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  • Crítica | Operação Big Hero

    Crítica | Operação Big Hero

    Operação Big Hero - poster brasileiro

    Desde Enrolados, a Disney vem traçando um novo caminho em ascensão, distanciando-se da época em que as melhores produções eram feitas pela Pixar e reassumindo o posto de grande produtora de animações, como na época viva de seu criador e postumamente a ele, até o final da década de 90.

    Operação Big Hero realiza uma união positiva entre dois universos: a narrativa costumeira do estúdio, lançada anualmente nas férias, e o estilo dos animes tradicional no Oriente – uma composição que resultou, para a Nickelodeon, na excelente animação Avatar – A Lenda de Aang. A história se passa em San Fransokyo, um criativo nome híbrido de São Francisco e Tóquio como uma maneira de preservar o produto americano mas que demonstre a influência da cultura do Japão. Envolvido em lutas clandestinas de robô, o prodígio Hiro – não à toa, seu nome é homófono (palavras de mesmo som) ao título do filme – é um desses garotos que representam a criatividade e o talento que surgem sem a necessidade de uma educação formal. Porém, seu irmão Tadashi deseja para o garoto um futuro mais útil e, ao levá-lo ao laboratório em que trabalha, o menino se interessa em estudar no local. Para isso, é necessário realizar uma apresentação de uma nova invenção para ser aceito no colégio.

    Em comparação com o filme anterior do estúdio, o premiado Frozen – Uma Aventura Congelante, a história foge do clássico universo de princesas e reinos. Em uma época de dissolução de gêneros, é difícil apontar a produção como se voltada a este ou aquele público em específico. Porém, é evidente que o enredo está mais focado na ação do que no elemento emotivo e amoroso do interior.

    A trama é baseada em um gibi da Marvel Comics, sendo esta a primeira animação da empresa lançada pela Disney. Estranhamente, como vem acontecendo com outros casos de direitos autorais, o estúdio de quadrinhos informou recentemente que não publicará novas histórias de seu gibi devido ao lançamento do filme, em parte porque o conglomerado do Mickey também possui direitos sobre alguns personagens. Devido às delicadas negociações destes direitos, alguns não concluídos, os nomes e as etnias dos personagens foram mudados.

    De qualquer maneira, o ritmo dessa aventura aproxima-se do conceito de uma história em quadrinhos feita nos Estados Unidos, porém claramente utilizando o traço padrão oriental, e ação e humor equilibrados. A Disney está atenta aos novos tempos, demonstrando sincronia com o que o público atual espera de uma animação. Hiro é um personagem que contém os traços característicos dos heróis do estúdio, porém também demonstra novos contornos, uma novidade introduzida recentemente nos roteiros, em que, mesmo com a bondade predominante, há uma maior gama de sentimentos, entre eles a raiva e o desejo de vingança, que perpassam os pensamentos do menino. Uma queda do personagem mais puro para ascensão de um mais crível. Também, o público tem exigido este maior grau de realidade nas produções animadas, elemento que também fornece a criança um aspecto maior de representação do mundo. O roteiro confia na habilidade de cada infante em saber a importância do bem contra qualquer ato malévolo.

    Se a composição destas histórias sempre segue um padrão formular de uma trama com uma mensagem universal que atinja também as crianças, é interessante como roteiristas sempre são capazes de escolher um ótimo personagem para a comédia. Em Enrolados, o cavalo Máximus representava o riso; em Frozen, o boneco de neve que gostava de abraços quentinhos. São personagens que sempre ressaltam uma personalidade própria e um tipo de humor non sense ou bobo. O representante da comicidade, e também parte integrante do grupo de Hiro, é o robô BayMax, criado pelo irmão do garoto como o futuro da Medicina, um agente da saúde robótico. Ele tem a personalidade típica de uma inteligência artificial que faz análises objetivas a respeito do que o cerca, o que provoca confusões interpretativas com expressões e palavras de mais de um sentido. Composto de vinil, que lhe dá a proporção de um robô cheinho, o tamanho do autômato também faz o público rir quando em cenas de ação, um riso tão simples que atinge o espectador de maneira universal, ainda que pareça funcional apenas para uma plateia mais infante.

    Mesmo sem um roteiro complexo, ao contrário das produções da Pixar que, costumeiramente, sempre são analisadas por suas narrativas em camadas, Operação Big Hero vai direto ao ponto por meio de uma história simples, como uma animação deve ser, e equilibrada entre a sensibilidade e a diversão em forma de ação.

    Além do filme, o bonito curta-metragem O Banquete apresenta-se antes do longa. Uma história curta tradicional, sem a animação em terceira dimensão e poucos diálogos em cena. Durante seis minutos, acompanhamos a trajetória de um homem pela visão de seu cachorro. As fases da vida do homem são representadas pelo tipo de alimento dado ao cachorro. Inicialmente, sobras de pratos gordurosos e, após a relação do dono com uma chef de cozinha, pratos requintados e bem apresentados. Uma bonita maneira lúdica de observar a transformação do tempo e a evolução natural do ser humano. Duas experiências cinematográficas opostas vistas em uma mesma exibição.

    Por fim, fica a recomendação para o espectador aguardar até o final dos créditos de Operação Big Hero, para ver uma cena final com um grande conhecido do público.

  • Crítica | Tim Maia

    Crítica | Tim Maia

    De todos os tipos de produção em moda no cinema nacional atualmente, as biografias têm sido um dos mais utilizados. Em grande parte pela atração que o público brasileiro sente por grandes nomes e grandes feitos somados a narrativas novelísticas, o cinema nacional tem produzido várias obras sobre importantes figuras do cenário artístico brasileiro, resultando em produções que geralmente possuem as mesmas qualidades e defeitos.

    A produção de 2014 do diretor Mauro Lima, sobre a vida do cantor brasileiro Tim Maia e baseada no livro de Nelson Motta, reflete bem essa dualidade do cinema nacional. Tim Maia é interpretado enquanto jovem por Robson Nunes e adulto por Babu Santana. Ambas as interpretações são boas e convincentes no papel do polêmico cantor, com destaque para Babu Santana e sua semelhança física com Maia. Também estão no longa vários outros atores globais conhecidos do grande público brasileiro, como Alline Moraes no papel de Janete, esposa de Maia, e Cauã Reymond no papel do amigo Fábio, dentre outros.

    O tom do filme segue uma narrativa clássica de biografia, começando pela infância pobre de Sebastião Rodrigues Maia na Tijuca, entregando marmita para sua mãe e sofrendo os efeitos do racismo da sociedade brasileira por ter menos oportunidades que seus amigos brancos. Ao crescer, o jovem Maia, vendo toda essa desigualdade, acumula uma raiva, que, somada a seu gênio forte, irá causar várias das situações complicadas com as quais lidará em sua vida pessoal e profissional.

    A narração do filme, feita por Reymond, é um dos elementos que mais se destaca negativamente, não só pela narração em si, mas pelo tom quase de leitura de folheto de missa que o ator faz, sem acrescentar emoções ou informações relevantes à história. Por várias vezes, a narração simplesmente descreve o que estamos vendo em tela.

    Porém, se antes sofríamos com a baixa qualidade técnica das produções, atualmente esse não é mais um problema. Em vários dos filmes nacionais lançados recentemente, a qualidade de imagem, captação de som, enquadramento, figurino, maquiagem, dentre outros, cada vez mais se torna um nível de excelência, o que deveria favorecer o surgimento de novas produções de qualidade, já que essa tecnologia está cada vez mais acessível. Mas, infelizmente, as grandes produções ainda estão submetidas ao padrão Globo, e as produções alternativas ainda se encontram fora dos circuitos e do acesso da maioria da população.

    O filme também utiliza-se de um vício muito comum no cinema nacional, que é o apelo ao humor fácil usando situações engraçadas, muitas vezes com um tom artificial, e o abuso de palavrões para arrancar risos do espectador. Porém, nem mesmo esse artifício resiste à enrolada trama. Se o primeiro ato possui passagens muito bem filmadas, como a da briga, filmada em preto e branco e em câmera lenta, de Maia com um integrante da banda, nos outros dois o filme se perde em meio a tantos personagens e idas e vindas na vida do artista. O que parece é que a vida de Maia é tão complexa que nem mesmo o diretor conseguiu acompanhá-la nas filmagens.

    O padrão Globo também é uma das razões pelas quais a narrativa se torna tão conservadora e fechada, tornando a experiência de acompanhá-la um tanto quanto enfadonha, como usar muito tempo de tela para aprofundar relações que são secundárias, como a de Maia com Roberto Carlos (George Sauma). A duração do filme é um de seus principais problemas. Os 140 minutos se tornam totalmente desnecessários não para contar a história da vida do artista, grande e complexa, mas para mostrar a visão que Mauro Lima quis. Várias polêmicas a respeito da fidelidade do filme sobre a trajetória de Tim Maia foram levantadas por seus amigos e parentes, mas, como obra de ficção e adaptação, a questão a ser levantada não é essa, mas sim como uma história de 140 minutos poderia ser facilmente condensada em 90 ou 100 minutos.

    Ao retratar a vida adulta do cantor, mergulhado no consumo autodestrutivo de drogas e álcool, cujo problema, somado a sua personalidade problemática, acaba por afastar amigos e família, o filme dá um salto na história tentando compensar o tempo desperdiçado anteriormente. Se perdemos vários minutos acompanhando o cantor seguindo Roberto Carlos por São Paulo, subitamente sua vida pula vários anos: de um fundo do poço da carreira a uma mal explicada volta por cima, e de repente, morte.

    Em resumo, como figura história, polêmica e importante no cenário musical brasileiro, Tim Maia merecia ter sido retratado de forma mais objetiva. As escolhas de Mauro Lima tentam mostrar o lado problemático do cantor, mas acabam se perdendo em meio à complexidade do personagem, resultando na confusão da linha de condução da história, o que o diretor parece perceber e tentar consertar, sem sucesso, em seu final. Falta ao cinema nacional aprender a sair desse emaranhado de limitações artísticas e começar a se movimentar no sentido de produzir boas obras biográficas.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

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