Tag: Marcos Palmeira

  • Crítica | A Noite da Virada

    Crítica | A Noite da Virada

    A Noite da Virada é um longa-metragem brasileiro que tenta resgatar a tradição dos humorísticos típicos da época das chanchadas, por meio de uma comédia rasa, de costumes, unindo a esse aspecto uma tradição do cinema hollywoodiano de usar data festivas para fazer humor.

    O filme de Fábio Mendonça mostra Ana (Julia Rabello), casada com Duda (Paulo Tiefenthaler), e vizinha de Rosa (Luana Piovani), que por sua vez é casada com Mario (Marcos Palmeira). Ana acabou de se mudar, e para inaugurar sua casa nova, ela chama seus colegas de trabalho, apesar de não contar com nenhuma ajuda monetária de seu marido, que é incapaz até de ajudá-la a arrumar a casa.

    O maior senão do filme é achar que não tendo uma trama minimamente interessante (ou que provoque curiosidade em seu espectador), seria suficiente ter um elenco cheio de famosos da internet. Além dos já citados, João Vicente Castro, Daniel Furlan e Juliano Enrico interpretam os papéis de drogados super caricatos.

    O roteiro de Cláudia Jouvin e Pedro Vicente aposta em uma trama de traições e confusões, além de claramente referenciar a trilogia Se Beber Não Case! de Todd Phillips, mas aqui soa apenas como mais uma cópia de outros humorísticos que deram certo, já que não há muita ousadia nos eventos que deveriam acontecer. Quase toda a trama se passa no banheiro da tal festa de virada de ano, e as poucas piadas legais estão ali com Furlan e Enrico, que produzem conversas nonsense (aparentemente improvisadas), e se valem do entrosamento dos dois em O Último Programa da Mundo.

    Mendonça tem muitos elementos potencialmente hilários, mas não sabe explora-los, pelo contrário, sua aposta acaba sendo nas superstições típicas de virada de ano, que infelizmente não funcionam.

  • Crítica | Minha Vida em Marte

    Crítica | Minha Vida em Marte

    Mônica Martelli produziu e protagonizou em 2014 o filme Os Homens São de Marte e é Para Lá Que Eu Vou, que adaptava sua peça homônima. Em 2018, com a ajuda Susana Garcia, que dirige este e também a nova peça, Minha Vida em Marte mostra Fernanda (Martelli) com uma filha e um casamento em crise, já sem conseguir sentir tesão por seu parceiro, Tom (Marcos Palmeira). A maior parte do tempo, Fernanda passa com Aníbal (Paulo Gustavo), seu amigo e companheiro de organização de casamentos.

    A crise conjugal da protagonista piora quando se verbaliza o desejo da mulher de se retirar desse relacionamento, e apesar  de obviamente ter muitas tiradas cômicas, o caráter é bastante diferente do primeiro filme, mais sério e reflexivo sobre a questão do olhar feminino. Incrivelmente, o protagonismo é dividido, para muito além da arte do pôster. Os dois personagens se complementam. Outro ponto interesse é a forma como os personagens carregam o roteiro, as piadas não são tão histriônicas.

    O filme foge de caretice, e se propõe a desconstruir a ideia de que  o pensamento feminino em busca de um par é fútil, ainda que obviamente tanto Fernanda quanto Aníbal passem boa parte do filme tentando encontrar alguém especial. Próximo do final, o roteiro passa a ser mais quadrado, apela para clichês de separação e reconciliação, mas mostra uma Fernanda mais madura, menos dependente emocionalmente e mais dona de seu próprio destino.

    Apesar da apelação a um discurso de auto-ajuda, Minha Vida em Marte é bem mais maduro e inteligente que o seu antecessor, e principalmente, menos machista. A mudança na direção funcionou e o tom do humor faz com que o longa soe melhor, além do fato de que o filme valoriza demais a parceria e a química entre Martelli e Gustavo, que funcionam muitíssimo bem como dupla cômica, e superam a cafonice do monólogo final.

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  • Crítica | Os Homens São de Marte e é pra Lá Que Eu Vou

    Crítica | Os Homens São de Marte e é pra Lá Que Eu Vou

    Depois  de trabalhar em obras audiovisuais ambientadas em universos mais maduros e adultos, Marcus Baldini dá vida a versão cinematográfica do monologo cômico protagonizado por Mônica Martelli. A história de Os Homens São de Marte e é Pra Lá Que Eu Vou foca-se na vivência de Fernanda, vivida pela autora da peça, que vivendo a meia-idade, não consegue achar um homem para chamar de seu, tendo na ironia de trabalhar como mestre de cerimônias, orquestrando casamentos, a certeza de que sua vida é miserável sem algum ser do cromossomo Y.

    Tudo que envolve Fernanda lembra – e relembra – o quão mal ela está por não ter nenhuma companhia ao fim do dia, desde as frases de aceitação da solteirice, às amigas igualmente “soltas” e sua equipe, formada por mil estereótipos, tendo em Anibal o maior dos arquétipos batidos, com Paulo Gustavo transbordando os trejeitos homoafetivo de péssimo gosto, semelhante a nove entre dez trabalhos em que o humorista busca ser um ator.

    As reclamações da heroína se contradizem, pelos homens que passam por si e pelas oportunidades que passam por sua porta. Suas desventuras incluem encontros românticos com homens de belos corpos e de estirpe alta, sujeitos endinheirados que querem desesperadamente o seu corpo, mas que somente o têm em momentos especiais, em meio a hotéis caríssimos, flats e coberturas localizadas em prédios de luxo. Fernanda parece saber se esgueirar por estes locais, uma vez que toma todo o cuidado para estar sempre bela, se maquiando em espaço físicos minúsculos, para não aparentar ressaca ou transparecer a idade que realmente têm, pois mesmo com todas as qualidades possíveis ela ainda se mostra insegura, com muitas falas trôpegas, repletas de receios, mas que escondem uma ânsia por ter o tal do “homem perfeito”.

    A carência da protagonista é tamanha que qualquer alento significa mil fantasias, planos de fazer seu futuro com os homens com quem dorme ou os que meramente se aproximam dela. O comportamento obsessivo de Fernanda parece afastar as possibilidades de amor. Todos os seus esforços e desejos envolvem agarrar um homem para toda a vida, ainda que esteja longe demais  disso, já que a ansiedade a limita a somente atrair pessoas distantes demais do que ela realmente quer.

    No entanto, é notório que qualquer homem mais velho que se aproxima dela logo parece o par perfeito, sonhadores, inteligentes e interessantes. Qualquer engodo a pega, mesmo quando as noções artísticas do sujeito sejam toscas e cafonas, e que não saltam aos olhos dela, mesmo com seu ofício que se pauta em arte. Seu deslumbre não é justificado em momento algum, a não ser pela ostentação financeira de quase todos os parceiros sexuais dela, homens ricos os quais ela parece querer comprá-los apenas com o luxo, já que ela se põe a venda o tempo inteiro.

    A comédia fútil não consegue entreter, tampouco faz rir; situações forçadas que se repetem demais, reprisando momentos de outros humorísticos românticos. Até a personalidade de seu público não é totalmente encontrada, já que o roteiro não sabe a quem agradar, pois pouco funciona para qual for o sexo do visualizador. A cada novo parceiro, Fernanda promete que não fará sexo na primeira tentativa do sujeito, mas sempre cede, refirmando todo o caráter de reprise da fita, se auto-referenciando o tempo todo, mesmo que o exercício seja pobre.

    A beleza de Mônica Martelli é um dos poucos pontos positivamente destacáveis da obra, em meio aos eventos que louvam a trivialidade e a completa ausência de conteúdo, além de julgar a rotina de gente simples como algo menor, num preconceito socioeconômico enorme. As brincadeiras que funcionavam no teatro ficam gritantemente excludentes no grande ecrã: O que deveria ser uma comédia leve acaba sendo um freak show de discriminações, que esconde todos os pré-julgamentos atrás de uma mensagem de busca por amor, um amor que não consegue aceitar os seres como eles são.

    O oportunismo e a vontade louca de agarrar um homem para sempre que Fernanda guarda banaliza o romance e o amor; o sentimento deixa de ser algo raro para servir unicamente ao egoísmo dela, movido pela ânsia por não ficar sozinha, seguindo uma cartilha de comportamento baseada no lugar comum e na sabedoria popular, mas sem qualquer conteúdo ou substância. Exibindo uma enorme variação de clichês, vendendo uma mensagem de autoajuda que tem no machismo exacerbado a sua âncora, Os Homens São de Marte e é Para Lá Que Eu Vou é uma história superficial e tola, um evento que poderia ser interessante, mas que se atém demais a forma, e pouco ao conteúdo, refém de um final feliz num conto de fadas que mal consegue abraçar uma moral, ou uma mensagem minimamente sofisticada.

  • Crítica | E aí… Comeu?

    Crítica | E aí… Comeu?

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    Fernando (Bruno Mazzeo) é um arquiteto que está passando por problemas emocionais, consequência do fracasso do seu casamento. Honório (Marcos Palmeira) é um chefe de família que suspeita estar sendo traído por sua esposa Leila (Dira Paes). Fonsinho (Emilio Orciollo Neto), por sua vez, é um bon vivant que tenta emplacar a carreira como escritor, mas nunca conseguiu terminar um livro sequer e, ainda por cima, nunca conseguiu desvendar os segredos do amor. Os três são amigos de infância e estão sempre juntos no Bar Harmonia para falar da vida, dos empregos e, principalmente, das mulheres.

    “E aí…comeu?” é uma adaptação da peça homônima escrita por Marcelo Rubens Paiva, que nos apresenta de uma maneira bem humorada uma visão bastante intimista do universo masculino ao se focar na maior parte do tempo nos diálogos dos três amigos que se reúnem em um bar. O ambiente descontraído faz com que as conversas sejam sempre escrachadas, mesmo quando estão falando dos assuntos sérios uns dos outros, como uma forma de cada um deles relaxar e descontrair dos seus problemas do cotidiano.

    O filme é bem sucedido quando os personagens estão tendo um “papo de boteco” e os homens podem sentir-se bastante à vontade com a forma como os personagens interagem entre si. Porém, toda essa coerência apenas se resume nas cenas que se passam dentro do bar, pois o roteiro se demonstra fraco quando cada um volta para sua realidade e, a partir dali, o humor resta um pouco forçado.

    O destaque da atuação fica por conta de Marcos Palmeira, que rouba a cena durante todo o filme, reflexo da excelência da atuação do mesmo. Por outro lado, o humorista Bruno Mazzeo decepciona em mais uma tentativa de atuar nas grandes telas. A decepção reside no fato de que sua atuação é de certa forma limitada, o que não é diferente nesta produção. No lado feminino, Dira Paes faz uma excelente participação, mesmo tendo poucos momentos durante o filme.

    É visível que o filme dirigido por Felipe Joffily com certeza deve fazer mais sentido e ser mais engraçado no formato de teatro, o que se percebe em alguns recursos de narrativa utilizados no filme. Um exemplo disso são duas cenas em que Marcos Palmeira aparece no plano principal, conversando com o espectador em tom humorístico sobre a cena que está acontecendo atrás dele. Com certeza um excelente recurso de narrativa, principalmente pela proposta da história, mas que por ter sido utilizado apenas em dois momentos curtos e distintos do filme, acabou dando a impressão de que ficou jogado e mal utilizado. Na peça, tal recurso com certeza seria mais coerente e melhor colocado, pois o ator estaria tendo um contato direto com a plateia a sua frente.

    “E aí…comeu?” tem uma narrativa de cotidiano que poderia ter dado certo, mas peca em detalhes técnicos e opções de roteiro que o fizeram apenas parecer mais um filme brasileiro de qualidade mediana, como a maioria das comédias nacionais que podemos ver por aí. Uma comédia que reflete um cinema nacional comercial que não se arrisca em roteiros mais elaborados e que se perde em frases de efeitos e meia dúzia de cenas realmente engraçadas. É apenas mais do mesmo.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.