Crítica | Deixa na Régua
Fruto do esforço de Emílio Domingos, ocorrido após a ideia que teve ao executar o interessante A Batalha do Passinho, Deixa na Régua é um documentário leve, de linguagem moderna e sucinta que consegue explorar um assunto interessante e inclusivo, investigando o oficio de três barbeiros de comunidades do Rio de Janeiro, Belo Visual (Vila da Penha), Ed (de Quintino) e Deivão (localizado em Piabetá), que tem um estilo próprio e que são conhecidos nacionalmente em virtude de seus trabalhos.
O minimalismo dos cortes exigem uma revisão dos mesmo o tempo inteiro com os clientes retornando semanalmente para acertar os desenhos e artes que fazem em seus cabelos. As conversas francas ditas pelos que vão nos salões trabalhar ou esperar por volta de oito horas para ter o cabelo cortado revelam uma preocupação com a aparência que faz paralelos com o fenômeno recente de metrossexual, uma vez que a clientela é basicamente masculina e vaidosa ao seu modo.
As imagens são naturais e a convivência dos personagens com o movimento do tráfico é intenso, tecendo uma estreita relação entre os jovens ali mostrados e os infortúnios de viver em um ambiente onde a morte e a violência são tão constantes. A resistência presente no discurso e vivência dos moradores das comunidades rima interessantemente com o esforço de Domingos em alcançar um cinema de resistência, que retrata a realidade popular sem necessitar de qualquer coitadismo pueril apelativo.
Quando o assunto é cinema o referencial dos clientes das barbearias são atores negros e do gosto popular, como Will Smith, Chris Tucker e Wesley Snipes. A câmera registra inclusive momentos engraçados onde um dos homens confunde Smith com Tucker, sendo essa uma das mostras da simplicidade dos biografados. A realidade apresentada no documentário é ainda doce, apesar da solidão típica da vida adulta e o roteiro faz questão de se debruçar pelos percalços sentimentais dos que se dispõem a aparecer frente as lentes. A intimidade dos personagens fazem uma bela conexão entre filme e público, e essa relação é cara demais para passar despercebida.
Deixa na Régua consegue mostrar uma parte da identidade brasileira que normalmente não é enfocada pelo mainstream, e quando o é, sempre vem acompanhada de estereótipos falaciosos. Emílio Domingos dribla os clichês e faz um filme econômico em ações e sentimentos e que tem um sucesso tremendo em informar e estabelecer um vínculo emocional com o seu público.