Resenha | Tex Gold: O Profeta Indígena
A minha experiência como leitor de quadrinhos começou numa banca perto da minha casa. Todo domingo a minha mãe me dava o direito a um gibi, mas a tarefa de escolher nunca foi assim tão simples. Eu sempre acabava com alguma edição nova do Homem-Aranha ou do Batman, mas sempre tive uma coceira de entender um dos títulos que ficava nas partes mais altas, já que parecia mais um dos filmes de faroeste da coleção do meu tio Marcos que um quadrinho. A curiosidade sempre fazia folhear uma, mas tudo parecia muito mais adulto, e menos colorido, do que eu conseguiria entender. Uns vinte anos depois eu tenho contato com o número 1 de Tex Gold, coleção lançada pela editora Salvat.
A edição é bem diferente das minhas memórias de infância, além de vir num formato americano e com capa dura, as histórias são todas coloridas. Quando criança, parte da impressão de que as histórias vinham de outra época era pela falta de colorização das páginas, que deixavam as coisas mais próximas de Na Pista do Traidor do que com Três Homens em Conflito, ao menos na minha cabeça. E os próprios temas e personagens de Gian Luigi Bonelli são algo entre os dois filmes, entre a pureza dos filmes mais clássicos de faroeste ao desencanto do western spaghetti.
A primeira edição da série traz a história O Profeta Indígena, roteirizada por Claudio Nizzi e desenhada por Corrado Mastantuono. A discussão de temas como o fanatismo religioso e a indução de um povo ao conflito através dessa arma é mais atual do que nunca. Há uma esforço em não demonizar os povos indígenas que é bastante atual, mas que às vezes perde um pouco a mão e os caracteriza como “ingênuos”, revivendo um pouco a perspectiva do “bom selvagem” e um racismo ainda enraizado ao se representar esses povos. Quanto a arte, tanto o traço quanto as cores revivem ainda mais a ideia de que estamos lendo algo trazido do passado. O estilo é uma releitura do utilizado pelo criador do Tex, Aurelio Galleppini, trazendo o realismo tanto nos cenários quanto nos personagens. Isso significa que vamos ter um uso de sombras e hachuras que pode incomodar quem está acostumado com os quadrinhos mais novos, mas que cumpre o seu papel perfeitamente.
Ler Tex é como pegar aquele filme de faroeste clássico, às vezes você alguma memória gostosa, às vezes apenas uma curiosidade muito grande, mas que dificilmente o decepciona. E de quebra sai com com a tradicional música do Ennio Morricone tocando na cabeça, querendo um duelo ao meio-dia no centro da cidade.
Compre: Tex Gold: O Profeta Indígena.
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Texto de autoria de Caio Amorim.
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