Crítica | Sai de Baixo: O Filme
Sabe aquela piada velha contada por um tio bêbado num churrasco de domingo que teria sido engraçada vinte anos atrás, mas hoje em dia se torna apenas algo inapropriado e desconfortante? Pois é isso que Sai de Baixo: O Filme se parece. Um produto fora de sua época, tentando um suspiro de relevância após um tempo que já há muito se passou. O longa traz de volta os personagens centrais da sitcom noventista, adiciona alguns novos e omite outros importantes (ah, Cláudia Jimenez, como fez falta sua Edileuza!), tendo como personagem principal o trambiqueiro Caco Antibes (Miguel Falabella, confortável como sempre no papel).
Após uma temporada na cadeia, Caco retorna ao Arouche para descobrir que sua família está ainda mais falida do que nunca, morando escondidos no velho apartamento de Vavá (Luís Gustavo, que por ordens médicas não pôde participar mais do que em uma ponta no filme) – que foi aberto à visitação pública para venda – e são obrigados a dividir o teto com o porteiro Ribamar (Tom Cavalcanti, ainda mais caricato que na série). Para conseguir melhorar sua situação financeira, tanto Caco como Magda (Marisa Orth) acabam aceitando uma missão secreta de contrabando de pedras preciosas para fora da fronteira do Brasil.
O filme então descamba para uma road trip sem sentido,na qual uns poucos momentos podem arrancar um sorrisinho do espectador – em especial as quebras da quarta parede, quando Caco revela alguns problemas dos bastidores das filmagens. As interpretações estereotipadas e caricatas ao extremo de Tom Cavalcanti, principalmente ao retratar a tia nordestina de Ribamar, soam anacrônicas e sem graça. Por incrível que pareça, a única coisa antiga que continua atual é o horror de Caco Antibes a pobres e seu discurso altamente elitista, um reflexo de uma classe média falida que come ovo frito e arrota caviar, parecendo estar alheia de sua própria realidade sócio-econômica. Caco é trapaceiro, egoísta e hipócrita ao extremo, apresentando-se sempre como baluarte da honestidade, um “cidadão de bem” preconceituoso e rasteiro.
Dos novos personagens, destaca-se a prima Angelita, interpretada brilhantemente por Lúcio Mauro Filho – que faz também o papel de seu irmão gêmeo, e Caquinho, que já foi um boneco animatrônico no palco e no longa é interpretado por Rafael Canedo. Já Cibalena, personagem de Cacau Protásio, não é nada lá muito original e apenas cobre o papel que seria de Edileuza.
Muitas piadas se perdem para quem não era assíduo telespectador da série original, como alguns bordões e piadas internas – principalmente sobre o laquê de cabelo de Aracy Balabanian. No resto, a trama se perde em cenas sem sentido e tem um desfecho clichê , mas que ao menos nos dá o gosto de ver a película chegar ao fim. No final das contas, o longa é uma piada velha, que talvez fosse melhor não ter sido recontada.
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