Crítica | Laerte-se
A quadrinista e cartunista Laerte Coutinho tem uma série de documentais em áudio visual que tratam de sua trajetória, em especial quando assumiu sua identidade feminina. Foi assim em Vestido de Laerte, De Gravata e Unha Vermelha e outras obras. Em Laerte-se, o começo de sua fala é a de explicitar o incômodo que ele tem em ser objeto de análise e estudo, em especial por esses eventos recentes, e o intuito do filme de Eliane Brum e Lygia Barbosa da Silva é quebrar um pouco a formalidade relativa a isso, apelando para a ternura e pessoalidade, usando inclusive a tipografia de Laerte para anunciar boa parte dos créditos iniciais.
Em um episódio de 2012 do programa Roda Viva, Laerte variava na conjugação de gênero que empregava a si. Apesar de ainda lançar mão de masculino e feminino quando se refere a si, a maior parte das vezes a desenhista se refere a si mesmo como mulher. É curioso também notar que ela tem dificuldades em chamar a si mesmo de transgênero, já que não considera isso correto.
O filme não se preocupa em necessariamente formar um manifesto pró-direitos de transexuais, mas sim mostrar o que Laerte é por dentro, discorrer sobre seus sentimentos, perdas e reflexões sobre sua existência, tomando como um dos pontos de partida a morte de seu filho.
As intenções por trás do longa são muito boas, levando em consideração um progressismo atroz, mas há poucas conclusões tiradas e também pouco se acrescenta em qualquer discussão, tanto no tema tabu de inserção de crossdresser e trans no mercado de trabalho, quanto a realização de trabalhos por estas pessoas. Tecnicamente há algumas decisões de Brum e Barbosa da Silva discutíveis, como as charges inseridas, que são apresentadas normalmente em silêncio, quebrando a concentração do espectador. No final das contas, Laerte-se deixa a desejar em seu resultado final, visto as possibilidades de discussão que poderia ter desenvolvido.
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