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  • Crítica | Indignação

    Crítica | Indignação

    Do que se trata isso tudo?, perguntou o jovem judeu Marcus Messner, personagem muito bem defendida pelo ator Logan Lerman (Percy Jackson), a seus pais. Estamos no ano de 1951 em meio a Guerra da Coreia. Marcus sofre com a superproteção de seus pais; o medo de perder o filho para a guerra é uma constante. A saída encontrada pelo jovem foi o ingresso numa Universidade em outra cidade. Não consigo mais aguentar. Não consigo. Graças a deus vou embora, completou Marcus. Mal sabia ele que esse era o início da maior indignação de sua vida.

    Chegando ao alojamento da Universidade, Marcus começa a se deparar com o forte antissemitismo presente naquele universo acadêmico. Um de seus companheiros de quarto ironiza: “Que coincidência, três judeus num mesmo quarto!”. E esta temática será ainda melhor desenvolvida através dos excelentes diálogos que o jovem Marcus terá com o reitor Dean Caudwell, desempenho brilhante do ator Tracy Letts. Mesmo ele se indignando e não aceitando o antissemitismo sofrido por ser ateu, Marcus travará grandes embates em sua jornada com argumentos para defender suas raízes e pensamentos e combater o conservadorismo dos membros da Universidade.

    Se de início o seu intuito era apenas estudar, o que nos transparece com sua recusa em fazer parte de uma fraternidade de judeus ou mesmo continuar a praticar esportes, Marcus muda de ideia ao se encantar com a jovem Olivia Hutton. Mas esse encantamento começa a se dissolver quando o protagonista se choca com os modos libertários com que a jovem lida com sua vida sexual. Marcus não consegue conceber a ideia daquela exuberante garota se desprender da carapaça imposta socialmente de moça boa para casar para alçar voos independentes.

    O que mais encanta neste filme é a atemporalidade com que essas duas personagens, Marcus e Olivia, são construídas. Um jovem que não suporta mais seguir um modelo de família judia imposto por seus pais; que tenta encontrar refúgio para seu ateísmo no mundo acadêmico, mas logo se vê imerso numa onda de conservadorismo que tenta condicioná-lo para uma outra direção. Uma jovem que sofre sanções sociais pelos membros da Universidade por ser sexualmente ativa antes do matrimônio; se apaixona por um jovem por acreditar em seu pensamento à frente do tempo durante as aulas, mas que também deixará que o machismo fale mais alto e não aceitará seu comportamento. São personagens facilmente encontradas em nossa fauna contemporânea.

    Indignação marca a estreia do roteirista James Schamus na direção. Fiel colaborador dos maiores roteiros da cinegrafia do diretor taiwanês Ang Lee, Schamus acerta num roteiro introspectivo para dimensionar na tela a juventude norte-americana na década de 50. Se em algum momento a narrativa se mostra cansativa, é que no plano moral das personagens a história está tomando consistência para que o final seja tão bem preciso e delicado. Há tempos um filme não nos brindava com aquela deliciosa sensação de agora tudo faz sentido”momentos antes de subirem os créditos finais.

    Texto de Autoria de Heitor Benjamin.

  • Crítica | Corações de Ferro

    Crítica | Corações de Ferro

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    Produzir épicos de guerra sempre foi uma especialidade de Hollywood. O gênero possui uma grande quantidade de filmes, tanto os mais clássicos que tentam retratar o lado heroico daqueles soldados que enfrentaram os campos de batalha, quanto os mais recentes, que enfocam os horrores aos quais esses seres humanos foram expostos e também os que estes cometeram.

    A cada nova tentativa de produzir um épico sobre a Segunda Guerra Mundial, tema tão batido, a indústria tenta trazer ao menos uma nova visão sobre algum detalhe, seja de uma história particular ou de um evento específico do conflito, afinal, poucos temas da história são tão conhecidos quanto este, e o risco de cair na vala comum é enorme.

    A produção dirigida por David Ayer, Corações de Ferro opta por seguir este caminho e traz para as telonas como era a vida da divisão de tanques nos campos de batalha. O filme conta a história de Don ‘Wardaddy’ Collier (Brad Pitt), um sargento que comanda um tanque americano M4 Sherman com o restante de sua tropa, Boyd ‘Bible’ Swan (Shia LaBeouf), Trini ‘Gordo’ Garcia (Michael Peña), Grady ‘Coon-Ass’ Travis (Jon Bernthal) e o novato Norman Ellison (Logan Lerman).

    O filme consegue produzir uma imersão dentro da batalha de forma eficiente, e em diversos momentos conseguimos captar como era a vida dentro de um tanque de guerra, em uma época em que tudo era rústico e feito manualmente, a habilidade humana era essencial para a vitória e, portanto, cada erro, fatal. A agressividade e intensidade da batalha são reais. A edição de som, com o metal a toda hora rangendo e gritando em razão dos movimentos e dos projéteis que os atingiam, garante uma excelente experiência de batalha sob um ângulo totalmente novo.

    Porém, quando se afasta disso, a obra enfraquece de forma considerável, pois cai nos diversos clichês de filme de guerra. O novato, por exemplo, mal tratado pelos veteranos por não ser capaz de realizar as duras tarefas que a guerra exige, ao mesmo tempo aprende em alguns minutos a lidar com as perdas que o conflito impõe. Também são mal desenvolvidos e mal explorados os aspectos psicológicos dos outros integrantes do tanque, e aqui o filme assemelha-se cada vez mais ao cultuado O Resgate do Soldado Ryan.

    O personagem religioso que justifica suas ações para Deus; o personagem fisicamente imponente que usa esse fato para se aproveitar do novato que tinha a função de escritório mas que foi destacado para o campo de batalha; além do comandante que, ao mesmo tempo que é rígido com seus subordinados, dá a eles a autonomia necessária às vezes para liberar a pressão que o conflito acumula a fim de não perder seu comando. Tudo isso se torna ainda mais claro na batalha final, quando os integrantes do tanque, isolados do restante do exército, se veem na obrigação de enfrentar um contingente inimigo muito maior, e quando as chances de sobrevivência são escassas. Além, claro, da tonalidade cinza-escura e suja que o filme de Steven Spielberg também trouxe para o cinema de guerra.

    Dessa forma, David Ayer não consegue dar ao seu longa a profundidade necessária a um épico de guerra ao qual nos faça conectar, com personagens que façam envolver-nos a ponto de entender quem são e por que agem daquele jeito, ou mesmo nos importar com as perdas infligidas à equipe. As resoluções e discursos são rasteiros e ao final o que sobram são as excelentes cenas de batalha. E a vontade de rever O Resgate do Soldado Ryan.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Noé

    Crítica | Noé

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    Darren Aronofsky é um cineasta jovem, conhecido por sua maneira peculiar de filmar, a de utilizar edição videoclíptica e roteiros densos com mensagens vistas tanto pela superfície da história quanto pelas camadas interiores. Outro fato notável de sua filmografia é o enorme apreço que dá ao visual, utilizando-se da acuidade das imagens para demonstrar sua visão de mundo, e, por meio desse arroubo, abre algumas dubiedades e duplicidades de interpretações. Em Cisne Negro, Requiém Para um Sonho e O Lutador ele tratava de determinados tipos de perversões, todas ligadas à obsessão. Em seu mais recente filme, de altíssimo custo, a obsessão está presente não só no roteiro, mas também concerne ao pensamento de teólogos e religiosos ao retratar a história de um personagem tão canônico quanto o capitão do Senhor.

    O título da obra é Noah — Noé no Brasil, um dos poucos nomes traduzidos com a grafia que Joaquim Ferreira de Almeida amputou na versão da Bíblia Sagrada — por capricho e distinção de gênero, pois a intenção do diretor era realizar um filme épico, que, por tradição e convenção, leva em si o nome do protagonista, acima de qualquer dado técnico. Mesmo que os assuntos discutidos sejam até maiores que a trajetória pessoal de qualquer personagem, como a questão da escravidão em Spartacus, e a trinca injustiça social, engano e vingança em Ben Hur. Talvez aí resida a maior polêmica entre os fiéis que esperavam uma história literal das “escrituras sagradas”, ainda que a história seja menos “deturpada” que muitas interpretações de sacerdotes atuais.

    O cinema de Aronofsky não é conhecido pela obviedade em relação à interpretação de suas histórias, o que abre um precedente para um sem número de discussões. Uma das possibilidades dentro do roteiro de John Logan e do próprio diretor é a preocupação não só em contar a história de Noé, mas também em resumir em uma amálgama o Gênesis — primeiro livro dos pentateucos que conta a origem da humanidade e do mundo segundo essas crenças particulares. Há uma preocupação legítima com a nomenclatura das criaturas canônicas, e termos como anjo e Deus são evitados, exceto pelo diálogo entre a parentela de Noé no qual se ressalta que ela não ouviu diretamente a voz do Criador.

    Outra questão espinhosa é a dos ditos Guardiões, comumente associados a “anjos caídos” (em outras palavras, o exército de Lúcifer) que seriam seres de luz enviados ao Éden para vigiar Adão. A associação é totalmente errônea até pela ordem dos fatos, visto que os seres não resistem e interferem na criação e, por isso, são castigados por quem antes lhe tinha dado todos os poderes — assim como aconteceu com o homem, o que mostra uma uniformidade no modus operandi do Criador.

    No decorrer da trama a imagem de “supremo punidor” do Criador é desconstruída por meio do perdão, lembrando-se, claro, que toda a maldição sobre eles e os homens é consequência do pecado de Adão: os homens foram obrigados a trabalhar para ganhar o seu sustento, consequência da perda da inocência. Quanto aos Guardiões, perderiam seus aspectos de luz e seriam compostos de terra e pedra. Eles retornam pela benevolência de Deus, o que definitivamente descaracteriza a ideia de eles serem criaturas diabólicas, até porque a raiz do mal não é determinada por um único avatar e sequer isenta o homem de tê-la; o mal é algo inerente ao homem, o que o difere dos outros animais, e como nos dizeres bíblicos, cabe ao homem dominá-lo.

    A serpente é parte do homem e simboliza a selvageria inerente ao humano, por isso Noé titubeia. O melhor aspecto da história certamente é a criação do ideário do herói e a fidelidade e corrupção humanas. O Noé de Russell Crowe e Aronofsky reúne arquétipos dos principais heróis do Gênesis. Ele tem em si o óbvio pioneirismo do primeiro homem de Adão, tem o bom sacrifício de Abel, invejado pelos seus iguais, numa também óbvia referência à Caim. Talvez a figura mais inspiradora para o perfil do personagem seja a do Pai da nação semita, Abraão. As referências vão desde a culpa por não conseguir salvar os outros homens da destruição e, claro, ao sacrifício de sua descendência, com um fim parecido com o do conto bíblico, mas diferente quanto ao meio. Noé corre até a aldeia dos povos que descendem de Caim, com quem ele travava uma eterna rivalidade, e lá vê o modo como os homens vivem, onde a ganância supera até o instinto de família. Tal corrupção faz com que Noé questione a sua missão e entenda que o que corrompeu a vida na Terra foi a interferência humana. Se os filhos de Caim pecavam daquela forma, ele talvez fosse capaz de fazer aquilo, e a conclusão de que essa não deveria ser uma questão incontestada é um dos momentos mais emotivos da fita.

    Outro elemento positivo, certamente o ponto máximo do roteiro, fez com que o aspecto mais impressionante da película fosse tão valorizado. A forma como Noé se comunica com o Criador não é didática, mas feita por meio de sonhos e visões — o que gera ainda mais comparações com heróis bíblicos, como o profeta Daniel. A inundação que aparece nos sonhos é belíssima, especialmente quando dela surgem os animais que são depois embarcados. Os efeitos especiais compõem um belo recurso narrativo e  um deslumbre visual singular, com 3D comparável aos mais esperados nesse aspecto, como A Invenção de Hugo Cabret e As Aventuras de Pi, superando até os dois primeiros.

    O final é esperançoso e rearranja de forma atual os argumentos bíblicos, reapresentando seus preceitos de forma bastante fiel. Claro, tomando as necessárias liberdades e salientando aspectos comuns ao espectador comumente consumidor dos filmes de Guillermo Del Toro e Peter Jackson, sem ignorar o background antropológico dos produtos anteriores de Aronofsky.

  • Crítica | As Vantagens de Ser Invisível

    Crítica | As Vantagens de Ser Invisível

    As Vantagens

    As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower, EUA, 2012, Dir: Stephen Chbosky) é adaptação do homônimo livro lançado em 1999 escrito pelo roteirista e também diretor do filme, que por sua vez foi criador da série Jericho, cancelada após a segunda temporada.

    Sinopse: um menino introvertido entra no segundo grau e é acolhido por dois meio-irmãos veteranos, que o ajudam a se adaptar às dificuldades da adolescência na rotina escolar e na vida.

    Para entrar no universo de adolescentes/jovens perdidos, a direção de Stephen Chbosky tenta emular os filmes da Sofia Coppola, especialmente “Virgens Suicidas” (1999), e Bertolucci com o seu “Os Sonhadores” (2003). O problema é a falta de identidade a partir disso. Não há um plano marcante do ponto de vista cinematográfico que seja mérito exclusivo da direção, nenhum movimento de câmera, marcação de atores em cena, nada. A mise-en-scène blasé só consegue se sustentar por meio do roteiro, a única hora em que se pode ver o talento do diretor é na direção de atores: Chbosky consegue extrair boas atuações dos três atores principais, principalmente de Logan Lerman.

    Diria que mais da metade da força que o filme teve perante seus fãs e admiradores veio da sua atuação de Lerman. Conhecido por ter interpretado Percy Jackson, o outro Harry Potter, Lerman mostra aqui que só precisava de uma chance fora do mundo blockbuster para mostrar o seu talento. Com uma interpretação contida durante a maioria do filme, ele consegue passar todas as características do seu personagem de forma sublime: angústia, medo, insegurança, amor, e, principalmente, os demônios internos que o atormentam. Se o ator der sorte de continuar a pegar personagens mais profundos e manter esse nível, talvez daqui a alguns anos poderemos ver surgir um novo Ryan Gosling.

    Os outros atores interpretam bem o seu papel. Emma Watson, porém, não consegue ir muito além, ela é engolida pelo bom Ezra Miller, o Kevin, de “Precisamos Falar sobre o Kevin” (2011), e principalmente por Logan, que engole todo mundo que está em cena do meio para o final do filme. O resto do elenco cumpre bem a sua finalidade, com especial menção a Tom Savini, Paul Rudd e Joan Allen, que saem um pouco das suas interpretações usuais.

    O roteiro sem grandes furos tenta conduzir a narrativa por um meio não convencional. De uma forma forçada tenta impôr o protagonista em um universo hipster e assume assim uma outra estrutura dramática, que só serve para acentuar o fato de que o adolescente deslocado encontrou pessoas esquisitas e com problemas semelhantes ao dele. Não à toa, ele os chama de “amigos” várias vezes ao longo do filme, logo o protagonista, que era conhecido por não ter ou saber fazer amigos.

    E então vem o maior problema do roteiro, por consequência, do filme: a conveniência de voltar à dramaturgia convencional e sua estrutura quando ficou sem saída aonde havia ido antes. A briga no refeitório na metade para o fim e a “grande revelação” do final do filme exemplificam isso. É um roteiro covarde, frouxo, bundão, que fingiu uma audácia que não tinha, pois, no fim das contas, não se sustentou. Ou seja, pretensioso. Nesse sentido, “Meninas Malvadas” (2004) com a Lindsey Lohan, mesmo sendo uma comédia blockbuster cumpre melhor este papel, é um filme mais eficiente abordando a mesma temática no mesmo universo.

    A fotografia quase o tempo todo usa filtros não realistas, como naquelas cenas que representam sonhos, o que impede um melhor trabalho de Andrew Dunn, que já havia fotografado os ótimos “Preciosa” (2009) e “Amor a Toda Prova” (2011). As únicas partes que ela se sobressai é quando os demônios internos do protagonista são retratados.

    A editora Mary Jo Markey, também não consegue mostrar o seu talento, como já havia evidenciado nos filmes irregulares Star Trek 2 – Além da Escuridão, a série Lost e Super 8. A edição linear ajudou na narrativa, mas a única hora que se sobressai é semelhante à fotografia: ajuda a mostrar os demônios internos do protagonista.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Crítica | As Vantagens de Ser Invisível

    Crítica | As Vantagens de Ser Invisível

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    As Vantagens de Ser Invisível é baseado no livro homônimo de Stephen Chbosky – que também assume a direção. É um drama leve, pelo menos à primeira vista, e conta a história de um adolescente que se vê sozinho em meio a todos os conflitos que esta fase proporciona. Essa é a sinopse básica, mas falar isso seria arranhar muito na superfície, a película é bem mais do que parece.

    A película toca em temas espinhosos, e de uma forma única, foge de clichês e em momento nenhum é piegas ou panfletário. As Vantagens de ser Invisível é basicamente sobre pessoas traumatizadas. Charlie tem um bloqueio devido a um trauma, e essa questão só é “solucionada” no final do filme. Sam, personagem de Emma Watson (deliciosa como nunca e sexual ao extremo) tem vergonha do seu passado, Patrick, seu meio irmão, tem um relacionamento amoroso escondido, e eles formam um grupo de desajustados, auto-nomeados como Invisíveis, por não se encaixarem no padrão de colegiais normativos americanos. Charlie se vê como parte de algo quando está com este grupo de amigos, e isso o ajuda a superar seus demônios e a se livrar de sua incômoda solidão. Na prática, os Invisíveis são como um grupo de apoio mútuo, onde todos sofrem, se descobrem e são felizes juntos.

    O filme é entrecortado pela narração do protagonista, mas ao contrário da praxe geral, as falas acrescentam muito a história e preenchem o que as imagens não “poderiam mostrar”, principalmente por causa do tom de confessionário, isso é um dos enormes acertos de Chbosky. A edição também é algo primoroso, a montagem no final do filme faz com que o espectador sinta-se tão angustiado quanto o personagem.

    Quantos as atuações, pelo menos nos papéis centrais não há do que se reclamar. Pequeno destaque para Tom Savini e Paul Rudd, que fazem dois professores com funções completamente diversas. Savini faz um mestre corretivo, um pouco fascista (pelo menos para um dos personagens) e que grifa as exclusões, enquanto Rudd faz um mentor na mais pura essência da palavra, incentivando Charlie e fazendo-o descobrir sua vocação, mas tudo isso é só pincelado. O destaque mesmo vai para Ezra Miller, já visto (muito bem por sinal) em Precisamos falar sobre Kevin, que faz aqui um papel completamente diferente do anterior citado, é um garoto irônico, ácido, que odeia obviedades e com uma personalidade forte, seu Patrick é um personagem riquíssimo, e só é crível graças à ótima atuação de seu intérprete.

    O tema central da história e as razões que levam o protagonista a ser o que ele é só são revelados com o decorrer da história, e a maneira como é mostrada é adulta, séria e sem rodeios – nesta parte parece até que ele muda de gênero, o que é ótimo. Quando Charlie se sente inseguro, ele sempre se vê como um garotinho, de volta a sua infância e de volta a relação conturbada que teve com a sua tia que faleceu – sua pessoa preferida no mundo. O molestado sente-se culpado pelo destino do molestador, e essa questão é uma analogia para muitas coisas, inclusive para questões do cotidiano.

    Outro ótimo ponto positivo é a exploração do relacionamento homoafetivo retratado como algo real e não caricato, mais uma vez toca no assunto rejeição/aceitação, ainda que o tom seja leve. As Vantagens de ser Invisível é um filme adolescente, mas que não subestima seu espectador. Quem dera que todos os filmes juvenis fossem assim.