Crítica | xXx: Reativado
Uma década e meia depois do início da franquia, o terceiro episódio de Triplo X troca a base de suas referências, saindo das homenagens à 007 para reverenciar Ethan Hunt, em especial os filmes Missão Impossível, de Brian de Palma, e o recente Missão Impossível: Nação Secreta, de Christopher McQuarrie. O diretor de Eu Sou o Numero 4 e O Quarto dos Esquecidos, D.J. Caruso toma um cuidado especial para em seu xXx: Reativado renovar também o mote das aventuras mentirosas que usaria de inspiração, fazendo um compilado honesto de quase todos os produtos de ação que fizeram sucesso pós 2002, ano do primeiro filme da série.
O preâmbulo do filme é diferente da parte um e do malfadado Triplo X – Estado de Emergência, com o recrutador Gibbons (Samuel L. Jackson) fazendo seu trabalho, ao conversar com o jogador de futebol brasileiro Neymar, sendo esse somente um dos muitos famosos que fazem ponta no filme. Uma trama misteriosa se apresenta, pondo ingredientes de mistério, conspiração e quebra de segredos de Estado em pauta. A crise faz Jani Marke (Toni Collette) – a nova mandatária do projeto Triplo X – tentar recrutar Xander Cage (Vin Diesel), a fim de tentar reaver um artefato que controla os satélites em volta do globo terrestre, bem como informações básicas de espionagem internacional.
Esses satélites são usados como armas, por um grupo terrorista, que as faz cair sobre a superfície do planeta, fato que faz um número grandioso de vítimas. As coincidências de roteiro (cujo texto está a cargo de John D. Brancato e Michael Ferris) tratam não só de repetir os clichês e frases de efeito do primeiro filme, como também põe a frente duas equipe de agentes, uma de heróis e outra de antagonistas, composta por outros astros, como Donnie Yen, que faz Xiang, Tony Jaa (Talon) e pela voluptuosa Serena (Deepika Padukone). Aos poucos é revelado que a origem dos vilões e mocinhos não são tão diferentes, e esse fato serviria como a gênese de um dos muitos plot twists do texto.
Há ainda espaço para banalidade na discussão a respeito da paranoia extrema do mundo atual, como o momento em que Serena e Cage discutem os significados de suas tatuagens, mas incrivelmente há uma conexão com o cinema de ação atual que não foi vista em filmes que deveriam ser mais inspirados, a exemplo de 007 Contra Spectre e Jason Bourne.
Os exageros típicos dos filmes de super espiões não chega a ser incômodo, uma vez que Reativado mergulha tão bem dentro de seu escapismo que até a subversão da suspensão de descrença não soa tão pueril e infantil quanto nos outros dois capítulos. Toda a pretensão de parecer um panfleto adolescente e pseudo revolucionário típica da primeira história escrita por Rich Wilkes dá lugar a um filme de ação divertido e que não tenciona ser mais inteligente do que realmente é. Até os efeitos de Deus ex machina são críveis dentro do produto final, uma vez que fazem troça com o clichê das histórias de ação, que resgatam personagens secundários com uma facilidade atroz.
Caruso não ignora sequer os defeitos de seus antecessores, mostrando em uma das cenas finais uma explosão que faz lembrar os piores momentos dos filmes de Rob Cohen e Lee Tamahori, referenciando isso sem perder a espontaneidade ou identidade do seu próprio filme.
Se Diesel peca por não ter qualquer presença visual ou carisma, seus coadjuvantes ajudam a manter a atenção do espectador em alta, especialmente na atuação de Yen, que se demonstra um anti-herói com muitas camadas apesar de seu pouco tempo de tela. Mais do que isso, as sequências de ação fazem lembrar as que Paul Greengrass começou a fazer em A Supremacia Bourne e o suspense do longa emula a boa construção que Christopher Nolan deu a trilogia Batman. O cineasta consegue resgatar os bons momentos de sua própria carreira, quando dirigia episódios de The Shield, conseguindo enfim harmonizar a questão do Grande Irmão presente em 1984 sob uma roupagem mais moderna, que explora evidentemente só a superfície do conceito mas que não soa estúpida para as plateias mais ansiosas por boas tramas. No quesito ação, xXx: Reativado é um surpresa muitíssimo agradável, mesmo para quem não é aficionado por Vin Diesel ou Xander Cage.