Crítica | Velvet Buzzsaw
Depois de estrear muito bem com o thriller O Abutre, em 2014, e levar Denzel Washington ao Oscar em 2018 com Roman J. Israel, o diretor e roteirista Dan Gilroy retorna esse ano com Velvet Buzzsaw pela Netflix. O filme traz de volta a dupla que brilhou em seu primeiro filme, Jake Gyllenhaal e Rene Russo, em uma história carregada de humor, horror e críticas afiadas – dessa vez direcionadas ao ambicioso mundo da arte. Se tudo isso funciona junto já é outra história.
A jovem Josephina (Zawe Ashton) trabalha numa famosa galeria de arte comandada pela influente Rhodora (Russo), e após encontrar os hipnotizantes trabalhos de um vizinho recém falecido, ela junto com tua chefe movimenta o cenário artístico da cidade com esses quadros misteriosos e que valem um bom dinheiro. Gyleenhaal é o excêntrico Morf, um respeitado crítico de arte que começa a ficar perturbado com os quadros desse falecido artista.
Vindo de Gilroy e com um cenário narrativo tão propício, já era esperado que o longa tivesse a sua carga de sátira, todos os personagens representam personalidades específicas e extremamente caricatas. O diretor parece não se interessar em personagens tridimensionais, eles permanecem fiéis a uma certa superficialidade que de início se encaixa bem no primeiro ato do filme, quando ego e poder tomam conta do texto, se arriscando até a brincar com o que é arte – ou não. Mas o “dedo na ferida” dura pouco e o longa começa a sofrer pelas suas próprias escolhas.
Se o humor constrói bons momentos acerca da sujeira dos bastidores de um mercado tão lucrativo, é quando Velvet Buzzsaw se transforma em outro filme que as bases começam a ruir. A narrativa entra no piloto automático e é como assistir cenas descartadas da franquia Premonição, o horror como atmosfera não funciona por falta de ritmo e a violência é no mínimo previsível, não há respiro e fluidez entre esses dois filmes que parecem se estapear por espaço até o fim dos 113 minutos de duração. O raso das personagens começa a soar como fragilidades e nem a sátira funciona se tentamos enxergar com outros olhos, sinal de que aos poucos o filme vai se tornando vazio.
Porém, o longa dá um tempo para o espectador mais insistente se permitir divertir, dá para terminar de assistir esse novo projeto de Gilroy com um gosto nem tão amargo na boca se o encarar como uma grande brincadeira a tempo. Brincar de alfinetar, brincar de fazer comédia, brincar de fazer terror, brincar de se levar a sério. É o que o diretor parece estar fazendo, até o elenco se diverte nessa brincadeira – principalmente Gyleenhaal – e no fim das contas funciona em certo nível.
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Texto de autoria de Felipe Freitas.
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