Resenha | Batman: Terra Um
Após fazer a competente reformulação do Superman – em Origens Secretas, re(re)-contando a origem do personagem, e também a frente de Action Comics, a partir do número 866, em sagas excelentes como Brainiac (em que retornava ao vilão da Era de Prata), Nova Krypton e O Mundo Sem Superman – Geoff Johns junto ao seu fiel escudeiro Gary Frank assumiu a responsabilidade de dar uma “nova cara” ao morcego de Gotham City, atualizando alguns de seus temas e englobando referências do personagem fora dos quadrinhos – especialmente o que saiu nos últimos 25 anos. Batman: Terra Um teria em seu caráter uma visão nova sobre a mitologia do personagem, menos heroica, mais crível, e com uma grande liberdade aos autores da Graphic Novel.
A sequência inicial, especialmente nas primeiras páginas, é parecida visualmente com a primeira cena do homem-morcego no filme Batman de 1989, de Tim Burton com Michael Keaton no elenco, até, é claro, a queda do atabalhoado vigilante. Se na película oitentista o encapuzado já estava talhado, este se mostra um ainda inexperiente justiceiro.
O passado dos Wayne é reimaginado de uma forma curiosa, com Thomas Wayne como candidato a prefeitura de Gotham – e portanto sendo um alvo mais plausível para a criminalidade da cidade – Alfred sendo um antigo amigo seu, ex-fuzileiro, manco e com muita personalidade, mostrando-se um sujeito contestador ao contrário do servil mordomo da família, discutindo o estilo esbanjador do seu amigo Wayne.
Os olhos de Bruce após o fatídico assalto, também no cinema, é de uma súplica sem tamanho. É impossível para o leitor não sentir um misto de misericórdia e apreensão pelo menino. É tudo muito rápido, mas a mensagem é passada fidedignamente. Junta-se a volúpia pela vingança, o passado belicoso de Alfred e o código ético militar que este passa ao jovem órfão, e a receita para um louco (vestido como um mamífero voador) está pronta.
O background de outras figuras canônicas é interessante, desde Harvey Bullock, mostrado como um fanfarrão apresentador de televisão, até Barbara Gordon, uma prestativa filha de um detetive de polícia que prossegue vivendo na cidade mesmo a contragosto de seu pai – os detalhes da historiografia dos personagens são implícitos, ou mostrados aos poucos, como a ausência da esposa de Jim Gordon, as referências aos Arkhams, inclusive justificando alguns dos problemas enfrentados por Bruce.
O conjunto de referências de Johns faz uma amálgama com os filmes, além das já citadas histórias. Há uma evolução do que seria Oswald Cobblepot em Batman – O Retorno sem a monstruosidade, e o rejuvenescimento de Lucious Fox com função parecida com as que exerce nos filmes de Chris Nolan. Não é segredo para ninguém a relação de Johns com os cinemas de super-herói, especialmente na sua parceria com Richard Donner, participando efetivamente do filme do Superman de 1978 entre outras produções do diretor – Donner ainda escreveria junto ao roteirista algumas das boas histórias da passagem do roteirista pelo título do herói kriptoniano.
As mudanças de comportamento desta versão de James Gordon são muitas, mas nenhuma delas gratuita. Sua malfada nova versão tem um boa justificativa para comportar-se mais amenamente com criminalidade, mas ao final, se redime de seus atos de complacência com os moralmente falhos.
A relação entre Alfred e Bruce, ponto alto da história lembra muito o mentor/pupilo presente em Batman do Futuro, com um idoso e aposentado Wayne e um novíssimo Terry McGuinnis, tão impulsivo e sedento por justiça quanto o protagonista desta. A parte final é eletrizante e tem lutas muito bem desenhadas por Gary Frank. Batman: Terra Um é competente no que se propõe, apresentar o personagem a novos leitores com alguns fatos canônicos dos mais de 70 anos de existência deste, mas não contém em si nada de extraordinário, é só um massa véio bem feito e que não agride os fãs mais ardorosos.