Resenha | Aquaman: As Profundezas
A quantidade de personagens no universo da Dc Comics não é proporcional a quantidade de roteiristas da casa que entregam narrativas acima da média geral. Um fator que resulta em um movimento natural em que personagens oscilam dependendo do texto. Sem dúvida, grandes personagens são dedicados aos roteiristas de renome, ainda que novos talentos em alta recebam novas revistas como uma espécie de desafio, para provar a criatividade. Assim como há roteiristas que se destacam por se manterem na média, sem poucas histórias significativas no currículo, mas com tramas divertidas. Não há como suprir uma demanda alta sempre a procura de grandes histórias.
Dentre os personagens de grande destaque do estúdio, principalmente os que participam ou participaram da Liga da Justiça, Aquaman sempre foi um motivo de piada. O riso retoma uma época antiga em que o desenho Super-Amigos e sua abordagem infantil ajudou a popularizar e ridicularizar o herói. Como poucos autores investiram em uma boa história para a personagem, o herói nunca ganhou o destaque merecido. A fase de Peter David, lançada em 1994 a 1998, é uma dessas exceções. Porém, no Brasil, as histórias foram lançadas no mix da Melhores do Mundo, na época dos formatinhos da Abril, e nunca relançada. Em 2006, na fase Um Ano Depois da casa, Kurt Busiek tentou recriar a personagem, mas a série foi logo cancelada.
A chegada dos Novos 52 ao menos trouxe a possibilidade de analisar alguns personagens que há tempos não obtiam destaque e reconfigura-los. Com essa fase encerrada, resultando no distanciamento necessário para análise, é possível observar novos bons personagens como Batwing e Batman e autores que, em meio a uma fase criticada pela ideia de reboot, trouxeram um bom material como Flash de Francis Manapul e Aquaman escrito por Geoff Johns.
Relançado pela Panini Comics em edição encadernada em 2015, As Profundezas compila os seis primeiros números de Aquaman, apresentando três histórias iniciais: a incrível O Fosso, demonstrando como um bom roteirista não precisa de longas sagas para uma trama competente, e Perdido e Abandonado, focados em Mera.
Johns trabalha a própria má-fama do herói dentro da história: um homem, rei dos mares, considerado motivo de riso pela população por ser considerado alguém sem nenhum poder bem delineado. A situação se modifica quando seres humanoides surgem do mar e a polícia pede ajuda do soberano para o caso. Ao contrário das megas sagas, em apenas quatro partes, o roteirista demostra a renovação de seu Aquaman e a qualidade de sua obra. Apresentando um soberano cansado por não ser considerado heroico, ao mesmo tempo em que, durante a ação, demonstra habilidades além da malfalada telepatia marítima. Justificando porquê o personagem integrou diversas formações da Liga da Justiça. Assim como mostra a potência de Arthur, também desenvolve Mera no mesmo patamar, uma rainha poderosa, capaz de controlar a própria água.
As cenas de ação na trama são pontuais, realizadas com qualidade a favor da narrativa, uma boa história contrapondo o herói e o vilão de maneira tradicional. Ao inserir a trama em primeiro plano, o próprio leitor vai reconstruindo o Aquaman de acordo com as ações em cena observando sua inteligência, a superforça e outras características capazes de derrubar o mito de um herói bobo.
Aquaman – As Profundezas é um dos melhores inícios da fase Novos 52, capaz de reescrever a personagem, inserindo-a no merecido panteão de grandes heróis da Dc Comics. Geoff Johns faz jus ao seu sucesso, demonstrando conhecimento da personagem e domínio narrativo para criar uma história inicial robusta com uma trama simples, mas eficiente, e cenas de ação pontuais que demonstram que a fase do Aquaman perdedor foi deixada de lado.
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