Crítica | Robocop 3
Em 1993 chegava aos cinemas a terceira parte da saga de Robocop, dessa vez conduzida por Fred Dekker começa parecida com as outras, com comerciais engraçadinhos sobre Delta City, o ideal da cidade de Detroit, perfeita, como se não houvesse defeito. Irvin Kershner já havia tentado repaginar essa ideia, mas Robocop 3 segue pela mesma esteira teimosa, dessa vez assumindo de vez o caráter infantil que o personagem acabou tendo, referenciando até os bonecos que eram vendidos as crianças nos anos noventa.
Impressionantemente, mesmo sendo obsoleto há pelo menos dois capítulos da saga, o E-209 continua nas ruas de Detroit, sendo tão inútil que é hackeado por uma garotinha, de nome Nikko (Remi Ryan). Toda essa problemática ocorre basicamente para mostrar o lado humano do tira de aço, em uma tentativa atrapalhada de resgatar algumas das boas premissas de Robocop 2, com ainda menos sutileza que no filme anterior.
O texto dessa vez está a cargo de Dekker e Frank Miller, que também havia pensado a historia do filme segundo, historias dos bastidores dão conta de que Dekker queria que seu amigo Shane Black revisasse o trabalho de Miller, mas isso jamais ocorreu e os dois finalmente trabalhariam anos depois no texto do mais recente O Predador . Dessa vez Peter Weller não conseguiu voltar apesar de ter discutido bastante com Dekker sobre seu papel, estava fazendo Mistérios e Paixões em 1991 e não conseguiu participar (Rococop 3 foi rodado em 91 mas só foi lançado em 93 por conta da falência da Orion), sendo substituído então por Robert John Burke e a produção era tão barata que o mesmo teve que usar um traje menor, reutilizado a partir de Robocop 2, fato que o fez se queixar de dor. Nancy Allen retorna ao papel de Anne Lewis, ainda que pereça com quarenta minutos de filme, muito provavelmente para não precisar retornar em uma possível parte quatro.
A maior parte das idéias utilizadas nesse filme são completamente esdrúxulas, entre elas a de achar um opositor que emula capacidades de um lutador oriental, Otomo (Bruce Locke), um sujeito que ao enfrentar alguns inimigos, consegue ter seu rosto danificado em uma das sequências mais horrorosas do cinema mainstream da década de 1990.
A transformação da ideia de Delta City em uma trama de remoção de pessoas carentes é de uma intenção bela enorme, mas a realidade é que o que é mostrado no filme é errado em diversos sentidos. Miller propõe em seu argumento e roteiro que policial de aço se valha de um cadillac cor de rosa, que era propriedade de um negro que se assemelhava por sua vez aos cafetões retratados nos clichês pejorativos de negros do cinema. O decréscimo da violência também é muito sentido, o que até curioso, visto que Miller fez uma historia do Batman onde a violência era uma das características principais.
Em determinado ponto, o roteiro lembra que tem que fazer referencias aos comerciais viajandões da OCP, e esses são mostrados de maneira muito gratuita. A ideia por trás de revolta da polícia, se unindo ao povo oprimido é até boa, mas a luta em campo aberto e de dia é totalmente risível, piorando muito quando o herói vem voando de Jet-pack, em um stop motion terrível, acompanhado da música tema de Basil Poledouris, que é utilizada aqui a exaustão.
O próprio diretor, anos depois de fazer o filme diz que a jornada de Robocop já tinha sido explorada no primeiro filme, e as continuações só restou brigar com bandidos, ou seja, algo banal e comum a policiais, além disso, ele lamenta ter atenuado a violência, cinismo e ação por conta do estúdio, além do que a questão dos desabrigados não caiu bem com ninguém, nem com o público médio, que não queria ver discussões profundas, e nem com a parcela que se preocupa com essas causas, já que a problemática só foi citada, e não aprofundada.
O embate na sala principal da OCP, com McDagget (John Castle) assistindo é tosca em um nível absurdo, com uma solução estúpida para o embate com dois agentes ninjas, e pior, ela banaliza uma das poucas cenas sérias e bem pensadas do roteiro que mostra todo o corpo policial renegando o emblema da OCP, para servir somente a população. Tanto a solução quanto o modo como Murphy age para se livrar de McDagget é digno de risos, assim como toda a reverencia do povo com o herói. Robocop 3 erra muito mais que seu antecessor e é qualificado como um filme involuntariamente trash com todas as qualidades possíveis.