

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    Após realizar roteiros de filmes clássicos, como Uma Rajada de Balas e Chinatown, Robert Towne ganhou notoriedade e passou a dirigir filmes sem o mesmo sucesso que tinha como escritor, evidentemente. Após uma parceria com Tom Cruise em três obras  A Firma, Missão: Impossível e Missão: Impossível 2 ­ , o ator o ajudou como produtor executivo do longa metragem, capitaneado por Towne e baseado no laureado romance Pergunte ao Pó, de John Fante.

    A direção de arte e a fotografia fazem da película uma fita demasiadamente leve, muito diferente do clima arenoso e enevoado do texto original. A iluminação chapada não ajuda a captar as variações das ações individualistas de Arturo Bandini, que pioram de situação graças à atuação de seus intérpretes. No auge da canastrice, Colin Farrel faz o escritor/narrador da história, e desde o início parece um pastiche, um deboche do alterego de Fante. Nem mesmo as suas interações com o seu oikos são interessantes, uma vez que são todas mecânicas.

    Camilla Lopez é feita pela voluptuosa Salma Hayek, que seria uma boa escolha para o papel se não atraísse os olhos dos homens ávidos de modo tão óbvio e latente. A beleza que era anunciada no livro como exótica, em tela é exuberante e nada sutil, o que claramente fere a essência da personagem. Tal conjectura não seria um grave problema de adaptação caso o entorno da personagem compensasse, especialmente pelo ambiente meio depressivo, mas isto não ocorre. Nem a nudez da atriz é valorizada de maneira plena, uma vez que ela é feita em meio à neblina. Um desperdício lastimável.

    Não há muito espaço para nuances ou foco necessário para explicitar a degradação do ethos do escritor vaidoso. O roteiro e as ações prescritas nele foram mal trabalhadas e executadas de modo sistemático e rotineiro, parecendo algo genérico, tão vazio e sem substância quantos os piores produtos para os cinemas dos anos 50.

    A duração de sua exibição é deveras prolongada, as tomadas se repetem uma a uma, e a sensação de quem vê o filme é de que há absoluta redundância nos dramas tratados em tela. Ao menos as divagações de Bandini, ao felicitar a si mesmo por seus feitos, chega perto do pedantismo típico do personagem, sendo este o ponto mais próximo do espírito da obra original. Farrell é um ator limitado, de trabalhos irregulares, que até consegue impor alguns poucos arquétipos em seu trabalho de atuação, mas tem dificuldades sérias em representar pessoas com interesses conflitantes, quanto mais um sujeito que tem claras dificuldades em manter a psiquê saudável, caso de Arturo Bandini. A inabilidade de Towne em conduzir a película também não coopera para que o ator mostre-se à vontade no papel.

    Os últimos 40 minutos contém uma virada de cunho açucarado na história, com Bandini finalmente tomando coragem e levando sua amada para morar com ele. No entanto, ao invés de dar vazão aos conflitos presentes em seu espírito arredio, ele pratica ações melodramáticas, como em uma autêntica comédia romântica, onde o “felizes para sempre” predomina, ainda que de modo efêmero, mostrando que a eternidade da máxima não é real. As falhas de Arturo que eram um dos pontos bons da história  são deixadas de lado para mostrar um romance insípido e de tom sentimental, nada condizente com o resto da história.

    A ideia de Towne de impor uma tentativa de alívio na existência sofrida de Camilla e Bandini seria interessante se o roteiro desse continuidade a ela, mas isto não ocorre. A tentativa de redenção do protagonista é falha e tão tosca que em certos momentos ela parece ter sido realizada por outra pessoa. Até a narração é interrompida de modo esquizofrênico: a história é contada sem ela durante grande parte da fita, para, enfim, voltar próximo do anúncio dos créditos.

    O filme não funciona, não sabe escolher um lado, também não é uma adaptação boa e tampouco atinge o objetivo de ser um romance água com açúcar; pelo contrário, é penoso e pesaroso de assistir a ele, mesmo para as duas parcelas do público que tenta alcançar. A separação do casal acontece de modo diferente do original, menos simbólico e mais literal, quase que explicando para o incauto espectador o que ele precisa entender: que as almas aflitas dos dois amantes não podem ficar juntas graças ao destino.

    Mais uma vez Towne cai no erro de mudar o foco de um modo que não combina com a proposta que ele mesmo impôs, uma vez que o cerne de Bandini parece completamente modificado, não só em relação à essência do romance, como também à lógica proposta no roteiro. John Fante merecia melhor sorte na adaptação de sua obra, algo minimamente condizente com a qualidade de seu texto, mas este Pergunte Ao Pó não apresenta aspectos necessários para tanto, sendo fraco e  vazio em todos os pontos que procura abordar.

  • Resenha | 1933 Foi Um Ano Ruim – John Fante

    Resenha | 1933 Foi Um Ano Ruim – John Fante

    1933_foi_um_ano_ruimAlguns livros são gratas surpresas, nos prendem, tem um tom especial que nos chama a atenção e nos fazem por alguns momentos suspender nossa realidade e mergulhar em outra, não necessariamente melhor, mas certamente diferente. Cada vez mais procuro fugir da expectativa (embora goste de ouvir opiniões acerca do livro, desde que devidamente livres de spoilers), pois ela costuma deixar a leitura condicionada, esperando algo que não costuma corresponder ao que você pensou ou imaginou.

    Foi com esse pensamento que iniciei 1933 foi um ano ruim, de John Fante, procurei entrar o mais desprovido possível de pretensões pré-concebidas. Posso dizer que o resultado foi muito bom, encontrei uma literatura leve e espirituosa, simples mas não simplista, cuja narrativa e não-complacência lembraram-me o Holden Caufield, de O Apanhador no Campo de Centeio.

    John Fante nos conta a história de Dominic Molise através dos olhos dele próprio, filho de pais pobres e uma família estadunidense (descendente de imigrantes) desprovida de luxos, cheia de dívidas, com um futuro incerto em um ano nada auspicioso, já que haviam se passado apenas quatro anos da chamada “Grande Depressão”, ou seja, ainda se viviam os desdobramentos da profunda crise econômica.
    Dominic Molise não se destaca no colégio, se irrita com o fanatismo religioso de sua mãe, discute aos berros com sua avó (uma ranzinza conservadora saudosista, para quem nada nem ninguém que existe é bom), troca bravatas com seus irmãos e oscila entre compadecimento e raiva de seu pai, que passa as noites em bares, jogando sinuca e envolvendo-se com sirigaitas.

    As perspectivas que se apresentam a Dominic são: 1. aprender o ofício de pedreiro e trabalhar com seu pai até que eles tenham dinheiro suficiente para que eles iniciem uma construtora própria (o que é altamente improvável); e 2. usar sua habilidade de lançador para se tornar um jogador de beisebol profissional. Ele não tem dinheiro o suficiente para apresentar-se a qualquer time para um teste, nem quer trabalhar com seu pai, correndo o risco de estragar O Braço (quase uma entidade, a passagem de Dominic e sua família para fora de sua vida miserável) que com tanto zelo cuidou desde a mais tenra idade para dedicar-se ao beisebol.

    Nesse dilema, vivenciado junto com seu colega Kenny, de uma família mais abastada, é que John Fante cria uma trama fluida e aprazível, que descortina um drama particular que tem como pano de fundo o cenário de desolação econômica que se sucedeu a crise de 29. O chamado “american way of life”, que começou a dar as caras na bonança dos anos 20 (mas que se tornou mais amplamente conhecido e delimitado pós-Grande Depressão e Segunda Guerra Mundial), entrava em crise juntamente com a economia e impregnava a literatura da descrença nesse modelo que se mostrava tão frágil.

    A situação de Dominic tem um apelo gigantesco, já que se vê refletida nas vidas de muitas pessoas, tanto daquela época como de hoje em dia, como um espelho despedaçado. Molise enfrenta sua dura realidade com sarcasmo e bom humor, tomando decisões drásticas como meio de sobrevivência, perturbando sua consciência com tantos dilemas. Fante consegue fazer-nos compadecer do pobre Dominic, abandonado a sua azarada sorte, evocando a emotividade em diversos momentos, já que o jovem tem raiva e pena de sua mãe, seu pai e sua avó, afinal, eles são tão vítimas quanto ele de toda essa realidade acabrunhante. Só que a emotividade somente vem para lembrar-nos de que somos humanos, para situar-nos no lugar de Dominic e fazer-nos sentir o karma que paira sobre sua cabeça, sem que, por esse recurso, o autor entre na seara da auto-
    complacência ou pieguice.

    Junto a esse turbilhão de etéreos sonhos e árida realidade, Dominic ainda enfrenta o rito de passagem da infância a vida adulta, dividido entre dois mundos, enfrentado a dualidade transitória ao mesmo tempo em que se vê jogado na cisão social que o separa dos “outros”, como o abastado Kenny. Fante, que ficou conhecido principalmente com Pergunte ao Pó e foi tido por Bukowski como o “precursor dos beats”, nos brinda com uma história que embora não transcenda grandemente em mergulhos profundos sobre a natureza humana e questões existenciais, metafísicas etc., consegue manter-se como um bom livro que versa sobre a persistência em condições nada favoráveis sem cair nas tentações enganadoras da auto-ajuda.

    Texto de autoria de Lucas Deschain.